Nelson Barbosa:Trabalhou no governo de 2003 a 2013, sempre assessorando Guido Mantega, primeiro no Ministério do Planejamento e, depois, na Fazenda, onde assumiu a secretaria executiva em 2011. Deixou o cargo supostamente por não concordar com os rumos da política fiscal| Foto: José Cruz / ABR

Direção do BB e do BNDES deve trocar de mãos

Agência O Globo

No segundo mandato da presidente Dilma Rousseff também devem ocorrer mudanças na direção de pelo menos dois dos três bancos públicos. No Banco do Brasil, o desgaste recente do presidente Aldemir Bendine deve lhe custar o cargo. No páreo para chefiar o BB estão o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli, e o atual vice-presidente de Negócios de Varejo, Alexandre Abreu.

Bendine foi o pivô de denúncias recentes, como o financiamento concedido pela instituição à socialite Val Marchiori e o relato de um ex-motorista ao Ministério Público Federal em que confessou que fez diversos pagamentos em dinheiro vivo a mando do chefe.

Candidatos

Caffarelli fez carreira no BB. É considerado um habilidoso articulador político e ganhou visibilidade ao integrar a equipe econômica. Em fevereiro deste ano, ele abandonou uma das vice-presidências do BB para ocupar o lugar do ex-número dois da Fazenda Nelson Barbosa, que havia deixado o cargo após desavenças com o ministro Guido Mantega.

Já Abreu cresceu politicamente dentro do governo no início de 2012, quando a presidente Dilma usou a instituição para orquestrar uma queda generalizada das taxas de juros no país. Foi ele quem desenhou pessoalmente o programa Bom pra Todos e ganhou trânsito no Palácio do Planalto. Aproveitou ainda para fincar o pé em outros fóruns, como a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e ficar conhecido como o interlocutor do governo em discussões importantes.

Prestigiado

Na Caixa Econômica Federal, o petista baiano Jorge Hereda deve permanecer na presidência, cargo que ocupa desde 2011. Eventuais mudanças para acomodar aliados políticos deverão ficar restritas às vice-presidências do banco. Segundo um interlocutor do Planalto, Dilma gosta do trabalho de Hereda, que é também muito ligado ao governador da Bahia, Jaques Wagner. A avaliação é que ele não dá problemas ao governo e tem executado os programas sociais, como o Minha Casa Minha Vida, que será relançado no próximo ano, seguindo à risca as ordens da presidente.

O BNDES, por sua vez, deve mudar de comando, segundo uma fonte próxima a Dilma. As relações entre ela e o atual presidente do banco, Luciano Coutinho, estão estremecidas há algum tempo.

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Faz tempo

O último ministro da Fazenda ligado ao setor privado foi Dilson Funaro. Dono da fábrica de brinquedos Trol, ele comandou a pasta entre 1985 e 1987, no governo Sarney. Desde a redemocratização, a pasta tem sido conduzida principalmente por acadêmicos e políticos. Embora fosse visto como alguém ligado aos bancos, Pedro Malan (1995-2003) era servidor público.

Luiz Carlos Trabuco Cappi:Sociólogo, é presidente do Bradesco, onde trabalha desde os 18 anos. Estaria entre os favoritos de Lula e tem a simpatia da presidente Dilma, mas é uma nomeação delicada do ponto de vista político – na campanha, a presidente atacou Marina Silva por sua proximidade com os bancos
Henrique Meirelles:Presidente do Banco Central no governo Lula e conhecido por não temer elevar os juros para combater a inflação, é outra opção para agradar o mercado financeiro logo de saída. Assim como Trabuco e Barbosa, teria sido indicado por Lula. No entanto, não é bem quisto por boa parte do PT
Aloizio Mercadante:Um dos fundadores do PT, é ex-ministro da Educação e o atual chefe de Casa Civil. É muito identificado com as atuais políticas econômicas do governo e, dentre os mais cotados para a Fazenda, é o que conta com menor simpatia no mercado financeiro
Otaviano Canuto:Assim como Mercadante, é oriundo da Unicamp, escola de economistas de linha desenvolvimentista, mas não é visto como heterodoxo. Foi secretário de assuntos internacionais do Ministério da Fazenda no primeiro mandato de Lula e hoje é consultor sênior do Banco Mundial para os Brics
Rossano Maranhão:Foi funcionário de carreira do Banco do Brasil, que presidiu de 2004 a 2006, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje é presidente do Banco Safra. Ou seja, é conhecido do governo e tem trânsito no setor financeiro privado

Nomear para o Ministério da Fazenda um representante do setor financeiro seria uma tacada certeira para acalmar o mercado e restabelecer rapidamente a confiança de investidores e empresários. Mas não é imprescindível que o novo ministro venha de um banco – algo que, aliás, nunca ocorreu desde a redemocratização.

