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Pulverização será flexibilizada apenas para algodão e soja | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Pulverização será flexibilizada apenas para algodão e soja| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

Repercussão

Mesmo com poucas áreas pulverizadas, Paraná sente efeitos

As restrições à pulverização aérea ainda não saíram do papel, mas já têm impacto sobre a atividade rural. Na zona de abrangência da C.Vale, cooperativa localizada em Palotina (Oeste), cerca de 120 mil hectares de lavouras dos associados têm agrotóxicos aplicados por aviões, que por enquanto não saíram dos hangares. "Isso significa perdas, pois o uso do trator no estágio atual da soja gera cerca de 6% de esmagamento das plantas, o que para uma produtividade entre 55 e 60 sacas por hectare representa até 3 sacas de prejuízo", explica Luiz Pedroso, supervisor do Departamento Agronômico da empresa.

A medida do governo interrompe um ciclo de expansão da prática na região. "A atividade vinha crescendo significativamente nos últimos dois anos, devido a vantagens como menor custo, qualidade e agilidade na aplicação", complementa. Pedroso sustenta que, caso as normas mais flexíveis demorem a ser oficializadas, o combate às pragas pode ser ineficiente.

Considerando o estado como um todo, os prejuízos são proporcionalmente menores que em Mato Grosso, por exemplo, porque a área pulverizada com uso de aviões é menos representativa no Paraná, explica João Miguel Toledo Tosato, agrônomo responsável pelo setor de agrotóxicos na Agência de Defesa Agropecuária (Adapar). "Aqui a maioria ainda faz o serviço usando tratores", pontua.

O governo federal resolveu condicionar a aplicação de quatro princípios ativos nas pulverizações com uso de aviões e provocou forte reação do agronegócio. As proibições estão em comunicado do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), divulgado em julho, que encontra rejeição em debates puxados por parlamentares e líderes de entidades do setor.

A decisão do Ibama restringe a aplicação aérea dos ingredientes ativos Imidacloprido, Tiametoxam, Clotianidina e Fipronil e usa como base estudos internacionais que apontavam a ocorrência de efeitos adversos como, por exemplo, a morte de abelhas expostas aos produtos. Segundo o órgão, o problema no uso dos aviões é a ocorrência da deriva – desvio provocado pelo vento.

Houve flexibilização para a safra atual, mas o agronegócio segue alegando que as lavouras serão expostas a riscos sanitários e que haverá prejuízos à cadeia produtiva.

O primeiro ponto questionado pelo agronegócio é a falta de prazo para qualquer adaptação. Ex-ministro da Agricultura e atualmente deputado federal, Reinhold Stephanes (PSD-PR) argumenta que todos os lados deveriam ter sido ouvidos previamente. "Uma vez avaliados os malefícios, deve-se partir para uma discussão técnico-científica para resolver a questão. A retirada dos produtos tem que ser planejada", avalia.

Em Mato Grosso, onde cerca de 20% da área de soja recebe aplicações aéreas, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) estima que as proibições podem gerar prejuízo de R$ 14 bilhões até 2020. "Há casos de produtores que fizeram a compra antecipada desses produtos, antes da proibição, e agora se veem impedidos de fazer a aplicação", afirma Luiz Nery Ribas, diretor técnico da instituição.

Segundo ele, os produtos que poderiam substituir os princípios que sofrerão a restrição ainda são ineficientes ou necessitam de mais aplicações. "Seriam necessários, no mínimo, seis anos para realizar essa mudança", estima.

Mapa e Ibama já anunciaram que a medida será flexibilizada nesta safra para as culturas de algodão e soja. Deve ser autorizado o uso dos produtos após o período de floração das culturas. A medida ainda não saiu no Diário Oficial, mas segundo Luís Rangel, coordenador geral de agrotóxicos e afins do Mapa sustenta que "a revisão e a conclusão da proposta de ato normativo conjunto deve ser publicada nos próximos dias, permitindo a condução da safra com as tecnologias disponíveis".

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