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Renda fixa
Guerra na Ucrânia pressiona inflação e taxa de juros no Brasil, o que torna a renda fixa mais atraente.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

A renda fixa, que já vinha ganhando espaço com as seguidas altas na taxa básica de juros (Selic), ganha mais evidência com a guerra entre Rússia e Ucrânia. O conflito bélico contribuiu para aumentar o risco inflacionário, devido à alta nas commodities, e elevou as expectativas para os juros futuros.

O título Prefixado 2025, que no dia 23 de fevereiro, véspera do ataque russo, pagava 11,32% ao ano, passou a pagar 12,41% no dia 8 de março. Já o Tesouro IPCA+2026, que rendia o IPCA mais 5,40% ao ano, passou para IPCA mais 5,72% ao ano, apontam dados do Tesouro Direto.

Segundo Hernani Raga, especialista em renda fixa e corporate da EWZ, a curva de juros ficou mais “estressada.”

“O conflito serviu para elevar a expectativa dos juros futuros, impactando na renda fixa, e também contribuiu para ampliar o risco inflacionário”, diz Camilla Dolle, head de renda fixa da XP Investimentos.

As projeções para a inflação vêm aumentando nas últimas semanas e ganharam um impulso com a invasão russa da Ucrânia. Segundo levantamento do relatório Focus, do Banco Central, o ponto médio (mediana) das expectativas para o IPCA passou, nas últimas quatro semanas, de 5,44% para 5,65%. As de 2023 tiveram variação na margem indo de 3,50% para 3,51%.

O choque global significa inflação mais persistente, especialmente de alimentos, commodities metálicas e energia. “Isso provavelmente demandará do Banco Central juros altos por mais tempo para garantir a convergência à meta da inflação até 2024”, informa relatório mensal da XP Investimentos.

O gerente de portfólio da Kilima Asset, Luiz Adriano Martínez, destaca que a inflação será maior em todo o mundo – nos Estados Unidos está em seu maior nível em 40 anos e na Europa nos maiores níveis históricos –, mas que o Brasil conta com o trunfo de ter se adiantado no processo de alta de juros. A primeira elevação da Selic foi em março do ano passado.

Quais as expectativas do mercado para a taxa básica de juros

Apesar do aumento no risco inflacionário, o ponto médio das expectativas para a taxa de juros no fim deste ano ainda não mudou. Segundo o relatório Focus, do Banco Central, o consenso de mercado projeta uma taxa de 12,25% há três semanas, com a taxa Selic indo a 11,75% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que termina na quarta-feira (16).

Porém, nos últimos dias vieram à tona notícias de casas revisando suas previsões para a casa dos 14%. Além disso, o ponto médio das projeções para o fim de 2023 no Focus aumentou ligeiramente, de 8% para 8,25%, o que indica que o processo de corte dos juros, esperado para o ano que vem, será um pouco mais lento.

A recomendação de Camilla Dolle, da XP, é de que o investidor tenha muita cautela. “Não é o momento de tomar decisões drásticas”, diz. O momento, segundo ela, é de buscar proteção. Uma das alternativas são títulos lastreados na inflação (IPCA+) que devem ser mantidos até o vencimento. Ela lembra, também, que à medida que se avança no processo eleitoral, pode haver mais volatilidade.

“A inflação com um cenário de instabilidade faz com que 2022 seja um ano complexo para se navegar”, diz Marcelo Billi, superintendente de comunicação, educação e certificação da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Mas, apesar da complexidade do cenário, o sócio da Monte Bravo Investimentos Rodrigo Franchini considera que há um cenário favorável, com oportunidades no mercado. “A renda fixa é um porto seguro para as aplicações. Ficou mais fácil obter remuneração de 1% ao mês sem ter volatilidade”, diz. Mas isso, segundo ele, traz duas implicações: desestimula o fluxo na bolsa e desincentiva a economia real.

Um risco maior é se a guerra prosseguir. Raga, da EWZ, avalia que o mundo caminhará para a estagflação – uma combinação de baixo crescimento e inflação elevada – e colocará as expectativas para a Selic em risco, podendo, inclusive, exigir aumentos adicionais nos juros.

Cautela na renda fixa e momento de transição

A Anbima tem detectado, ao longo dos anos, uma queda no nível de otimismo do investidor em relação à economia brasileira. Ele ainda é relativamente grande, de 58%, mas é o menor nível desde o início da pesquisa Raio-X do Investidor, em 2018. “As pessoas estão olhando 2022 com menos otimismo”, diz Billi.

Um dos principais fatores que explica essa perda de confiança é a alta na inflação. O IPCA atingiu 10,54% nos 12 meses encerrados em fevereiro, segundo o IBGE.

Segundo Billi, a preocupação é maior nas classes D e E. A inflação corrói o poder de compra dos rendimentos e aumenta as despesas com juros dessas famílias. Esse cenário reduz ainda mais a capacidade de elas guardarem dinheiro. Outro agravante, para estes grupos, é que eles sentem muito mais a volatilidade do que outras classes.

O superintendente destaca que o ciclo de alta nos juros coloca o investidor em um momento de transição, direcionando um fluxo maior de recursos para a renda fixa. “Ao mesmo tempo, detectamos que os investidores estão mais maduros. Há dez anos, em um cenário como o atual, todo mundo correria em direção à liquidez. Hoje, a conversa é diferente.”

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