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Exportações de soja ampliaram a participação de itens básicos na balança paranaense | Henry Milleo / Gazeta do Povo
Exportações de soja ampliaram a participação de itens básicos na balança paranaense| Foto: Henry Milleo / Gazeta do Povo

Desequilíbrio

Itens básicos atingem o maior peso na balança brasileira em 34 anos

Folhapress

O Brasil fechou junho com o melhor resultado de balança comercial para o mês desde 2011. As exportações superaram as importações em US$ 2,4 bilhões, segundo informações divulgadas ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O resultado positivo ajudou a diminuir o rombo na balança comercial no ano. O déficit agora é de US$ 2,5 bilhões, menor do que o registrado no primeiro semestre de 2013, quando ficou em US$ 3,1 bilhões.

Os produtos básicos representaram 50,8% das exportações brasileiras no primeiro semestre, a maior proporção alcançada no período desde 1980, segundo o MDIC. Nos seis primeiros meses do ano anterior, estes produtos representaram 47,5% da pauta.

O avanço é proporcional às dificuldades enfrentadas pela indústria nacional, que vem sofrendo com a queda nas vendas ao exterior. Os manufaturados, os bens industrializados de maior valor agregado, representaram no período apenas 34,4% das vendas, ante fatia de 37,4% nos seis primeiros meses de 2013.

Em números absolutos, as vendas da indústria caíram de US$ 57,4 bilhões de janeiro a junho do ano passado para US$ 51,4 bilhões no mesmo período deste ano.

Opinião

Concentração é sinal de alerta para a indústria

Guido Orgis, editor executivo de Economia

O aumento na participação dos produtos básicos na pauta de exportações não é uma boa notícia. Esse não é um julgamento sobre o que é bom ou ruim exportar – uma economia ganha quando está mais aberta ao comércio e a nossa está entre as mais fechadas –, mas sobre como anda a dinâmica da produtividade no Brasil. Os setores mais produtivos tendem a ser mais bem-sucedidos quando procuram outros mercados. Uma pauta exportadora diversa e dinâmica, com participação forte da indústria, de preferência com produtos inovadores de alto valor agregado, é reflexo de uma economia mais forte do que a de uma região que concentra seu sucesso em produtos básicos.

O Paraná explora bem seu potencial agrícola, mas não pode se acomodar ao empobrecimento de sua pauta exportadora, apesar de problemas como câmbio, falta de infraestrutura, mão de obra pouco capacitada e a carga tributária proibitiva. A crise na Argentina tornou as coisas piores, mas a tendência de perda de espaço da indústria vem de alguns anos e precisa ser encarada como um sinal de que a política industrial não funcionou.

Pela primeira vez em 16 anos, o Paraná deve fechar o ano exportando mais produtos básicos do que industrializados. A participação no comércio exterior de itens não manufaturados, como soja e milho, já bateu a casa dos 56% no período de janeiro a maio de 2014 e a tendência é encerrar o ano com um desempenho superior a 50%. Situação idêntica à enfrentada pelo restante do país.

INFOGRÁFICO: Acompanhe o crescimento das exportações de industrializados pelo Paraná

Se esse movimento se concretizar será um retrocesso na diversificação da pauta paranaense de exportações iniciada dez anos atrás, quando a participação da indústria começou a aumentar. Em 2006, por exemplo, a presença de produtos básicos foi de apenas 29%. De lá para cá, a distância entre um e outro setor foi diminuindo ano a ano.

A perda de mercado da indústria, que já vinha enfrentando o câmbio valorizado, é reflexo da crise argentina e da queda de exportações do setor automotivo.

Segundo o economista Roberto Zürcher, analista do departamento econômico da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), os produtos básicos geralmente ganham maior participação no primeiro semestre na pauta de exportações por causa da safra de verão – fator intensificado neste ano pela antecipação de embarques. Mas, com as dificuldades de comércio com a Argentina, dificilmente essa conta será revertida até o fim do ano. "Provavelmente teremos os básicos com mais de 50% das exportações paranaenses em 2014", afirma.

Sem negócio

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) revelam que os problemas no país vizinho, que está à beira de uma moratória, afetaram significativamente as exportações paranaenses. A queda chega a 20% nos primeiros cinco meses do ano, para US$ 561,5 milhões. A Argentina é o segundo maior importador de produtos do Paraná, com 8% de participação. A China ocupa o primeiro lugar, com 28,7%. As importações chinesas cresceram 37% no período.

A redução dos embarques para o país vizinho afeta diretamente o comportamento dos produtos industrializados, já que é o principal destino desse grupo. Os chineses, por outro lado, concentram a pauta em commodities agrícolas, como grãos.

"Para a Argentina estão concentradas as exportações de automóveis, papel, motores e tratores", lembra Zürcher. A Argentina influenciou a queda de exportações da Renault, maior exportadora de automóveis do estado, que viu suas vendas externas no período caírem 16,5%, para US$ 285,4 milhões. A Volvo registrou decréscimo de 13,39%, para US$ 117 milhões; a Bosch teve queda de 11,27%, para US$ 69,3 milhões; e a CNH Industrial, de 18,10%, para US$ 53,5 milhões.

O problema de concentrar a pauta de exportações em produtos básicos é a dependência dos preços internacionais. "O exportador não forma o preço do produto, que depende do fluxo de oferta e demanda do mercado internacional", diz Zürcher. Também são produtos de menor valor agregado, que precisam de escala para gerar rentabilidade.

Recuperar mercado é tarefa árdua

O câmbio deixou de ser o principal problema do exportador com a valorização no fim do ano passado, mas recuperar mercados perdidos e ampliar destinos para os produtos nacionais vem sendo uma tarefa árdua. Além da crise na Argentina, as vendas externas da indústria brasileira esbarram na baixa produtividade das fábricas, na má infraestrutura logística e na falta de uma postura mais ativa do governo em firmar acordos comerciais com outros países.

A indústria brasileira perdeu competitividade, enquanto os produtos agrícolas cresceram embalados pelos bons preços internacionais e o aumento da demanda. Desde 2009, com a crise econômica, os produtos básicos representam mais de 40% da pauta de exportações paranaenses.

A projeção da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) é que o país responderá por 1,25% do comércio global em 2014, ligeiramente inferior ao estimado para o ano passado, de 1,30%. Os cálculos são da Organização Mundial do Comércio. A previsão é que haja uma redução de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões nas exportações do Brasil para a Argentina.

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