| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

A indústria brasileira olha para o retrovisor e lá aparece a Indonésia. O país asiático tem tudo para tirar o Brasil do ranking das dez maiores economias industrializadas. A distância vem encurtando ano a ano. Dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido, na sigla em inglês) mostram que desde 2010, a produção industrial brasileira caiu 16%. A do país asiático foi no sentido contrário: cresceu 46,3%.

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Cinco questões estão levando o país para a 11° posição no ranking das nações industrializadas, segundo especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo: faltam estímulos para que a indústria cresça no curto prazo, o ambiente de incertezas está em alta, o cenário para investimentos é pouco desfavorável, o produto brasileiro não consegue ser competitivo nem no mercado interno e a inovação e a tecnologia deixam a desejar.

O desempenho brasileiro é o pior entre as 10 nações mais industrializadas do mundo. Não dá para esperar por soluções no curto prazo, diz o pesquisador Cláudio Considera, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “Vai depender dos caminhos que o Brasil escolher. É mais uma questão institucional.”

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O fraco desempenho brasileiro acaba afetando os resultados da América Latina. “À exceção de Chile, Colômbia e Peru, o restante das economias industriais da região é marcada por altos custos de produção e baixo crescimento”, diz o gerente da unidade de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

Faltam estímulos para que a indústria cresça no curto prazo

A possibilidade de a Indonésia tomar a posição brasileira é muito grande. “Há poucas perspectivas de crescimento”, diz Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial. As projeções mais recentes do Relatório Focus, uma pesquisa feita pelo Banco Central junto a instituições financeiras, sinalizam para uma retração de 0,54% na atividade industrial. No começo do ano, a expectativa era de uma expansão de 3%.

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As duas alternativas para impulsionar a indústria estão bloqueadas, diz o economista. Uma delas seria as exportações. A outra, a adoção de políticas anticíclicas por parte do governo. Cagnin lembra que o mercado internacional vem perdendo força desde 2017 e que um dos principais consumidores brasileiros de produtos manufaturados, a Argentina, passa por uma grave crise. “Por outro lado, o desajuste fiscal impede a adoção de políticas de estímulo à economia.”

Não bastasse isso, ainda há reflexos da tragédia ambiental de Brumadinho (MG), que impactou negativamente na produção de ferro e, por tabela, na indústria extrativa. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que ela encolheu 10,7% nos oito primeiros meses do ano, em comparação a 2018.

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Ambiente de incertezas se renovando desde o impeachment

Outro agravante é o ambiente de incertezas que vem se sucedendo desde o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. “Houve os problemas de montagem do governo Temer, as turbulências do processo eleitoral e os ruídos do atual, como no caso da CPMF, lembra Rafael Cagnin, do Iedi

Essas incertezas, segundo Cláudio Considera, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) inibem investimentos. E mesmo reformas que começam a tramitar, como a tributária causam preocupação. São, pelo menos, três propostas que estão em discussão: uma do governo, outra na Câmara e outra no Senado. “Essa incerteza dificulta o cálculo da rentabilidade dos empreendimentos.

Cenário para investimentos é pouco favorável na indústria

Tradicionalmente, o Brasil investe pouco. A formação bruta de capital fixo - indicador do investimento privado - foi de 15% do PIB no segundo trimestre, de acordo com dados do IBGE. Em economias de forte crescimento, chega a superar os 25%.

“Desde os anos 80, a indústria acostumou-se a crescer pouco por causa de um regime macroeconômico negativo para o investimento”, diz Cagnin. A combinação de elevado custo de capital, a volatilidade cambial e a questão tributária acabam servindo como travas ao crescimento. Ele aponta que falta previsibilidade para o empreendedor.

Um fator mais recente que inibe a realização de investimentos por parte da indústria é a capacidade ociosa, que atualmente é de 21,9%, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Ela não justifica a realização de novos projetos de investimento.”

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Outro agravante é a recuperação fraca, que inibe as perspectivas de crescimento. As expectativas de crescimento da produção industrial vem perdendo força. Nas últimas quatro semanas, segundo o relatório Focus, as projeções para 2020 caíram de 2,5% para 2,1%. E para 2021, de 2,75% para 2,5%.

O economista do Iedi lembra também que, em função da crise, as empresas não estão tão capitalizadas e não contam com muito lucro acumulado, um dos principais instrumentos de financiamento do investimento.

“Sem investimento, não há ganhos de produtividade e há uma involução forte. É questão de tempo para o Brasil sair do ranking das 10 maiores potências industriais.”

Produto brasileiro não consegue ser competitivo no mercado interno

Impostos elevados. Gargalos de infraestrutura. Custo de capital elevado. Energia elétrica cara. A lista de itens que aumentam os custos das exportações é grande. “E a situação é agravada com a crise na Argentina e a desaceleração da economia mundial”, diz Cláudio Considera, do Ibre/FGV. Nos nove primeiros meses do ano, o Brasil exportou US$ 167,2 bilhões, 5,6% a menos do que no mesmo período do ano anterior.

O problema não está só no mercado externo:

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Os produtos brasileiros vem perdendo espaço também no mercado interno, principalmente para os asiáticos, que conseguem operar com custos menores.”

Flávio Castelo Branco, gerente da unidade de política econômica da CNI

Ele aponta que é preciso diminuir os custos, a burocracia e as regulamentações que afetam as empresas. “É preciso avançar mais nas reformas, o que foi feito até agora é insuficiente.”

Segundo Castelo Branco, as mudanças não dependem exclusivamente do lado de fora das empresas. O executivo destaca que os empresários precisam investir em técnicas que deem mais produtividade, em inovação e na qualidade da mão de obra.

Inovação e tecnologia deixam a desejar

Rafael Cagnin, do Iedi, aponta que inovação e tecnologia deixam muito a desejar no Brasil. O país é o 66° entre 129 países no ranking global de inovação, um levantamento feito pela Universidade de Cornell, pelo Insead e pela Organização Internacional de Propriedade Intelectual. E investe só 1,3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. Só para comparar, o líder do ranking é a Coreia do Sul, que aplica 4,6% do PIB nessas atividades.

“Entra governo, sai governo, há uma descontinuidade na política de inovação. As políticas públicas dão pouco suporte às atividades de pesquisa e desenvolvimento. E quando há contingenciamento no orçamento, é uma das primeiras atividades a perder recursos. Não é o que acontece no resto do mundo.”

Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi
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Não bastasse isto, cita Cagnin, o cenário desfavorável ao investimento contribui para a pouca aplicação de recursos em pesquisa e desenvolvimento. “Como isto é contido, não há grandes ganhos em termos de produtividade. Isto pode comprometer a indústria nos próximos anos.”

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