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Carlos Walter Martins Pedro, dono da ZM Bombas (Maringá). Investimentos agora vão para produtividade, não expansão | Fábio Dias/ Gazeta do Povo
Carlos Walter Martins Pedro, dono da ZM Bombas (Maringá). Investimentos agora vão para produtividade, não expansão| Foto: Fábio Dias/ Gazeta do Povo

Indícios

Trimestre fraco acendeu a luz amarela do setor no estado

A demanda mais fraca nesse início de ano surpreendeu as indústrias. "Os lojistas estão repondo os estoques mais devagar e as encomendas estão mais lentas", diz Marcelo Surek, coordenador do conselho do vestuário do Paraná. Para ele, o setor, que emprega 100 mil pessoas no estado, já está sentindo a retração no consumo, pelo maior endividamento das famílias, além do peso da concorrência chinesa, que chega a representar 50% no mercado.

No setor químico, o primeiro trimestre também ficou aquém do esperado, segundo Marcelo Melek, presidente do Sindicato da Indústria Química e Farmacêutica do Paraná, que representa 480 empresas. "Como o setor é fornecedor para outras indústrias, somos afetados em cadeia pela desaceleração de outros segmentos. O momento é de cautela", diz. Segundo ele, as empresas estão segurando investimentos mais pesados e aguardando o comportamento dos próximos meses.

O ritmo de encomendas na Brafer Construções Metálicas, com sede em Araucária, na região de Curitiba, está em média 10% menor do que o esperado. Segundo o vice-presidente da empresa, Luiz Carlos Caggiano, várias obras para a Copa do Mundo, como as dos estádios de Manaus, Fortaleza, Salvador e de Porto Alegre, estão usando estruturas metálicas importadas da China. Isso ocorre justamente em um momento em que a empresa, que emprega 1,1 mil pessoas, amplia seus investimentos. Depois de anunciar que vai dobrar a produção da fábrica do Rio de Janeiro, construir uma unidade em Juiz de Fora (MG) e mais uma linha de galvanização a fogo em Araucária – que somam R$ 152 milhões em recursos – a Brafer pretende investir mais R$ 100 milhões em uma fábrica de estruturas para torres de linhas de transmissão no Rio. "Apostamos no crescimento nos próximos anos, estamos investindo, mas corremos o risco de não ter para quem vender em cinco anos" diz ele.

Para concorrer, a saída de algumas empresas tem sido aumentar a produtividade ao invés de ampliar a capacidade de produção. Dono da ZM Bombas, fabricante de bombas hidraulicas e lavadoras de alta pressão em Maringá, o empresário Carlos Walter Martins Pedro diz que este ano vai investir 18% do seu faturamento (cerca de R$ 5 milhões) nesse sentido. "Geralmente investíamos entre 8% e 10% do nosso faturamento, mas precisamos agregar tecnologia para competirmos. A nossa prioridade agora é essa."

Expectativa

Setor terá mais desoneração e importados serão taxados

Depois de prorrogar a redução do IPI para eletrodomésticos de linha branca e estender o benefício para o setor móveis e revestimentos, o governo deve lançar amanhã um pacote de medidas de estímulo à indústria, que deve incluir ampliação da desoneração na folha de pagamento para nove setores e redução de juros para financiamentos e criação de uma Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) adicional para as importações de alguns produtos.

O câmbio desfavorável, a que­­­­bra da safra agrícola e o ritmo mais lento de geração de empregos vão fazer a indústria do Paraná crescer menos neste ano. A projeção do departamento econômico da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) é que as vendas industriais avancem 3,5%, contra 5,8% no ano passado. Descontados os anos em que a indústria encolheu, esse será o menor crescimento do faturamento desde 2001 (1,9%).

A indústria tem sido o setor mais afetado pela retração da economia e pelo câmbio desfavorável, que vem provocando uma enxurrada de entrada de importados no país. Um levantamento da Con­­­­federação Nacional da Indústria (CNI) aponta que os produtos importados já re­­presentam 20% do que é vendido hoje no país.

