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Variação da produção industrial |
Variação da produção industrial| Foto:

Freio na evolução virá em 2009

A expansão da produção industrial em julho mostra que a economia ainda não desacelerou, afirmou ontem a economista do Unibanco, Giovanna Rocca. "Um por cento de alta em produção industrial não é um número fraco. Pelo contrário, é um número bastante elevado e mostra que a atividade doméstica ainda não dá sinais de desaceleração." A produção industrial aumentou 1% em julho na comparação com junho. Em relação a julho do ano passado, a produção cresceu 8,5%. Segundo Giovanna, a atividade industrial só deverá começar a dar sinais de arrefecimento no último trimestre deste ano. "Mas o efeito do aperto monetário, com uma desaceleração mais consistente, só virá em 2009", disse.

O economista-chefe da Itaú Asset Management, José Mauro Delella, disse que a volta de uma aceleração na produção industrial é uma boa notícia. "Ela gera uma suspeita de que realmente possamos estar vendo um processo de maturação de investimentos", comentou. "A despeito de uma atividade industrial mais forte sugerir um nível de utilização de capacidade instalada mais alto, ela também mitiga algumas preocupações que tinham acontecido no começo do ano", acrescentou, referindo-se novamente às questões da demanda.

Quanto ao impacto que a notícia poderia trazer às estimativas para a reunião da próxima semana do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, Delella minimizou a possibilidade de mudança no quadro esperado por grande parte do mercado financeiro, de um novo aumento de 0,75 ponto porcentual para a taxa básica de juros. "Esse é o nosso cenário e eu diria, quase com convicção absoluta, que ele deverá ser mantido", afirmou.

Agência Estado

A produção de bens intermediários, especialmente de insumos para a construção civil e agricultura, e o maior número de dias úteis impulsionaram a alta da produção industrial em julho, que apresentou crescimento de 1% em relação a junho e 8,5% em relação a julho do ano passado. Para o coordenador de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Silvio Sales, o setor mostrou "resultados amplamente positivos que confirmam um momento de elevação de ritmo produtivo".

O lado negativo dos dados ficou por conta dos eletrodomésticos, que viram sua produção cair nos últimos tempos, impactados pela alta das importações. O segmento registrou queda de 3,7% em julho na comparação com mesmo mês de 2007. A fabricação local da chamada linha marrom (tevê, DVD e aparelhos de som) caiu 8,3% no período, e os produtos da linha branca (geladeira, freezer e fogão) apresentaram redução de 7,1%.

Sales, explicou que os indícios apontam para maior volume de compras desses produtos no mercado externo, já que os dados das vendas no comércio não indicam queda no consumo. "As importações vêm crescendo, e podem estar influenciando o resultado do setor", admitiu. Na comparação com julho de 2007, as importações de bens de consumo duráveis, que inclui, entre outros itens, automóveis e eletrodomésticos, cresceu 111%.

Em relação ao resultado geral da indústria, Sales disse que uma aceleração voltou a dar sinais, apesar do aperto na política monetária a partir de abril. "Os efeitos dos juros chegariam antes no varejo e isso não apareceu ainda", afirmou. Ele observou que, na indústria, os juros afetariam primeiro as decisões de investimentos, e os robustos dados de bens de capital mostram que isso não ocorreu.

De acordo com Sales, não há sinal de arrefecimento da demanda. Para reforçar essa tendência, ele argumentou que a produção industrial acumula, em junho e julho, alta de 3,9%, aumento não registrado em dois meses acumulados desde outubro de 2003.

Segundo Sales, os bens intermediários lideraram a expansão da produção industrial, junto com bens de consumo duráveis e bens de capital – que já vinham na liderança. Os bens intermediários respondem por cerca de 60% da estrutura industrial e vinham apresentado resultados modestos mas, segundo Sales, houve a confirmação de um ganho de ritmo dessa categoria em julho, com expansão de 1,1% ante junho e de 7,5% ante julho do ano passado.

Segundo ele, ainda que estejam muito vinculados às exportações, já que incluem commodities como minério de ferro, os intermediários estão sendo puxados especialmente pelo mercado interno, sobretudo no que diz respeito aos insumos para construção civil e agricultura.

Calendário

O efeito calendário favoreceu os dados da indústria de julho, mas terá um efeito negativo sobre os resultados de agosto do setor. Julho contou com dois dias úteis a mais do que junho e um dia útil a mais do que igual mês do ano passado. O mês de agosto de 2008 terá dois dias úteis a menos do que julho e também dois dias úteis a menos do que agosto do ano passado.

Segundo Sales, a coordenação de indústria optou por não fazer nenhuma mudança no modelo de ajuste da pesquisa, apesar da forte influência do calendário nos resultados da indústria este ano, porque o modelo "não deve variar em função de atipicidades".

O IBGE também reviu o resultado da produção industrial em junho na comparação com maio (de 2,7% para 2,9%), e também outras revisões na série com ajuste sazonal, nos resultados de maio ante abril (de -0,6% para -0,7%) e de abril ante março (0,4% para 0,2%). Foi revisado ainda o dado já apresentado da produção de junho de 2008 ante igual mês de 2007, de 6,6% para 6,4%.

Atividades

Das 27 atividades industriais pesquisadas pelo IBGE, 17 registraram aumento na produção em julho ante junho. Os destaques, em termos de influência na alta de 1,1% na indústria ante o mês anterior, foram outros produtos químicos (4,2%), edição e impressão (5,6%) e máquinas e equipamentos (2,0%).

Os principais impactos negativos foram dados, nessa ordem, por material eletrônico e de comunicações (-7,6%), veículos automotores (-1,2%) e bebidas (-3,0%).

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