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As incertezas da economia do país nos próximos anos exigem ajustes nas empresas que atuam no Brasil, mas não devem repelir investimentos e apostas no mercado nacional. Essa é a avaliação de Jorge Menegassi, presidente para a América Latina da EY, empresa de consultoria e auditoria empresarial, presente há 70 anos no Brasil e com atuação em mais de 100 países.

O desempenho da consultoria pode ser analisado como termômetro do mercado. Ela cresceu 10,3% no ano fiscal de 2014, acima da média nacional, mas abaixo do número registrado no período anterior, acima de 20%. "Mas o resultado não afetou os planos de investimento. Temos um projeto para 2020 e estamos atrás do que precisamos crescer e desenvolver para chegar nessa meta", diz Menegassi.

Qual o posicionamento das empresas em relação às incertezas da economia brasileira hoje?

Como todo país emergente, teremos que fazer ao longo do tempo. No curto prazo as empresas vão tomar decisões como demitir gente, reajustar custos, driblar a falta de energia no país, e as falhas do programa de infraestrutura, que ainda não avançou o que precisava, pois não tem recursos para tudo isso. Mas a médio e longo prazo, o que nos pauta, o cenário de 2020, é preciso avaliar que investimentos devem ser feitos para chegar a uma posição de destaque no mercado. Com certeza, o Brasil vai ser um grande país, com economia muito forte, uma das maiores globais.

O que temos a favor para essa condição?

Quando se avalia os fundamentos da economia do país, não se pode olhar no curto prazo. Claro que há ajustes a serem feitos, como preços controlados que estão sendo liberados e a alta da taxa de juros. Há também a recuperação da economia americana, que compete conosco na atração de recursos. O Brasil, porém, tem uma vantagem: temos uma classe média muito grande ainda, com mais de 120 milhões de pessoas. E há um bônus demográfico para acrescentar no futuro, de pessoas que ainda não são consumidoras que vão entrar nessa faixa. Temos um das maiores classes médias do mundo e, a médio e longo prazo, é uma questão muito positiva.

E quais são os desafios?

O grande desafio quando se olha para qualquer cenário de crescimento são as pessoas. Como organização, a nossa receita está na capacidade de ter mais gente para atender novos clientes. O desafio é encontrar esse pool de talentos no mercado. As empresas brasileiras e as estrangeiras que atuam aqui estão buscando mais eficiência, investindo em governança. Ainda tem um mercado de companhias para irem a público e abrir capital. O mercado brasileiro tem muita oportunidade. Temos uma indústria que está tentando ser mais eficiente e competitiva. A preocupação com a transparência está crescendo e isso também é positivo.

A lei anticorrupção tem movimentado o mercado?

Ao longo do ano passado, as empresas se preocuparam criando comitês de risco e investiram em canais em que denúncias de colaboradores e clientes possam ser apuradas. Foi a nossa linha de negócios com melhor resultado em 2014, com crescimento de 65%. E fizemos uma aquisição importante de uma empresa neste segmento, daqui de Curitiba. A lei anticorrupção é importante para o país, para a imagem da empresa e do mercado. Além disso, as penalidades são pesadas, chegam a 30% do faturamento do negócio e envolvem presidentes e dirigentes em vários níveis. Dentro da EY também temos a mesma preocupação e implantamos os mesmos controles indicados aos nossos clientes, como canais de denúncia, comitês de risco, governança bem alinhada, comitês de ética, entre outros.

Quais as mudanças necessárias para promover o ambiente de negócios?

A infraestrutura é um ponto importante, com mão de obra qualificada. Educação e infraestrutura são temas que são avaliados quando se está buscando um novo país para fazer investimento. Outra questão é sistema tributário, que é muito complexo e oneroso. Não chega a repelir o investimento, mas gera custos adicionais, como a infraestrutura. Se empresa está em um lugar onde o escoamento da produção é mais caro e a tributação também onera suas operações, isso é uma grande desvantagem competitiva. Isso precisa melhorar para atrair mais investimento externo, que, curiosamente, não caiu nos últimos anos. Apesar nossas dificuldades, o Brasil é um dos países que mais atrai. Há oscilações, mas nada muito abrupto, principalmente comparado ao PIB, que desabou. Por mais barreiras que existam, o investidor global olha o Brasil com interesse. Diferente do investidor brasileiro, que reduziu suas aplicações no mercado interno nos dois últimos anos. O investidor estrangeiro pensa mais em longo prazo, e não o momento atual. Ele entende o grau de complexidade, se prepara pra isso, mas ele está vendo na frente.

Estamos evoluindo?

Tivemos uma simplificação de tributos recentemente, que ajudou a derrubar barreiras de crescimento. Hoje temos um país mais amigável para empreender. E de forma mais profissional, com formatos de gestão com governança, operando de forma mais estruturada, evitando cortes, dentro da legalidade, com entidades de suporte. O país está mais bem preparado para empreender. Essa maturidade do mercado é importante. Os negócios familiares são pilares importantes para o empreendedorismo e estão se profissionalizando, abrindo para investimentos, consolidando novos mercados. A legislação também amadureceu, ajudando a sofisticar o mercado. E essa profissionalização ajuda a contornar outra questão difícil no Brasil, que é o acesso ao crédito. Empresas transparentes e com gestão profissionalizada têm acesso a empréstimos com juros menores, além de atraírem interesse de investidores. E essa atitude está presente em empreendedores iniciantes, que estão aprendendo a desenvolverem seus projetos junto com a gestão empresarial. Isso está chegando mais cedo pra ele.

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