• Carregando...

A melhora das perspectivas para a dívida pública brasileira esperada para este ano, evidentemente, não se limita a 2007. Pelas contas do Crédit Suisse, se o superávit de 4,25% for mantido nos próximos anos, a relação dívida/PIB cai para 40,3% em 2010, final do governo Lula, e para 26,2% em 2014.

Em julho de 2002, no auge da crise da primeira eleição de Lula, Ilan Goldfajn, então diretor do Banco Central, publicou um trabalho para tentar convencer o mercado de que a dívida pública brasileira não era explosiva. O seu cenário básico era de que a relação dívida/PIB estaria em 55,9% en 2006 e 49,8% en 2010. Goldfajn, que hoje está à frente da Ciano, empresa de gestão de recursos, não contava com a surpresa favorável de que o futuro governo petista produziria um superávit primário médio de quase 4,5% entre 2003 e 2006. Ele trabalhou com a hipótese de um superávit constante em 3,75%.

Mesmo levando este fator em consideração, o futuro revelou-se bem melhor do que o seu cenário básico. Hoje, a dívida pública é totalmente imune a eventuais disparadas do dólar, já que o setor público tornou-se credor na moeda americana. A exposição da dívida a altas da Selic, a taxa básica de juros, também caiu bastante, e hoje está em cerca de 36%.

Mas o principal fator que levou à melhora recente nas expectativas sobre a dívida pública foram os juros. "Há dois anos, não se esperava que a taxa de juros estivesse no patamar atual", diz Nílson Teixeira, economista-chefe do Crédit Suisse. Em janeiro de 2006, a previsão média do mercado para a Selic no final de 2007 era de 13,63%. No final de dezembro, havia caído para 11,72%. O Crédit Suisse prevê 11,25%. Esta queda na projeção dos juros, por sua vez, está ligada a uma redução da inflação maior do que o esperado. No início de 2005, a previsão média era de um IPCA de 5,5% em 2006. Porém, o índice deve fechar próximo de 3%.

A grande maioria dos economistas ligados ao mercado financeiro, porém, acha uma má idéia o governo reduzir o superávit primário para 3,75% do PIB em 2007. Eles não gostam muito de alardear que a vulnerabilidade da dívida pública diminuiu, e costumam enfatizar que ela está estacionada num nível alto, próximo a 50% do PIB, desde 2004. O fato, porém, é que os números destes mesmos economistas mostram que a relação dívida/PIB vai entrar numa trajetória consistente de queda a partir de 2007, mesmo que o superávit caia para 3,75%. Mas há um outro argumento, mais convincente, por trás da má vontade do mercado com a redução do superávit: muitos analistas vêem a ânsia do governo por gastar mais como o principal entrave à aceleração do crescimento econômico.

Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN Amro para a América Latina, e ex-diretor do Banco Central (BC), acha que uma eventual redução do superávit primário para 3,75% não seria um problema em termos de aumentar o risco da dívida pública, mas representa mais um freio no ritmo de crescimento do país. O pior da redução seria dar continuidade à tendência explosiva de crescimento dos gastos do governo: "É o setor público roubando recursos do setor privado", ele diz.

Goldfajn vai mais longe, e acha que uma mudança adversa do cenário internacional ou interno, que desacelere ainda mais o crescimento, pode levar a relação dívida/PIB a se manter no nível elevado de hoje. Ele considera que é hora de aproveitar o bom momento para reduzir mais rapidamente a dívida como proporção do PIB.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]