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O aumento das exportações nos países da América Latina depende mais da diminuição dos custos com transporte do que da redução de tarifas. É o que mostra a pesquisa Desobstruindo as artérias: o impacto dos custos de transporte sobre o comércio exterior da América Latina e Caribe, produzida pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

De acordo com o estudo, um corte de 10% no valor das tarifas aumentaria em menos de 2% o volume de exportações dos países da região, enquanto uma redução também de 2% no custo dos transportes aumentaria as vendas externas em 39%. O economista do setor de comércio e integração do BID Maurício Mesquita Moreira acredita que uma política comercial efetiva precisa ir além das questões tarifárias.

Os custos, sejam portuários ou aéreos, são duas ou três vezes mais altos [na América Latina] do que em países como Holanda e Estados Unidos. Apesar de você não poder reduzir os custos do transporte a zero você tem um espaço, uma gordura enorme para queimar.

O relatório mostra que, se países da América Latina reduzissem em 10% os custos com frete, haveria um crescimento de mais de 20% no comércio da região caso a redução fosse em tarifas, o aumento seria de apenas a metade. A diminuição dos custos de transporte, segundo a pesquisa, beneficiaria produtos manufaturados produzidos no Brasil, no Chile, no Equador, no Peru e no Uruguai, além das exportações de minérios e de metais na Argentina, na Colômbia e no Paraguai.

Moreira lembra que a América Latina chega a gastar 7% do valor das exportações com frete quase o dobro do que é gasto nos Estados Unidos, por exemplo. Para o Brasil, o custo equivale a 5 5% do preço do produto.

Grande parte dessa diferença tem a ver com os produtos que a gente exporta. A América Latina em geral e o Brasil em particular exportam commodities, produtos pesados que custam mais para transportar. Você vai, inevitavelmente, ter uma proporção de preço maior transportando soja do que chips. Transporte é mais estratégico para a gente [Brasil] do que para um país como os Estados Unidos ou Holanda.

O chefe de operações do BID no Brasil, Jorge Luís Lestani, destaca que o caso considerado mais crítico é o de mercadorias da indústria alimentícia, em que o produtor chega a receber apenas 4% do preço pago pelo consumidor final. É a parte não visível do iceberg, diz.

O presidente do Conselho de Infra-Estrutura da Confederação Nacional do Comércio (CNI), José de Freitas Mascarenhas, afirma que os portos representam o centro de maior ineficiência das exportações diante de impasses institucionais, por exemplo, para liberar investimentos privados. Para ele, o diagnóstico do BID representa algo em que vínhamos batendo há muito tempo e que precisa de uma solução efetiva.

E não é por falta de capacidade para fazer isso. O setor de energia tinha uma situação semelhante. Houve intervenção, o setor voltou a planejar e ordenar o processo. Na área de transporte, infelizmente, não temos planejamento ou gestão. Isso resume em um custo de infra-estrutura que está prejudicando a competitividade do país."

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