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A expectativa de aumento nas vendas nos setores que dependem do frio para ganhar dinheiro deu lugar à frustração causada pelo calor fora de época registrado neste inverno. O que dizer da indústria do vestuário – que estava preparada para "um inverno dos mais rigorosos" –, do estoque de vinhos e sopas empacado nos supermercados, dos aquecedores que ficaram nas prateleiras das lojas, ou mesmo da carne de porco que não foi parar na feijoada?

"O inverno já passou, e foi uma tristeza", resume Wilson Becker, presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Cianorte, principal pólo do setor no Paraná. O drama, diz ele, não é de hoje. "Nos últimos quatro anos o verão tem dado mais lucro." De fato, a coleção de verão pode ser vendida de agosto a março mas, segundo ele, para vender o inverno é preciso que o frio aconteça. Becker estima que o setor tenha vendido 35% a menos que no ano anterior – e boa parte do que foi comprado pelas lojas continua estocado. "A maioria já fez promoção para despachar esta mercadoria. O que sobrar será vendido em março do ano que vem." E como a coleção de verão é apresentada nesta época aos atacadistas, Becker torce para que o calor, agora, continue. "Se esfriar agora, só vai atrapalhar."

A presidente do Sindicato das Costureiras de Cianorte, Elizabete Alves de Matos, conta que já não se produz mais moda para inverno no Paraná. "Agora, só meia-estação." O clima quente e a concorrência com produtos importados da China fez cair o número de contratações no setor, cuja produção para o inverno começa em janeiro, ou antes. "Era para estar a todo vapor no início do ano, mas foi fraco." Para se ter uma idéia, em janeiro e fevereiro de 2000 foram demitidos 124 trabalhadores do setor em Cianorte. Já nos primeiros dois meses deste ano, o número de demissões dobrou: foram 247.

O frio também era esperado pelo empresário José Raul Fiorese, proprietário do restaurante Chateau d’Gazon, em Curitiba, que tem no fondue seu carro-chefe (são 15 variedades). A preparação para o inverno inclui a contratação de 15 funcionários temporários (no verão a casa trabalha com seis), para dar conta de 2 mil freqüentadores ao mês – contra 500 por mês no verão. Mas ainda que as noites curitibanas não tenham sido muito quentes, este ano o movimento não correspondeu às expectativas. "De abril a junho tivemos 10% a mais de movimento que no ano passado. Mas no mês de julho houve queda de 30%."

"Há toda uma estratégia montada para esperar o frio", conta Gilberto Alves, diretor regional no Centro-Sul do supermercado Big. Mas o frio não veio, e a rede viu subir em 10% o consumo de cerveja em junho e julho, em comparação com igual período do ano passado. O paranaense também comprou 15% a mais de suco e 30% a mais de água. Por outro lado, o aumento esperado de 20% na venda de sopas e caldos não ocorreu. "A feira de vinhos também vendeu menos que a nossa expectativa". No caso do varejo, explica o diretor, é preciso mudar o foco para não entrar em prejuízo. "A gente expõe mais vinhos brancos, tintos leves ou espumantes." A estratégia parece ter dado certo, já que a procura por espumantes no Big cresceu 5% este ano.

O "frio que não veio" também fez o preço da carne bovina continuar levemente estável, quando ele costuma subir por conta da "entressafra" – o inverno rigoroso costuma castigar as pastagens e o boi demora mais para engordar. A oferta cai e o preço sobe. "Este ano o preço do boi já não está bom por causa do problema com o anúncio de aftosa, e sem frio, ele continua baixo", avalia o coordenador do conselho temático de Agroindústria e Alimentos da Fiep, Péricles Salazar. A carne suína também vendeu menos – 20%, segundo estimativas do presidente. A explicação de Salazar é que a feijoada, prato apreciado no inverno, não foi tão bem-vinda nos últimos meses como de costume.

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