A gestão de sete anos do economista José Sergio Gabrielli na presidência da Petrobras passa por completa reformulação na administração de sua sucessora, a engenheira química Maria das Graças Foster.
Além de afastar quatro diretores ligados ao ex-presidente logo após assumir, Graça, como prefere ser chamada, mandou rever todos os contratos relacionados a projetos fundamentais iniciados por Gabrielli, como a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Diferentemente do que ocorria na gestão Gabrielli, que presidiu a estatal de 2005 a fevereiro de 2012, Graça Foster não demonstra tolerância com atrasos na entrega de encomendas.
O exemplo mais evidente desse novo comportamento é a punição imposta ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca (PE). O petroleiro João Cândido deveria ter sido incorporado à frota da Petrobras Transporte (Transpetro) em 2010. Isso só veio a ocorrer há pouco, com dois anos de atraso.
Graça determinou à subsidiária a aplicação de uma multa e a suspensão temporária de 16 dos 22 contratos firmados com o estaleiro. Na administração anterior, os atrasos não eram punidos.
Logo ao assumir o cargo, em 13 de fevereiro, Graça reuniu a diretoria e determinou a fixação de metas que definiu como "mais realistas". A administração Gabrielli, na interpretação de especialistas, foi marcada pelo estabelecimento de metas ao mesmo tempo ambiciosas e, diante da realidade da empresa, impossíveis de serem cumpridas.
Graça e Gabrielli deixam as críticas escaparem, embora procurem manter a cordialidade, repetindo que a gestão é de continuidade. As divergências foram evidenciadas em 25 de junho, quando ela anunciou o esperado plano de negócios da companhia para o período de 2012-2016, após três meses de revisão do trabalho desenvolvido na gestão anterior.
A presidente iniciou a apresentação com 11 slides consecutivos sobre metas de produção descumpridas na administração Gabrielli, prazos desrespeitados e custos superelevados. Para em seguida estabelecer metas de produção menores, segundo ela, realistas e factíveis.
Abreu e Lima
A presidente da Petrobras apontou ainda a Refinaria Abreu e Lima que está em obras em Pernambuco, com previsão de custo quase dez vezes maior do que o planejado inicialmente, como um mau exemplo de procedimentos adotados, a ser estudado a fundo por toda a companhia, para não voltar a acontecer.
"A Rnest (Refinaria do Nordeste, como foi chamada inicialmente a Abreu e Lima) é uma história a ser aprendida, escrita e lida pela companhia, de tal forma a que não seja repetida. Existe claramente um aumento significativo do investimento inicial, do seu marco zero, em setembro de 2005. O óleo a ser refinado conta hoje com atraso de três anos", disse Graça.
"É claro, absolutamente claro, o não cumprimento integral da sistemática de aprovação de projetos neste caso específico. Uma história a ser aprendida e não repetida", acrescentou a presidente da Petrobras. Além disso, Graça determinou a suspensão ou o adiamento de pelo menos 13 projetos nas áreas de refino e exploração e produção (E&P), incluindo refinarias de investimento bilionário.
Corresponsável
Sempre que questionada sobre as modificações implementadas, a presidente da Petrobras destaca que também fazia parte da diretoria anterior (comandava a diretoria de Gás e Energia) e, assim, era corresponsável pelas falhas que porventura tivessem acontecido. Mas a divergência de atitudes ficou bem clara no pronunciamento oficial quando da apresentação do Plano de Negócios da estatal. Três semanas depois, Graça procurou atenuar sua posição, ao dizer que a única diferença entre os dois gestores era de gênero.
"A gente é amigo. (...) A diferença é que você é menino e eu sou menina", disse ela a Gabrielli em solenidade na Bahia, há nove dias, quando selaram uma espécie de trégua, posando juntos para fotografias.
Na ocasião, o ex-presidente foi o convidado especial na solenidade de batismo de uma plataforma petrolífera, da qual participou a presidente Dilma Rousseff. Gabrielli é secretário estadual de Planejamento na administração do governador da Bahia Jaques Wagner (PT), a quem planeja, embora não admita publicamente, suceder em 2014.
Procurados, nem Graça nem Gabrielli quiseram se pronunciar para esta reportagem, Ao jornal Valor Econômico, na semana passada, porém, Gabrielli disse que Graça foi "inábil" ao apresentar o plano de negócios. Em seguida, buscou atenuar a declaração, ressaltando ter havido apenas uma "falta de cuidado" por parte dela.
Gabrielli disse que a sucessora faz uma administração de continuidade. Ela tem falado a mesma coisa quando questionada sobre as diferenças entre as duas gestões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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