Brasília (AE) – A indústria atingiu em setembro o maior nível de ociosidade em 22 meses, segundo dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A utilização da capacidade instalada foi de 80,1%, a menor desde novembro de 2003. Na comparação com agosto, quase todos os indicadores apresentaram queda. As vendas ficaram 0,47% menores, a quantidade de pessoal empregado encolheu 0,03% e o total de horas trabalhadas na produção ficou 0,40% menor. Só os salários tiveram desempenho positivo, com aumento de 0,43%.

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"Já esperávamos um trimestre ruim. Mas este finalzinho surpreendeu um pouco", disse o coordenador de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco. "A única exceção foi o dado relativo ao salário real dos trabalhadores", afirmou Paulo Mol, economista da CNI. Com a alta de 0,43% em setembro, na comparação com agosto, o salário do trabalhador industrial passou acumular uma elevação de 8,76% no ano. "A massa salarial vem crescendo por nove trimestres seguidos", destacou Mol.

Os economistas da CNI explicaram, no entanto, que a alta dos salários em setembro veio puxada pela queda da inflação. Índices de aumento de preços mais baixos fazem com que o salário real cresça. "Este comportamento não foi reflexo de melhora da atividade. A atividade está em baixa", disse Castelo Branco. "A capacidade instalada em setembro teve a maior queda mensal da série histórica em setembro", informou Mol. O índice de uso da capacidade instalada recuou de 81,9% em agosto para 80,1%. "Este é o menor porcentual desde novembro de 2003", disse o economista da CNI. Naquele mês, o nível de uso da capacidade instalada estava em 79,7%.

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Os economistas da CNI ressaltaram, no entanto, que a queda pode ter sido provocada por aumento da própria capacidade de produção da indústria. "Pode ter ocorrido uma maturação dos investimentos feitos no passado", disse o coordenador de Política Econômica da CNI.

As vendas, por sua vez, ficaram 0,47% menores que as de agosto e 1,07% menores que as de setembro de 2004. "É a primeira vez que este índice também fica negativo", destacou Castelo Branco, referindo-se à comparação com o ano passado.

Natal

Apesar disso, a CNI se mostrou confiante quanto ao desempenho das vendas no comércio no fim do ano. "Teremos um Natal bom", disse Mol. Ele, no entanto, não concorda com as avaliações de que este Natal será o melhor dos últimos dez anos. A confiança, neste caso, vem baseada na melhora dos indicadores de renda. "Teremos boas vendas, mas sem um crescimento econômico forte", disse Castelo Branco.

A culpa pela piora do cenário para a atividade econômica na opinião dos economistas da CNI, está concentrada na alta taxa de juros e na valorização do real frente ao dólar. "A queda dos juros em setembro ainda não surtiu efeito sobre a produção", disse Castelo Branco. O câmbio, de acordo com o coordenador de Política Econômica da CNI, tem afetado mais diretamente as empresas exportadoras. "Dificilmente as exportações crescerão em 2006 como neste ano", afirmou.

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A crise política vivida pelo governo, segundo Mol, também pode ter afetado o nível de produção em setembro. "A questão da crise pode ter afetado as expectativas. Mas isto é mais difícil de mensurar", disse Mol. Apesar das más notícias, os economistas da CNI continuam acreditando que o Produto Interno Bruto (PIB) poderá ter expansão de 3,5% neste ano.