Segundo Roberto Zurcher, eco­­nomista da Fiep, o resultado mais fraco do agronegócio deve impactar no desempenho da indústria do Pa­­raná em 2012, já que a economia do estado ainda depende fortemente do resultado que vem do campo. A quebra da safra também reduz a produção de alimentos e bebidas, segmento que responde por 43% das vendas industriais no Paraná.

Os primeiros sinais de que 2012 não será como o ano pas­­sado vieram no início do ano, quando as vendas despencaram 21,7% em relação a dezembro e 16% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Para Julio Suzuki, di­­re­­tor de pesquisas do Ins­­tituto Paranaense de Desen­­volvimento Econômico Social (Ipardes), o aumento de 7% da produção industrial do estado no ano passado, medido pelo IBGE, foi um ponto fora da curva, puxado principalmente pela maior agressividade das montadoras de automóveis no estado. Em janeiro, a produção industrial no estado ficou 11,5% abaixo da de dezembro e 4,8% acima da de janeiro de 2011.

O câmbio desfavorável permanece, de acordo com Suzuki, ao longo desse ano, como o um dos principais problemas da indústria. "O imbróglio é que o atual arranjo macroeconômico privilegia o consumo interno e não as exportações. Mexer no câmbio, embora facilite as vendas externas das indústrias, também significaria um aumento dos custos dos produtos no mercado interno para a população", diz.

Contraponto

Apesar disso, ao longo do ano entrarão em cena alguns fatores de estímulo que poderão melhorar o desempenho industrial, como a redução da taxa básica de juros e a elevação do salário mínimo, que ampliarão o consumo de setores empregadores e de baixa penetração das importações, como alimentos e bebidas. Além disso, setores beneficiados com a redução do IPI, como eletrodomésticos de linha branca e móveis, devem ir bem, segundo o presidente da Fiep, Edson Campagnolo. "Outro fator a ser considerado é a instalação de novas indústrias no estado", acrescenta.

Apesar do crescimento menor, o desempenho do Paraná deve ser superior à média nacional. A CNI projetava, no fim do ano passado, um avanço de 2,3% para a indústria em 2012. A nova projeção sai ainda este mês. A explicação, segundo Zurcher, está na estrutura industrial do estado – que é fortemente concentrada em alimentos e bebidas, automóveis e combustíveis e voltada para o mercado interno. Isso fez com que, nos últimos anos, o desempenho da indústria no estado descolasse do nacional.

Atividade perde cada vez mais fatia no PIB

Um em cada cinco produ­­tos industriais vendidos no Brasil em 2011 foi fabri­­ca­­do em outro país, se­­gun­­do levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os produtos importados responderam por 19,8% do consumo no ano passado, porcentual recorde, acima dos 17,8% de 2010 e bem superior aos 15,1% registrados em 1996, início da série histórica.

A própria indústria nacional contribuiu para o aumentou no consumo de importados: 21,7% dos insumos utilizados pelo setor vieram de outros países (2,6% a mais que em 2010).

Não há números regionalizados sobre a participação de importados, mas no Paraná cinco grupos de produtos fecharam o ano passado com déficit na balança comercial – têxteis, material elétrico e eletrônicos, material de transportes, mecânica, petróleo e derivados e produtos químicos.

São segmentos que vêm registrando forte concorrên­­cia de produtos acabados (vestuário) e forte compra de insumos importados (in­­dústrias química, mecâ­­nica e eletroeletrônica). "Al­­gumas empresas começam a reduzir a produção e se trans­­formar em simples re­­vendedoras de produtos importados", afirma Carlos Walter Martins Pedro, presidente do Sindimetal na região de Maringá e dono da ZM Bombas, fabricante de bombas hidráulicas e lavadoras de alta pressão. A participação dos insumos importados supera 30% hoje nesse setor.

Como resultado desse quadro, a indústria de trans­­formação do Paraná vem perdendo espaço: em 2004, ela respondia por 20,91% do PIB estadual, hoje está em 18,8%, segundo o Ipardes.

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