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Fila de caminhões rumo ao Porto de Paranaguá: embarques de soja caíram em relação a março de 2010 | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Fila de caminhões rumo ao Porto de Paranaguá: embarques de soja caíram em relação a março de 2010| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Avaliação

"Déficit nem sempre é ruim", diz consultor

Para o diretor da consultoria em comércio exterior GT Internacional, Gustavo Machado, olhar apenas para o saldo comercial não reflete o que de fato ocorre na troca de produtos entre os países. Para ele, o mais importante é incrementar os valores da corrente de comércio – soma do que é importado e exportado.

O Paraná tem mantido uma média de troca comercial acima dos US$ 2 bilhões ao mês, chegando a US$ 2,675 bilhão em março – o valor mais alto desde outubro. Entre 2009 e 2010, o estado teve um incremento de 35% na corrente de comércio: as trocas comerciais com outros países passaram de US$ 20,8 bilhões para US$ 28,1 bilhões no período.

"No jogo de compra e venda, o importante é participar. Em alguns períodos você pode até importar mais, mas em outros você tem uma exportação maior. Precisamos sempre acompanhar o quanto o Brasil representa no comércio mundial, se ele está acompanhando, mesmo com déficit, porque o déficit nem sempre é negativo", diz Machado.

Segundo ele, o déficit comercial poderia ser compensado pelo investimento vindo do exterior, ao menos até os Jogos Olímpicos de 2016. "O Brasil está em evidência e a entrada de capital estrangeiro compensa o saldo, mesmo que negativo, graças ao volume de negócios crescentes e o aumento da corrente de comércio. Mas, depois de 2016, os investimentos no país podem diminuir", ressalva.

  • Confira os números do déficit das transições paranaenses com o exterior

Ao importar US$ 21 milhões a mais do que exportou, o Paraná completou em março sete meses consecutivos de déficit em sua balança comercial, algo inédito nos últimos dez anos. A última vez em que o estado ficou tanto tempo no vermelho foi entre agosto de 2000 e abril de 2001, com nove saldos negativos em sequência. Especialistas consultados pela Gazeta do Povo estão divididos em relação ao resultado de abril, que deve ser publicado daqui a duas semanas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Há quem acredite que finalmente haverá superávit, mas também quem aposte que o estado não sairá tão cedo do "cheque especial".

Entre 2009 e 2010, o estado também acumulou uma longa série de resultados negativos, mas já em março "virou o jogo", por causa do início dos embarques da safra de soja, principal produto da pauta paranaense. Neste ano, embora as exportações de março, de US$ 1,327 bilhão, tenham sido as mais fortes da história para o mês, não foram suficientes para superar o volume importado (US$ 1,348 bilhão), também inédito para o período.

Perfil prejudicial

"O grande problema neste déficit é que vemos o aumento de importações de produtos industrializados e a exportação de produtos agrícolas. Essa é uma tendência nacional, que prejudica a indústria brasileira", analisa o economista Roberto Zurcher, da Federa­ção das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). "Com a boa safra de soja e os bons preços do grão, até agosto o estado vai ter superávit. Mas, quando chegar setembro, com o fim da safra, a balança volta ao déficit."

É justamente no fim dos embarques da soja que, nos últimos anos, tem iniciado a sequência paranaense de déficits – o que reforça a ideia de que, cada vez mais, o desempenho do Paraná no comércio exterior depende principalmente da exportação de commodities. "Estamos vivendo um mo­­mento muito favorável por causa do câmbio. Esta é a vantagem do Paraná: o bom preço no mercado internacional, o aumento da demanda e a quebra da safra de alguns países. Esta boa safra diminui o déficit, que poderia ser muito maior. Se não houver medidas fortes do governo para conter a valorização do real, pode haver períodos em que a balança fique negativa por mais tempo", adverte Zurcher.

China

O descompasso na evolução do comércio entre o Paraná e a China, principal parceiro do estado, é o que estaria provocando os sucessivos déficits, na opinião do presidente do Sindicato de Exportação e Importação do Paraná (Sindiexpar), Zulfiro Bósio. Enquanto as exportações paranaenses para o país asiático recuaram 22% no primeiro trimestre deste ano, as compras de produtos chineses saltaram 60%.

"O déficit na balança paranaense vai continuar até completar um ano", arrisca Bósio. "Apesar de o Paraná exportar muitas commodities, a baixa no dólar faz com que os navios cheguem da China carregados de eletrônicos e equipamentos mecânicos. Além disso, por causa das tarifas mais baratas do Porto de Paranaguá, muitos produtos chineses estão chegando ao Brasil pelo estado", justifica o empresário.

Oportunidade

Gustavo Machado, diretor da consultoria GT Internacional, vê na disparidade entre Brasil e China uma oportunidade para que industriais brasileiros modernizem seus equipamentos. "Sei que há pessoas que estão aproveitando o dólar baixo para melhorar seu maquinário e fabricar produtos melhores e mais baratos. Outros ficam reclamando da taxa cambial, mas o comércio exterior é cíclico, hoje pode-se importar mais, mas amanhã pode ser o contrário. Achar culpados é fácil. O que a gente precisa é evoluir", diz Machado.

Demora no porto reduz embarques de sojaEmbora as exportações paranaenses tenham batido recorde em março, elas poderiam ter sido ainda mais fortes. De acordo com os dados do MDIC, o estado embarcou 424 mil toneladas do grão no mês, 39% a menos que no mesmo período de 2010. Provavelmente, a culpa está na lentidão dos embarques do Porto de Paranaguá, que têm de ser interrompidos quando chove – e que também foram afetados pela queda de pontes na BR-277, que atrasou um pouco mais a chegada de cargas ao terminal.

Para Zulfiro Bósio, presidente do Sindiexpar, o gargalo no porto trouxe impacto à balança. "A falta de infraestrutura colaborou, há problemas a serem revolvidos", ressalta. A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) já fez a dragagem dos berços de atracação, mas ainda não iniciou o desassoreamento dos canais de acesso ao cais, e busca recursos para modernizar o corredor de exportação.

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