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São Paulo e Brasília (Das Agências) – A decisão da China de valorizar em 2,1% sua moeda (o yuan), depois de muita pressão internacional, não animou os empresários brasileiros. Para representantes de vários setores, a medida é inócua e não impedirá a invasão dos produtos importados da China que já ameaçam a produção de bens de consumo nacionais. A China anunciou que sua moeda chinesa não será mais atrelada à americana, mas a uma cesta de moedas estrangeiras. O yuan vai oscilar em uma banda de 0,3% para cima ou para baixo em relação a essa cesta de moedas estrangeiras – cuja composição ainda não foi determinada.

Segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB),José Augusto de Castro, os efeitos só começariam a ser sentidos por aqui a partir de uma valorização de pelo menos 10%. "Foi uma medida muito tímida e que pode ser considerada ineficaz em termos práticos", disse o diretor de comércio exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Humberto Barbato.

Para o empresário, a China, além de anunciar que desatrelaria sua moeda do dólar, deveria também ter adotado o câmbio flutuante ao invés de optar pela adoção de bandas de oscilação. "Esse mecanismo impede a livre flutuação e permite que a variação seja controlada, o que não é bom para o comércio internacional."

Já o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, disse que o efeito dessa desvalorização sobre as importações brasileiras será ínfimo. "A competitividade da China frente aos produtos brasileiros é enorme. Eles não sofrem com problemas de carga tributária, leis trabalhistas e juros altos que pesam sobre os preços dos produtos brasileiros."

Para o presidente da Francal (maior feira de calçados do Brasil), Abdala Jamil Abdala, o preço dos produtos chineses é tão baixo que a valorização do yuan não freará as importações brasileiras. "Eles têm uma mão-de-obra semi-escrava. Essas diferenças de condições de produção são sentidas no preço dos produtos."

O presidente da Associação dos Fabricantes Brasileiros de Brinquedos (Abrinq), Synésio Batista da Costa, afirmou que a valorização da moeda chinesa será ineficaz se a Receita Federal não apertar o cerco contra os importadores. "Existem formas de compensar essa valorização de moeda." Segundo ele, essa valorização pode ser compensada por meio do subfaturamento das notas de compras. "Pode-se subfaturar tanto em valores quanto em quantidade."

Para Barbato, do Ciesp, essa medida da China chega a ser preocupante. "Dá a impressão que a China fez alguma coisa para resolver seu problema de desvalorização. Mas o mecanismo adotado permite que a valorização seja controlada."

Todos os empresários foram unânimes em dizer que não só o Brasil, mas produtores de todo o mundo vinham criticando a China por manter por tanto tempo sua moeda desvalorizada de forma fictícia em relação ao dólar. Com isso, o país incentivava a venda de seus produtos para outros mercados com uma moeda subvalorizada. Agora, o câmbio entre as duas moedas está em 8,11 yuans para cada US$ 1. A moeda americana antes era cotada a 8,227 yuans, valor a que foi cotada por mais de dez anos.

Já opresidente do Banco Central, Henrique Meirelles, elogiou a flexibilização do regime de câmbio chinês e previu que o país vai adotar o câmbio flutuante no futuro. Meirelles – que participou da posse de novos ministros no Palácio do Planalto – afirmou que a mudança na paridade da moeda chinesa revela "menor rigidez" por parte do governo de Pequim e "é o primeiro passo para uma reforma cambial mais ampla, que deverá desaguar num regime de câmbio flutuante".

"Não há dúvidas de que o mercado chinês está se abrindo", afirmou o presidente do BC, que não quis responder se deixará o comando da instituição para ser candidato a governador de Goiás. Ele também não quis comentar a manutenção do juro básico pelo Comitê de Política Monetária (Copom). "A ata do Copom vai responder", afirmou.

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