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O mercado imobiliário brasileiro vem batendo recordes nos últimos anos. Só no primeiro semestre deste ano, quase R$ 13 bilhões em recursos da poupança foram destinados ao financiamento da casa própria, segundo a Associação das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Mas a disparada da inflação neste ano e as altas nos juros trouxeram incertezas a esse panorama.

"No mercado imobiliário, a inflação mata", diz João Crestana, presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi). "É um medo de todo mundo, e o nosso setor também tem essa preocupação". Por conta desse temor, a velocidade de vendas de imóveis tem registrado desaceleração, aponta ele.

Segundo Crestana, o mercado vinha registrando um crescimento anormal, que a situação econômica atual tende a estabilizar: "Nossa velocidade de venda estava 30% acima do normal. Agora continua boa, mas não tanto."

Longo prazo

Efeitos mais profundos, no entanto, só serão sentidos se a deterioração no cenário econômico se prolongar.

Para 2009, a expectativa do setor da construção civil é de um crescimento de cerca de 10%, em linha com o registrado nos últimos anos. "Não é essa inflação que vai influenciar no crescimento, uma vez que a decisão de construir já foi tomada anteriormente. Achamos que vai influenciar a partir do segundo semestre do ano que vem", diz Sergio Watanabe, presidente do Sinduscon.

Com um processo de maturação longo, o mercado imobiliário tem uma inércia diferente dos demais. Uma decisão de investimento tomada no início do ano ainda começará a sair do chão em 2009. A partir daí, geralmente uma obra não demora menos de um ano e meio para ficar pronta.

"O mercado imobiliário tem uma inércia muito diferente dos outros, e o processo demora cerca de seis meses para começar a ter algum tipo de reação. Ainda é muito cedo para saber o que vai acontecer", diz Luiz Paulo Pompéia, presidente da Empresa Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp). "Se nesse meio tempo tudo voltar ao lugar, acaba tendo quase nenhum reflexo", aponta.

Classe média

Paradoxalmente, o segmento em que as vendas vêm recuando mais é o de alta renda, com imóveis acima de R$ 350 mil. Essa faixa teve um "boom" nos últimos anos – e a oferta superou a demanda. "Nesse segmento vamos ter problemas. As incorporadoras lançaram muita coisa, houve uma superoferta", diz Pompéia.

Em maio, o excesso de oferta nessa faixa fez com que uma grande construtora recuasse de um empreendimento lançado no ano anterior, na zona sul de São Paulo, em que os apartamentos teriam preço médio de R$ 700 mil.

Perdas de um lado, ganhos de outro: o mercado vive uma redução no número de lançamentos, mas um aumento na produção de unidades – o que provavelmente significa que o produto imobiliário está se popularizando.

Com um déficit habitacional de cerca de 1,5 milhão de moradias só na capital paulista, segundo estimativa da Fundação Getulio Vargas (FGV), a construção civil para a classe média segue em franca ascensão.

"Estamos produzindo mais para a classe média do que nos dois anos anteriores. Especialmente nos imóveis de dois dormitórios, a demanda é gigantesca. Dá para continuar construindo e lançando por pelo menos mais uns dez anos", diz o executivo da Embraesp.

Alta diluída

Para o bolso do consumidor, no entanto, financiar um imóvel ficou mais pesado. Não tanto pelo valor das parcelas, mas pelo "encurtamento" do orçamento das famílias. Com o aumento dos preços dos produtos essenciais, como alimentos, os recursos disponíveis para pagar um financiamento se tornam mais escassos. "A inflação é devastadora em qualquer economia e em qualquer setor. Isso vai influenciar diretamente na capacidade de compra, diz Watanabe.

Andrew Storfsr, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), aconselha cuidado aos futuros compradores: "Ele tem que pensar também que, em determinado momento, pode ter um aperto financeiro e fazer uma administração adequada. O financiamento tem que ser feito com certa folga. O momento continua bom (para financiar imóveis), mas tem que se ter um pouco de atenção", adverte.

Desde o início do aperto econômico, algumas financiadoras encurtaram prazos e deixaram de lado planos com parcelas pré-fixadas. O "aperto", no entanto, não afastou os compradores, segundo Storfsr.

"Uma subida de juros de um ou dois pontos percentuais afeta pouco cada parcela. Se você diminuir isso ao longo dos meses, não vai fazer muita diferença na decisão de compra. A preocupação de quem compra um imóvel é mais ligada à expectativa futura, de confiança de que a pessoa vai continuar empregada, com renda", diz.

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