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Veja quem são os candidatos que lideram as apostas para assumir o Ministério da Fazenda

A questão é que um nome do setor empresarial não financeiro ou da academia talvez demore mais para ser "absorvido" e tenha de fazer um esforço maior para conquistar os chamados "agentes econômicos". A avaliação é de economistas consultados pela Gazeta do Povo.

Na hipótese de que a presidente Dilma Rousseff queira mesmo alterar o rumo da política econômica, é consenso que o novo ministro precisa de autonomia, o que poucos viam em Guido Mantega. Por isso, quanto mais alinhado a presidente for o escolhido, mais difícil será resgatar a credibilidade.

"O perfil do novo ministro faz diferença porque o governo perdeu credibilidade", diz Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de Economia da PUC-SP. Segundo ele, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, um dos cotados para assumir o cargo, reúne as qualidades ideais. "Chamar alguém da indústria seria interessante, mas pode despertar a desconfiança do mercado, por passar a impressão de que a política econômica continuará a mesma, de subsídios e proteção à indústria."

Compromisso

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Para o economista Otto Nogami, professor do Insper, o ministro ideal combinaria passagem pelo setor financeiro com um robusto arcabouço acadêmico – algo que ele vê em Armínio Fraga, "nomeado" por Aécio Neves na campanha eleitoral. Na falta de candidatos com essa combinação, o economista vê como boas opções o presidente do Bradesco e também Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. "Eles são gestores, com capacidade para equilibrar a economia, e uma eventual insuficiência acadêmica pode ser complementada por uma assessoria forte, como Meirelles tinha no BC."

O consultor Roberto Troster, que foi economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), defende que mais importante que o nome do futuro ministro é o compromisso com uma mudança de direção na política econômica. "Um bom nome ajuda, mas não é fundamental. Pode ser um acadêmico, um executivo, um político, desde que esteja disposto a fazer o que é preciso. O Antonio Palocci [ministro da Fazenda de 2003 a 2006], médico e político, fez o que tinha de ser feito", lembra.

Bom trânsito

O presidente da Ordem dos Economistas do Brasil, Manuel Enriquez Garcia, acredita que não se pode abrir mão de um "nome forte", com bom trânsito em instituições internacionais e no setor privado. "A figura de quem assume o cargo ganha importância em momentos críticos como o atual. Chamar um político, um ex-ministro, não vai restaurar a confiança", avalia.

Entre os concorrentes que correm por fora está Otaviano Canuto, consultor sênior do Banco Mundial. A favor dele conta o fato de aliar credibilidade no mercado e sensibilidade a temas caros ao governo, como as políticas sociais. "É um meio termo", diz um economista que pediu para não ser identificado.

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Bolsa

Ibovespa avança 3,6% em meio à expectativa sobre equipe econômica

Das agências

Especulações sobre nomes da nova equipe econômica do governo federal fizeram o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, subir 3,62% ontem, atingindo 52.330 pontos. O volume de negócios totalizou R$ 9,328 bilhões. No ano, a bolsa acumula alta de 1,60% e no mês de outubro, baixa de 3,30%. Após a reação negativa de segunda-feira à reeleição da presidente Dilma Rousseff, as atenções dos investidores estão concentradas na definição de quem comandará o Ministério da Fazenda e nas medidas prometidas pela presidente para impulsionar a economia.

O dólar fechou em queda. O comercial, usado no comércio exterior, recuou 1,94%, para R$ 2,474. A moeda à vista, referência no mercado financeiro, caiu 1,65%, para R$ 2,479. No ano, a alta das duas cotações é de cerca de 5%. Os mais cotados

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