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O próximo ano e, com ele, o próximo governo, terão início com uma antiga preocupação dos brasileiros: a inflação em alta. Pressionado pela forte alta nos preços dos alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou neste final de ano e atingiu em novembro o maior nível em em mais de cinco anos.

Segundo especialistas ouvidos pelo G1, no entanto, esse movimento deverá ser contido pelo governo de Dilma Rousseff.

"A gente tem uma percepção muito forte de que há uma preferência nacional por estabilidade de preços. Se há algo que tira votos é o aumento da inflação. Qualquer que seja o presidente, ele tem que ter o compromisso de controlar preços", destaca Cristina Helena Pinto de Mello, professora de Macroeconomia do curso de Administração e Relações Internacionais da ESPM.

Para Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, deve haver pressão inflacionária no próximo ano, mas o governo tomará as medidas necessárias para mantê-la sob controle. "De modo geral, não acredito num aumento muito forte. (...) Vai ficar abaixo de 6,5%."

Na opinião de Fernando Fix, economista-chefe do Votorantim Wealth Management, o tripé macroeconômico, formado por câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário, será respeitado pelo novo governo. "Regime de metas já passou do FHC para o Lula, do Armínio Fraga ao Meirelles (...). Há percepção política de que manter o quadro macroeconômico beneficia o mandatário. Parte do bom desempenho da Dilma nas eleições foi a força da economia", diz.

Perspectivas

No acumulado em 12 meses, o IPCA chegou a 5,6% em novembro, se distanciando do centro da meta do governo, de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Para 2011, as projeções são de uma inflação em torno de 5,5%.

Para cumprir a meta, porém, o governo precisa adotar medidas para amenizar a pressão inflacionária. Uma das alternativas é elevar a taxa básica de juros, a Selic, que atualmente está em 10,75%. "Num regime de meta, o Banco Central não tem outra coisa a fazer a não ser retirar o estímulo ao consumo. Caso contrário, teria grande perda de credibilidade", destaca o executivo do Votorantim. "Se não fizer isso [elevar a Selic], nossa projeção iria para 6%, possivelmente até acima disso", diz Fix, economista-chefe do Votorantim Wealth Management.

Esta estratégia, no entanto, costuma gerar críticas. Altas taxas de juros aumentam a dívida do governo, que tem títulos públicos atrelados à Selic; fazem o real ficar ainda mais valorizado ante o dólar, uma vez que aumenta o interesse dos estrangeiros em fazer investimentos diretos no país, estimulando o ingresso da moeda estrangeira; inibe investimentos do setor privado; entre outros problemas. "Todo remédio tem efeito colateral. Não tomar o remédio é permitir que a doença se alastre", defende Fix. "Taxa de juros é sempre um regime amargo, por mais que clinicamente seja necessário."

Alternativas

Para Cristina, da ESPM, o atual governo teve criatividade para controlar a inflação e isso pode se repetir em 2011. "É possível que a gente assista a instrumentos alternativos, por exemplo, o próprio depósito compulsório, o IOF. Punir quem pega dinheiro emprestado, não necessariamente mexendo na Selic." Ela diz que o comportamento que precisa ser alterado é a "elevada preferência do brasileiro por consumir com crédito e não poupar para consumir".

Leite, da Trevisan, concorda que há alternativa além do aumento da Selic, como o aumento da taxa de redesconto e venda de títulos públicos, mas a médio e longo prazo, a solução mais adequada seria "o aumento contínuo dos investimentos para evitar que haja desequilíbrio entre oferta e demanda".

"(A taxa de investimentos) precisa subir dos atuais 19% para acima dos 25%. Para se chegar a isso, tem que controlar o gasto corrente. Hoje, o setor público consome cerca de 37% do PIB, a chamada carga tributária, com déficit nominal em torno de 2,5%, gasta 39,5%. Gasta 5,5% com pagamento de juros, algo em torno de 1,7% com investimento, e o restante é tudo gasto corrente, que dá 32%. Então, para reduzir pagamento de juros da dívida precisa baixar taxa de juros. Para baixar taxa de juros precisa aumentar investimento", explica. Dos atuais 19% da taxa de investimento, somente 1,7% vêm do setor público, 2% das estatais e o restante, do setor privado.

Apesar da expectativa de manutenção da taxa de inflação dentro do teto de 6,5%, os especialistas lembram que, no início do ano, há sempre uma pressão maior. "Começo do ano é sazonalmente pressionado, a gente tem reajuste de preços importantes como mensalidades escolares", lembra Fix. "Tem também a época de chuva, que atrapalha o preço de hortifrutigranjeiro", diz Alcides Leite.

Vilões

Em 2010, um dos vilões da inflação foi o setor de alimentos – e este cenário deve se repetir em 2011. "Alimentos estão pressionados não só no Brasil como no mundo por causa do crescimento muito forte dos emergentes. Essa inclusão social sem precedentes na China, na Índia, de pessoas que migram para a área urbana, isso aumenta a pressão por mais alimentos, principalmente aqueles com carga protéica. Quando vão subindo de faixa de renda, deixam de consumir tanto carboidrato para consumir mais proteína", diz Fix. "Tem forte demanda internacional por commodities agrícolas. O custo da ração aumenta, o que faz com que o preço da carne aumente", lembra Cristina.

Na opinião do executivo da Votorantim e da professora da ESPM, no próximo ano é preciso ficar atento ao setor de serviços. "O que me preocupa um pouco é o preço dos não-negociáveis, que sofrem pouca pressão dos importados e tem pouca competição. Setor de serviços – como cabeleireiro, escola, mecânico -, além de imóveis", alerta Cristina.

Salários

O que explica, em parte, o aumento da demanda no Brasil é o crescimento da massa salarial. "Temos escassez de mão de obra e isso permite que quem é qualificado conquiste altos salários", diz Cristina. "O mercado de trabalho está aquecido, a taxa de desemprego vem caindo constantemente, o que vem reforçando a capacidade de barganha de reajuste salarial. Se olhar na média, pelos dados do IBGE, o salário real médio vem subindo acima de 6%, acima da inflação, o que vem fazendo com que a massa de salário cresça. A gente tem uma pressão de demanda muito intensa", concorda Fernando Fix.

Cristina destaca que todas essas previsões para 2011 contemplam um cenário externo parecido com o que estamos vendo atualmente. "Se mudar alguma coisa na conjuntura, tudo isso cai por terra."

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