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Especulação - Agentes querem afastar "flippers"

A possibilidade de especular com as ações durante a abertura de capital na bolsa chama tanto a atenção que agentes do mercado estudam a possibilidade de criar um banco de dados para excluir do negócio os chamados "flippers’’ – investidores que entram no IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês) para vender o papel após o início dos negócios.

Os defensores da medida alegam que ela seria uma forma de permitir que as ações caiam nas mãos de investidores de longo prazo. Já os opositores falam que seria impossível identificar com precisão quando um investidor estaria mal-intencionado e que o mercado precisa da liquidez para poder operar.

CVM

Na semana passada, o presidente da Comissão de Valores Mobiliários, Marcelo Trindade, disse que a área técnica da autarquia estuda se a identificação dos "flippers’’ não configuraria violação de sigilo bancário.

São Paulo – O investidor que busca ganho fácil – de até 30% em apenas um dia, como aconteceu em fevereiro do ano passado na estréia da Gafisa na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) –, corre o risco de fazer mau negócio ao pedir a reserva de ações de empresas que abrem o capital. Após três anos de IPOs [oferta inicial de ações, na sigla em inglês], a maioria dos grandes negócios já aconteceu. O ganho com ações de novatas depende da perspectiva de lucro e do preço que custará o papel.

Uma das vantagens de comprar ações durante um IPO é que grande parte tem demanda maior do que a oferta para os papéis emitidos – e, nesse caso, há rateio.

Com o rateio, alguns investidores que não conseguiram a totalidade das ações pleiteadas tendem a comprá-las nos primeiros dias, daí a forte valorização em algumas estréias. Outro ponto positivo é que as empresas contratam um "market maker'', banco que compra e vende os papéis, com o objetivo de assegurar liquidez e evitar grandes oscilações nos preços nas primeiras semanas.

Em terceiro lugar estão elencados a transparência e o respeito ao investidor, já que muitas delas entram direto no chamado Novo Mercado da Bovespa, que zela pelas boas práticas de governança corporativa, e lançam apenas ações ON (com direito a voto).

Mas como avaliar o comportamento de uma ação que não tem passado? E ainda mais quando quase ninguém do mercado pode falar sobre o risco de cair nas garras Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Isso porque nenhuma empresa envolvida na operação de abertura de capital, inclusive aquelas que venderão as ações aos interessados, pode falar sobre o tema com a imprensa. O problema é que a abertura de capital costuma envolver quase todas as corretoras e bancos do mercado brasileiro.

Para a presidente da Apimec (associação dos analistas de mercado) Lucy Sousa, na hora de decidir investir em uma novata na bolsa o ponto mais importante é verificar se as perspectivas de lucro são compatíveis com o preço do papel, que deve ser menor do que o das empresas que já estão no mercado e são do mesmo setor.

"Se tiver preço alto, deve ter perspectiva de lucro que justifique isso. Deve-se olhar o que a empresa vai fazer com o dinheiro. O ideal é que invista para ampliar sua capacidade de crescer. Mas se vai fazer aquisições fora do setor, tem de ter um bom argumento'', disse. Lucy alerta para o fato de que algumas empresas abrem o capital para fazer a reestruturação do passivo. "Não é tão interessante se ela não for uma empresa que tem representatividade no setor. Precisa ver se ela está levantando dinheiro para colocar a casa em ordem e crescer.''

Foi o que aconteceu com a incorporadora Inpar, que abriu o capital no início deste mês. Em crise financeira, a incorporadora estava desde 2003 sem fazer lançamentos e apostava na abertura para voltar a crescer. A Inpar adiantou R$ 100 milhões do Crédit Suisse, banco que coordenou a operação, para pagar com o dinheiro levantado no IPO. As ações da Inpar estrearam com alta de 0,3% no primeiro dia e subiram 9,1% na primeira semana.

Especialistas ressaltam ainda a importância de ver as anotações de auditores e advogados, que têm de se pronunciar caso vejam algo digno de atenção dos investidores, como passivos ambientais e trabalhistas. Todas essas informações constam do prospecto do IPO, que passa por análise da CVM.

"Por causa da regulamentação, colocam-se todos os tipos de informação no prospecto, que termina como uma 'bíblia' de 700 páginas, que não serve para orientar o investidor. Não há tempo para trabalhar as informações. Aprovou o prospecto, já sai a operação porque o mercado pode mudar'', disse Gilberto Biojone, superintendente da Ancor (Associação Nacional das Corretoras).

O superintendente de registro da CVM, Carlos Rebello, admite que o prospecto não é um "documento amigável'' (que chega a ter 700 pápara informação, mas afirma que a corretora que distribui a ação tem o dever de orientar o cliente interessado no IPO.

"A idéia era que o prospecto fosse mais amigável. Mas os ad-vogados enxergam-no como instrumento de defesa em caso de processo. Então ficou maçante. Tem de ter partes positivas e negativas, alertar sobre riscos. Apesar de desejável, a empresa que abre capital não é obrigada a fazer um material de suporte amigável para o investidor não qualificado.''

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