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Controvérsia

Tese de que represa anularia poluição não é unânime

O pós-doutor em Geoquímica André Bittencourt responde pela análise da mina no estudo de impacto ambiental da usina. Bittencourt hoje integra o Lactec – centro de estudos ligado à Copel, que venceu a licitação para construir a hidrelétrica de Mauá, no Rio Tibagi, entre Telêmaco Borba e Ortigueira. Ele diz que a água da represa impediria o contato dos resíduos de carvão com o oxigênio, o que provoca a liberação de produtos tóxicos.

Também geoquímica, a professora Maria Josefa Yabe discorda. "O que acontece é que o carvão vai liberando metais pesados para a fase aquosa, quando em contato permanente com a água." Para ela, os rejeitos minerais permitiriam a dispersão de metais pesados, "contaminando severamente o rio".

Na quinta-feira, o secretário do Meio Ambiente, Lindsley Rasca Rodrigues, vistoriou a mina desativada e externou preocupação com os riachos com água ácida, montanhas de rejeitos de carvão e presença marcante de enxofre. Ele disse que a situação era um complicador para a liberação da licença ambiental, somando-se aos 71 condicionantes já estabelecidos pelo governo para autorizar a obra. A construção tem 70% do financiamento garantido pelo BNDES e o governador Roberto Requião, que voltou de viagem no início da semana, já disse considerá-la estratégica para o Paraná e o país. (KB)

Menos de uma semana depois de anunciar que a área de inundação da usina hidrelétrica de Mauá precisaria de um estudo minucioso de água e de solo por conta da existência de uma mina desativada de carvão, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) disse ontem ter encontrado a solução para o grande passivo ambiental. A assessoria de imprensa informou que a represa abafará o efeito dos dez hectares de rejeitos de carvão e de metais pesados que são liberados às margens do rio Tibagi, em Telêmaco Borba, nos Campos Gerais.

O anúncio foi feito na véspera da audiência pública que será realizada hoje na Assembléia Legislativa, a partir das 8h30, para discutir o impasse ambiental e outros aspectos polêmicos da construção da hidrelétrica de Mauá.

Técnicos consultados pela Gazeta do Povo não estão certos de que essa seja a melhor solução. Doutor em Geologia Regional e Recursos Minerais, José Francisco Marciano Motta é pesquisador do Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) de São Paulo. "Precisa de um estudo de impacto específico para poder dimensionar os perigos", defende. Ele conta que há jazidas de carvão nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo e que não há registro de casos precedentes de inundação em áreas de lavra.

Motta destaca que a área paranaense já está sofrendo os efeitos da chamada drenagem ácida, que é a corrosão provocada pelos produtos químicos que sobram nos resíduos de carvão, mas alega que somente um estudo pormenorizado poderia precisar qual seria a dispersão de materiais tóxicos na água. "Claro que quanto maior a barragem, mais a acidez vai se diluir", explica. Para o pesquisador, a saída para resolver o problema ambiental e eventualmente permitir a inundação da área seria a colocação de barreiras, como camadas de argila, que funcionariam como selante. "Teria que isolar, envelopar", avalia.

O geólogo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Mario Sérgio de Melo, acredita que a preocupação com a área é procedente. Ele conta que na região de Lauro Muller, em Santa Catarina, lavras abandonadas de carvão foram responsáveis pela poluição dos rios Rocinha e Tubarão, com efeitos até agora irreparáveis. "A situação do Paraná é nova e realmente é essencial um estudo cuidadoso, e se for o caso de construir de fato a barragem e o reservatório, um minucioso plano de recuperação preliminar e o monitoramento da qualidade das águas são necessários. O que é certo é que o assunto deve ser responsavelmente abordado antes de se pensar na construção da barragem", pondera.

A engenheira ambiental Larrisa Utiyama, do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), vistoriou a mina desativada no ano passado. Sobre a possibilidade de inundação, ela defende a necessidade de que "sejam realizados estudos técnicos detalhados na área". "Vale a pena ressaltar que o reservatório da usina hidrelétrica modificará as características ambientais do local."

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