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Hisashi Taniguchi, presidente da ZMP Inc., posa em frente a um veículo equipado com o sistema de direção autônoma que desenvolveu | Kiyoshi Ota/Bloomberg
Hisashi Taniguchi, presidente da ZMP Inc., posa em frente a um veículo equipado com o sistema de direção autônoma que desenvolveu| Foto: Kiyoshi Ota/Bloomberg

Hisashi Taniguchi tirou um período sabático na tarefa de desenvolver softwares para táxis autônomos e drones para realizar uma peregrinação a um templo budista no oeste do Japão. Ele raspou a cabeça, vestiu roupas pretas e estudou para se tornar líder do santuário.

Ele passou no teste, mas em uma semana estava de volta ao escritório ZMP Inc., em Tóquio, supervisionando a sua empresa de robótica e usando roupas mais convencionais, incluindo jeans e tênis All Star vermelho. Como fundador e chefe-executivo da ZMP ele tenta casar os ensinamentos milenares com os esforços para tornar a inteligência artificial parte do cotidiano das pessoas.

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“O templo nos ensina que se você brilhar, vai emanar luz sobre aqueles que o rodeiam”, diz Taniguchi, 52. “No mundo empresarial é o mesmo: os produtos que são úteis iluminam os outros”.

Para a ZMP, isso inclui táxis autônomos, monitores cardíacos portáteis, drones de entrega e carrinhos de mão automáticos para serem usados no transporte de cargas pesadas. Taniguchi firmou uma joint venture com DeNA Co. e com uma unidade da Sony Corp.; e a ZMP planeja lançar sua IPO em Tóquio no início de setembro, segundo uma pessoa familiarizada com a situação.

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Shoko Niino, porta-voz da ZMP, se recusou a comentar. Miwa Aonuma, porta-voz para do Japan Exchange Group Inc., também não quis falar sobre o assunto.

Koji Endo, diretor-gerente da empresa independente de pesquisas Advanced Research Japan, estimou que o IPO levantará entre 200 bilhões e 300 bilhões de ienes, com base na abertura da Cyberdyne Inc., em 2014, que faz exoesqueletos robóticos para pessoas que não podem andar.

A ZMP pretende instalar softwares e sensores de direção autônoma na época dos Jogos Olímpicos de 2020, em Tóquio. O primeiro-ministro Shinzo Abe, que se encontrou com Taniguchi, prometeu implementar serviços de condução autônoma nos Jogos e afirmou que a infraestrutura básica estará pronta no ano que vem. Taniguchi se reuniu com Abe em janeiro de 2015 para pressioná-lo sobre essas medidas.

Histórico

Taniguchi estudou química antes de começar a trabalhar para um fabricante de freios. Logo, passou a trabalhar em robôs humanoides até decidir que queria um “robô-músico” para acompanhá-lo a todos os cantos.

Então deu início à ZMP para criar um. Hoje, a empresa tem cerca de 100 empregados e vendas na ordem de 3 bilhões de ienes, embora as previsões Taniguchi sejam de que a empresa irá atingir 100 bilhões de ienes até 2020.

“Eu comecei fazendo coisas que queria para mim”, disse Taniguchi, relaxado em um sofá branco de couro. “Mas eu senti que estava errado. Agora me concentro na criação de produtos que as pessoas precisam”.

Os negócios de Taniguchi deram uma guinada no ano passado, depois que ele se encontrou com Hiroshi Nakajima, vice-presidente que coordena a área de negócios automotivos da DeNA – empresa que opera uma plataforma de jogos online e tem parceria com a Nintendo Co.

Eles formaram a Robot Taxi Inc. em maio. A DeNA, que criou o aplicativo móvel, tem cerca de dois terços da empresa e Nakajima é CEO. Minivans sem motoristas foram testadas sem quaisquer acidentes.

“Fiquei particularmente impressionado com o desejo de Taniguchi e outros membros da ZMP de não apenas desenvolver uma nova tecnologia para seu próprio bem, mas também criar algo que irá beneficiar a sociedade em maior escala”, disse Nakajima por e-mail.

O interesse de Taniguchi em táxis cresceu no templo, onde muitos adoradores são idosos e não têm veículos. Estima-se que a população do Japão deva cair 32% por cento, para 86,7 milhões, em 2060; cerca de 40% das pessoas terão 65 anos ou mais, o que, ele indica, significa menos taxistas.

“Os idosos no campo, as crianças e as pessoas deficientes – eles são os que não podem dirigir e precisam muito disso”, diz Taniguchi. “Quando eu vi esses homens e mulheres com dificuldade, quis ajudar.”

Seu timing foi certeiro. Abe está promovendo a robótica – comercial e industrial – como a tecnologia do futuro no Japão, com o setor tendo valor estimado pelo governo em 9,7 trilhões de ienes em 2035. Em 2015, foram 1,6 trilhões de ienes.

Até lá, cerca de 12 milhões de veículos totalmente autônomos deverão ter sido vendidos no mundo todo, com o mercado estimado em US$ 77 bilhões, de acordo com o Boston Consulting Group. Tesla Motors Inc. e Alphabet Inc. (dona do Google) estão entre as empresas desenvolvendo tais veículos.

Filosofia budista

As escrituras budistas sobre altruísmo e bondade são essenciais para a filosofia empresarial de Taniguchi, diz ele. Seu falecido pai era um monge, mas foi apenas há cerca de uma década que ele adquiriu as qualificações para a prática. Agora ele é um “ajari”, ou monge sênior.

“A ZMP e o templo estão conectados”, diz Taniguchi, que medita quando tem problemas nos negócios. “A maior parte da minha equipe tende a manter a calma e evitar táticas agressivas de vendas”.

Perguntado sobre o que diferencia a ZMP, Taniguchi destaca seu trabalho com os sensores ópticos e softwares – olhos e cérebro da máquina –, em vez de os carros propriamente ditos. Eles se adaptam aos modelos das montadoras nacionais, como a Nissan Motor Co. e Honda, que tendem a comprar este tipo de tecnologia de fornecedores, disse Koji Endo.

“A força da ZMP está no que você pode chamar de coração da condução autônoma: o cérebro, ou inteligência artificial”, diz Endo. “A tecnologia da ZMP é muito superior”.

Taniguchi, que usa o cabelo com um coque inspirado nos guerreiros samurais, leva visitantes para ver um Estima modificado, uma minivan híbrida da Toyota. Há pequenas lentes e sensores espalhados pelo chassi branco; uma tela de computador fica acima do assento do passageiro.

Este sistema pode ser instalado em qualquer veículo – de forma parecida com a que os softwares Android, do Google, podem ser colocados na maioria dos smartphones –, o que significa que as empresas de táxi não precisam recorrer a um fabricante se quiserem veículos autônomos, diz Taniguchi.

Os planos de longo prazo da ZMP incluem expandir seu negócio de táxis sem motorista para a China.

“Há um monte de monges neste mundo”, diz Taniguchi. “Não há muitas pessoas que estão tentando mudar o mundo com robôs. É um campo onde sou um dos poucos que podem contribuir”.

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