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Governo vem resistindo a aumentar combustíveis por medo de pressão inflacionária, mas IPCA acumulado vem caindo | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Governo vem resistindo a aumentar combustíveis por medo de pressão inflacionária, mas IPCA acumulado vem caindo| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Efeito cascata exige prudência

Para o economista Pedro Ramos, do Banco Sicredi, os últimos dados da inflação, sobretudo a queda forte do IPCA-15 em março, até podem ajudar o governo a decidir sobre o reajuste nos preços de combustíveis, mas esse anúncio, se ocorrer, deve ficar mais para o segundo semestre. "Ainda é cedo, o ano mal começou. Se pararmos para pensar em termos de defasagem dos efeitos da política monetária, veremos força mesmo a partir segundo trimestre. Talvez isso [inflação baixa] ajude a tomar a decisão no segundo semestre, quando haverá mais certeza sobre a inflação no final do ano. Hoje ainda é precipitado, ainda mais que são alguns movimentos que estão facilitando esse comportamento do IPCA", afirma, dando como exemplo os alimentos.

Para Ramos, trata-se de uma decisão delicada, dado o efeito em cascata que um reajuste de preços de combustíveis traz para uma série de outros preços, como os de serviços, por exemplo. Na sua avaliação, quando e se houver aumento, o governo deve primeiramente usar o espaço ainda restante de desoneração da Cide para atenuar o efeito sobre o IPCA para, num segundo momento, deixar o repasse impactar a inflação.

Ao contrário dos demais economistas, o sócio-diretor da RC Consultores Fábio Silveira é categórico. "Definitivamente, este não é o momento de anunciar alta de preços de combustíveis", diz. Silveira argumenta que pressões inflacionárias de produtos agropecuários no atacado se avizinham e devem transformar-se em alta de preços ao consumidor no mês que vem. "Os institutos de pesquisa estão captando movimentos defasados. Vamos ter em breve pressão inflacionária dos preços agrícolas. O anúncio de reajuste de combustíveis não seria prudente agora", afirma.

O atual momento de baixa inflação corrente no Brasil pode ser oportuno para que a Petrobras consiga convencer o governo a elevar os preços dos combustíveis, cuja defasagem em relação ao mercado externo é crescente nos últimos meses, avaliam analistas. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o IPCA-15 ficou em 0,25%, taxa muito aquém da previsão mais otimista do mercado. Com isso, o tema dos preços de combustíveis volta à pauta.

"Talvez fosse a hora de a Petro­bras pensar seriamente em elevar os preços dos combustíveis", afirma o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. Segundo ele, um aumento de 10% na refinaria (o que reduziria pela metade a defasagem estimada) teria impacto em torno de 0,40 ponto porcentual no IPCA de 2012, "o que seria mais do que compensado pela ‘folga’ que o BC ganhou no 1.º trimestre", argumenta.

Nos cálculos do economista, o IPCA em março deve ficar entre 0,35% e 0,40%, "o que levaria a inflação ao fim do primeiro trimestre para algo próximo de 5,40% no acumulado em 12 meses, 0,50 ponto abaixo do esperado pelo BC em dezembro de 2011". Com essa folga, o governo nem precisaria, em caso de eventual reajuste dos combustíveis, utilizar da desoneração tributária via Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para atenuar o impacto sobre os preços.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB, concorda com a avaliação. "Dados os preços do petróleo elevados, o governo até pode se convencer de que a inflação está realmente convergindo para o centro da meta e permitir um reajuste nos preços de combustíveis", diz. Porém, ele acredita que, se vier de fato o aumento, o mercado deve rever para cima suas expectativas para o IPCA. Sem aumento nos combustíveis, Rostagno projeta taxa de 5,31% para o IPCA deste ano.

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