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Opinião técnica - Danos podem ser minimizados, diz especialista

As embalagens longa-vida são um avanço tecnológico saudável ao meio ambiente na opinião do professor de gerenciamento de resíduos do Unicenp, Paulo Janissek. Para ele, é preciso fazer uma análise ampla do impacto ambiental na avaliação das melhores alternativas de embalagens, não apenas da questão de reciclagem. "É preciso considerar, por exemplo, que com as caixas longa-vida o tempo de conservação dos produtos é maior. A opção por vidro ou plástico exige mais refrigeração para transporte e armazenamento. Isso causa outro tipo de impacto no meio ambiente, com a emissão de gases nocivos à camada de ozônio."

Neste sentido, o professor acredita que as embalagens são a melhor alternativa para armazenamento de alimentos como o leite, por exemplo, apesar da dificuldade de reciclagem. O processo de reaproveitamento é mais difícil porque as caixas são compostas por papel, alumínio e plástico, e os produtos precisam ser separados antes da reciclagem. "Mas a tecnologia para isso existe. Então, o importante é aumentar a capacidade de reciclar", diz Janissek. "Não existe uma solução mágica, que não cause danos ao meio ambiente. O importante é ter bom senso e minimizá-los." (CS)

Enquanto a fabricante de embalagens longa-vida Tetra Pak entra na mira da fiscalização ambiental do governo do estado, acusada de gerar um passivo de 500 milhões de caixinhas cartonadas por ano, sua única concorrente mundial – a multinacional suíça Sig Combibloc – prepara a instalação de uma unidade em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, com incentivo fiscal garantido em protocolo assinado pelo governador Roberto Requião.

O Paraná disputava o investimento suíço de 100 milhões de euros (cerca de R$ 275 milhões) com Santa Catarina e Bahia, e teve preferência oferecendo benefícios do programa Bom Emprego, que prevê a dilação no pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Na terça-feira, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) informou que estuda proibir a comercialização de embalagens longa-vida no Paraná. A decisão se deve, segundo o secretário Lindsley Rasca Rodrigues, à falta de responsabilidade ambiental da Tetra Pak – que tem fábrica em Ponta Grossa. Segundo ele, a empresa não tem uma logística de recolhimento das embalagens que coloca no mercado, o que é obrigatório por lei.

Para o secretário de estado da Fazenda, Heron Arzua, a polêmica com a Tetra Pak não tem qualquer relação com a instalação da Sig Combibloc no estado – apesar de ambas produzirem o mesmo tipo de embalagem – nem interfere na garantia dos incentivos fiscais à empresa. "Os incentivos não estão condicionados a impactos ambientais", diz. O secretário não vê incongruência no comportamento do governo. "A Tetra Pak já obteve incentivos e agora a Combibloc terá."

Segundo a assessoria de imprensa da Sema, a Sig Combibloc já tem o licenciamento prévio para se instalar, emitido no fim de novembro de 2006, mas ainda precisa cumprir mais duas etapas: a do licenciamento de instalação e a de operação, antes de iniciar a construção. Na terceira etapa, deverá apresentar um plano de gerenciamento de resíduos. O secretário não foi encontrado para esclarecer se a Sig Combibloc foi orientada – assim como a Tetra Pak – a garantir o recolhimento de todas as embalagens que produzir, após o descarte pelo consumidor.

Acordo

O vice-presidente da Tetra Pak para América Central e do Sul, Nelson Findess, deve se reunir com Rodrigues na segunda-feira. "O presidente me garantiu que o que vem sendo discutido não representa a opinião da empresa e abriu a possibilidade de buscarmos uma solução conjunta. É um bom sinal. Mesmo que não haja uma política de recolhimento, já teremos o compromisso ambiental restabelecido", disse o secretário, em texto da agência de notícias do governo do estado.

A direção da Tetra Pak afirmou, em nota, que todos os pontos abordados com a área ambiental do governo do Paraná foram amplamente discutidos e "continuarão a ser parte da agenda positiva que tem caracterizado o relacionamento com a comunidade, clientes, parceiros e consumidores".

Também em nota, o prefeito de Ponta Grossa, Pedro Wosgrau Filho, disse acreditar em um desfecho rápido e positivo da situação porque a fábrica exerce "singular impacto" no contexto econômico da cidade e dos Campos Gerais, com reflexos tributários importantes. "A Tetra Pak é parceira do governo municipal em diversas iniciativas de cunho social e assistencial, em particular no que tange a programas de conscientização ambiental e incremento da coleta seletiva de lixo", diz a nota.

Planos não mudam

A gerente de marketing da Sig Combibloc, Luciana Galvão, diz que a discussão entre governo estadual e Tetra Pak não interfere nos planos da empresa para o estado. Ela prefere não comentar a possível proibição de cartonados no Paraná. Diz apenas que a multinacional atende aos padrões nacionais e internacionais no que diz respeito à segurança ambiental. "E isso não será diferente na unidade de Campo Largo."

O projeto da Sig Combibloc prevê a criação de 250 empregos diretos e 750 indiretos. A previsão é que a fábrica comece a operar no início do próximo ano. Segundo a prefeitura de Campo Largo, a empresa já comprou o terreno na cidade e no mês passado apresentou o projeto ao prefeito Édson Basso e aos vizinhos.

A Sig Combibloc entrou no mercado brasileiro através de importações. Ao divulgar o investimento, a empresa informou que, com a unidade de Campo Largo, pretende conquistar entre 10% e 15% do mercado nacional de embalagens longa-vida. Em nota disponível no site, o CEO do grupo Sig, André Rosenstock, diz que o Paraná foi escolhido porque a empresa encontrou "uma administração estadual competente e comprometida com o desenvolvimento da região e da sua indústria".

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