• Carregando...
Novo rebaixamento do rating da Petrobras significará a perda do grau de investimento, dificultando o acesso a crédito no exterior | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Novo rebaixamento do rating da Petrobras significará a perda do grau de investimento, dificultando o acesso a crédito no exterior| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Superfaturamento

Sobrepreço em contratos da Lava Jato é estimado em 3%

Folhapress

Após a forte queda das ações da Petrobras por não assumir em seu balanço perdas com atos de corrupção revelados pela operação Lava Jato e o rebaixamento de sua nota de crédito, a Petrobras divulgou um comunicado ontem na tentativa de acalmar os mercados e explicar melhor os motivos por não lançar as baixas contábeis.

A Petrobras afirma que estimou em 3% o sobrepreço de todos os contratos de 23 empresas fornecedoras, que supostamente operaram em cartel entre 2004 e 2012 com o objetivo de elevar "preços das licitações para repasse de propina". Os cálculos foram baseados em dados do Ministério Público Federal.

O sobrepreço nos contratos, segundo a Petrobras, gerou um "efeito potencial estimado em R$ 4,06 bilhões oriundo de corrupção". Para a companhia, "é impossível precisar o valor do ajuste contábil, sendo necessário estimá-lo por aproximação". O valor apurado inicialmente pode ser ainda maior, segundo a empresa.

Em uma situação descrita como "desesperadora" por analistas e investidores, a Petrobras teve sua nota de crédito rebaixada ontem pela agência internacional de classificação de risco Moody’s. Foi o terceiro rebaixamento da estatal nos últimos quatro meses e a agência ainda alertou que uma nova revisão negativa pode acontecer no curto prazo – o que significaria a perda do grau de investimento. A corrupção e a falta de clareza da real situação financeira da companhia pesaram sobre a avaliação da agência.

A avaliação provocou novo tombo das ações da companhia, que caíram mais de 6% e levaram as ações à menor cotação em dez anos. O rating (nota de risco) da estatal foi cortado para Baa3, de Baa2, o que significa que em caso de novo corte a companhia seria rebaixada para o grau especulativo, o que restringe seu acesso e as suas condições de crédito no mercado internacional.

No comunicado, a agência alerta para a possibilidade de que os credores da companhia iniciem ações judiciais para antecipar a cobrança de dívidas, diante do atraso na publicação auditada – e crível – das informações financeiras trimestrais da companhia. Essa atitude afetaria diretamente a liquidez da companhia em um momento já delicado para a Petrobras.

"O que nós estamos medindo é a possibilidade de default. Se ela aumenta, o risco aumenta e a nota diminuiu", explica Nymia Almeida, analista para América Latina da agência Moody’s. "A cada dia que passa o cenário menos provável vai se tornando mais provável", completou.

O fundo abutre Aurelius, dos Estados Unidos, considera que a estatal já quebrou compromissos e busca investidores para uma ação coletiva. Em uma teleconferência na quinta-feira, o diretor financeiro da estatal, Almir Barbassa, avaliou que o balanço divulgado na madrugada de quarta-feira atende aos compromissos e que outras análises são "opiniões".

Risco soberano

Pelo peso de seus investimentos para o país, a perda de grau de investimento da estatal poderia influenciar, também, a avaliação do risco soberano, agravando a situação da economia.

O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse que "não trabalha" com essa possibilidade. "Tudo está público. No relatório estão bastante explicadas as ações que a Petrobras está realizando."

A Moody’s, por sua vez, vê "incertezas" quanto à capacidade da empresa honrar seus compromissos, e cobrou da empresa "clareza" e um anúncio público sobre a metodologia que será adotada para registrar as perdas com a corrupção.

No último balanço, as estimativas variaram de R$ 4 bilhões a R$ 88,6 bilhões em valores inflados de ativos, decorrentes também de outros fatores como ineficiência e deficiência de projetos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]