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Cena de O Poderoso Chefão | Divulgação
Cena de O Poderoso Chefão| Foto: Divulgação
  • Cena de Hitman, um dos vários games retirados da web na China

Pequim - Não importa se é religião, entidade ambiental ou organização sem fins lucrativos, o governo chinês sempre foi muito cuidadoso com qualquer atividade que não consegue controlar diretamente.

E agora a "listinha" ganhou mais um item: a simulação de crime organizado.

Na semana passada, o Ministé­rio da Cultura da China emitiu no­­ta banindo jogos on-line com te­­mática ou personagens predispostos a participar de organizações cri­­­minosas, como chefões da má­­fia, gangues de rua ou qualquer tipo de atividade relacionada aos hooligans.

O decreto, que promete aplicar "pe­­nalidades severas" para transgressores – sem dizer quais são es­­sas penalidades –, também proíbe que sites publiquem ou divulguem links para jogos da internet que glorifiquem o crime organizado.

Tais jogos, de acordo com o ministério, "contemplam comportamentos anti-sociais como matar, bater, furtar e estuprar, e ameaçam e distorcem gravemente a ordem social e os padrões da moral, facilmente colocando jovens sob influência prejudicial".

Na terça-feira, um grande nú­­me­­ro de jogos populares, entre eles "Godfather" (O Poderoso Chefão), "Gangster" e "Mafioso Hitman" ha­­­viam sido retirados do ar, apesar outros jogos violentos ainda estarem disponíveis.

A determinação não causa surpresa, tendo em vista a atual guerra do governo chinês contra a pornografia na internet e outros sites que possam ser considerados "socialmente perturbadores".

Neste ano, mais de mil websites foram banidos por conterem conteúdo considerado vulgar, apesar de alguns críticos reclamarem que sites acadêmicos ou de serviços de utilidade pública que falavam sobre doenças sexualmente transmissíveis também foram envolvidos na medida.

Outros esforços para controlar a internet, no entanto, não conseguiram atingir seus objetivos. Em junho, a China expediu um mandato que exigia que todos os computadores novos vendidos no país incluíssem a instalação de um filtro, chamado de Green Dam-Youth Escort. O governo insistiu que o programa iria apenas servir para bloquear o acesso à pornografia, mas críticos apontaram que o programa também poderia ser utilizado para bloquear o acesso a sites de conteúdo político. O governo chinês cedeu às pressões dos fabricantes de computadores e também dos usuários e prorrogou a obrigatoriedade para este mês.

Ainda não está claro se a proibição de jogos de computador com temática relacionada à máfia ou ao crime irá atiçar da mesma forma a fúria dos 200 milhões de ga­­mers on-line da China. Alguns pro­­fissionais da área, porém, não pa­­recem muito preocupados com isto.

Chen Yongjin, proprietário de uma empresa de jogos on-line em Pequim, disse que os desenvolvedores ainda podem criar jogos com sangue e violência suficientes para alegrar aos clientes sem utilizar temas considerados "ofensivos" pelo governo chinês. "O problema é quando a matança está relacionada à vida real", declarou Chen, que pediu que não fosse publicado o nome de sua empresa.

Os jogos on-line são absurdamente lucrativos na China. Em 2008, a indústria do setor registrou faturamento total de 18 bilhões de yuans (algo como US$ 2,64 bi­­lhões), o que representou 77% de au­­­mento com relação a 2007, conforme apontou uma associação de empresas desenvolvedoras de jogos na China.

Os especialistas da indústria revelam que pelo menos 90% de todos os jogos on-line na China contêm algum tipo de violência, quer ela envolva mestres de kung-fu homicidas, hobbits espadachins ou monstros com apetite por carne humana.

"Se os jogos se restringirem ao fantástico ou mitológico, não de­­veremos ter problemas", apontou Chen.

As novas regras refletem um aumento na preocupação com os efeitos perniciosos dos jogos de computador sobre a juventude chinesa. Existem acampamentos de verão para adolescentes que gas­­­tam muito tempo na web e, em Xangai, voluntários monitoram lan houses em busca de jovens com menos de 18 anos.

De acordo com uma pesquisa do Congresso Nacional do Povo, mais de 10% dos jovens na China estão "viciados" em internet, apesar de vários psicólogos ocidentais questionarem a validade de tal diagnóstico. Na China, a definição inclui crianças que passam mais de seis horas por dia na frente da tela do computador e evitam dormir à noite, ter interação social ou realizar atividades escolares. Na semana passada, a Associação Jo­­vem da China para o Desenvol­vi­mento da Internet publicou um relatório que alega que 70% dos crimes juvenis são "induzidos pelo vício na internet".

Um hospital psiquiátrico na província de Shandong divulgou uma nova solução para tal dependência: terapia de eletrochoque. O Hospital de Saúde Mental Linyi declarou ter tratado 3 mil jovens durante um período de 4 meses deste ano, conforme um artigo do jornal China Youth Daily. Agentes de Saúde em Pequim, entretanto, não ficaram contentes com a notícia e proibiram o tratamento.

Tradução: Thiago Ferreira

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