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A concentração de dinheiro em aplicações de curto prazo feitas pelos bancos diretamente no Banco Central já supera 140 bilhões de reais.

Metade dessa cifra inédita voltará ao mercado até o dia 16 e deve ser recapturada pelo BC com a venda temporária de títulos públicos que mantém em sua carteira.

Sobra de dinheiro no mercado puxa o juro para baixo. Escassez puxa o juro para cima. Cabe ao BC equiparar o saldo das reservas bancárias ao estoque de títulos a ser financiado no curto prazo, para manter o juro corrente em patamar próximo à meta Selic -atualmente de 12,75 por cento ao ano.

A Selic, a despeito de toda polêmica que provoca por ser considerada muito alta, é a que o Comitê de Política Monetária (Copom) vê como a adequada para que a inflação fique sob controle.

O Tesouro Nacional, responsável pela gestão das dívidas interna e externa do país, colabora indiretamente com o BC quando vende títulos públicos acima dos resgates previstos.

No primeiro trimestre, o Tesouro vendeu títulos suficientes para substituir a dívida que estava vencendo. Em abril, porém, é grande a probabilidade de o Tesouro promover resgate líquido de títulos -decisão que mantém a dívida pública em relativo equilíbrio ou sujeita à expansão turbinada pelos juros.

Enxurrada de moeda

O BC será lançado, portanto, à sua própria sorte nas próximas semanas. E ela é amarga porque também cabe ao BC comprar os dólares que não param de chegar ao mercado, jorrando por duas fontes: superávits da balança comercial e investimentos de aplicadores não-residentes no país.

O BC compra dólares e amplia as reservas internacionais. Para pagar os dólares, o BC emite reais e o resultado é a multiplicação de dinheiro na praça.

No primeiro trimestre, o BC usou mais de 46 bilhões de reais para comprar cerca de 21 bilhões de dólares no mercado interno. Para enxugar os reais, BC e Tesouro venderam, em caráter provisório ou definitivo, cerca de 56 bilhões de reais em títulos públicos que pagam juros respeitáveis.

Atuação incessante

A atuação do BC no câmbio é incessante, mas não interrompe a queda do dólar. A taxa de câmbio ameaça romper o suporte de 2 reais e fechou a semana passada renovando o menor preço em seis anos.

"Para estancar a valorização cambial, o BC optou, no primeiro trimestre, por intensificar bastante a compra de divisas, mantendo uma postura cautelosa na redução da taxa básica de juro", comenta Luciano Coutinho, professor da Unicamp e sócio da LCA Consultores.

O economista reconhece que a cautela do BC na redução do juro revela preocupação com o ritmo de expansão da demanda e com a possibilidade de que surjam gargalos de oferta.

Coutinho acredita, contudo, que o BC deverá rever o ritmo das intervenções no câmbio e do corte do juro, lembrando que o próprio presidente do BC, Henrique Meirelles, ressaltou há poucos dias, ao comentar o "novo" PIB, que "o investimento tem produtividade maior" -o que sugere conforto maior quanto ao aumento da oferta de bens em relação à demanda.

Alerta sobre inflação

A LCA Consultores confirma, em relatório, a expectativa de que o Copom retomará o corte da Selic de 0,50 ponto percentual nas reuniões de junho e julho, levando a Selic a 10,75 por cento em dezembro.

Coutinho pondera que a possibilidade de o Brasil obter melhores avaliações das agências de classificação de risco deverá tornar os mercados brasileiros acessíveis a um número maior de investidores estrangeiros -realimentando, por tabela, o fluxo de capitais para o país.

A perspectiva de o Brasil acolher volumes ainda mais expressivos de divisa justifica a expectativa da LCA de que o BC poderá rever o "mix" de instrumentos de atuação no mercado.

"O BC parece claramente disposto a conter uma apreciação adicional do câmbio... que, além de impor um ônus expressivo à atividade econômica, poderia provocar uma desaceleração da inflação para níveis muito próximos do 'piso' de 2,5 por cento ao ano das metas estabelecidas para 2007 e 2008."

regime cambial em Xeque

Affonso Celso Pastore, ex-presidente do BC e sócio-diretor da A.C.Pastore & Associados, avalia que a continuidade das intervenções do BC no câmbio pode reduzir a apreciação cambial mas não pode impedi-la totalmente, sob pena de descaracterizar completamente o regime de câmbio flutuante.

Embora considere duvidosos os benefícios adicionais da acumulação de reservas frente aos custos, Pastore acredita que o BC continuará intervindo no mercado, mas com chance pequena de patrocinar alguma desvalorização do real.

Pastore explica que, desde o fim de 2005, a volatilidade do câmbio caiu drasticamente. Ele entende que, a priori, é impossível afirmar que essa queda deveu-se à maior atuação do BC ou se é resultado natural da melhora das contas externas.

O economista insiste, porém, que não é possível ignorar que a intensidade das intervenções no câmbio cresceu a tal ponto que elas passaram a camuflar um regime cambial com características próximas de um câmbio fixo.

"Não estamos afirmando que o BC abandonou totalmente o regime de câmbio flexível, mas sim que as intervenções cresceram, produzindo duas consequências que não podem ocorrer isoladamente, e que são típicas de um regime que persegue metas para a taxa cambial: forte estabilização do câmbio e intensa acumulação de reservas", afirma Pastore.

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