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O empresário baiano Emílio Odebrecht, 61 anos, defende arduamente a idéia de que o Brasil precisa encarar, de uma vez por todas, seus problemas estruturais e promover uma ampla "reforma de Estado". Se não fizer isso, diz Odebrecht, o país viverá assombrado pelos fantasmas da baixa produtividade e do crescimento econômico esporádico – representado pelos famosos "vôos da galinha" do nosso Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas nacionais produzidas durante um ano. "Juros exorbitantes, carga elevada de impostos e baixo financiamento são conseqüências. As causas estão em uma administração pública ineficiente, improdutiva e ineficaz, que gasta mal seus recursos", explica.

As credenciais do diretor-presidente da Odebrecht S.A. para opinar sobre gestão – e se fazer ouvir quando trata do assunto – são mais do que suficientes. De seu posto como comandante-em-chefe do conglomerado fundado em 1944 por seu pai, Norberto Odebrecht, Emílio lidera um império de 30 mil funcionários, presente em 18 países (nas Américas, África, Europa e Oriente Médio) e que faturou no ano passado R$ 23 bilhões – cifra 50% maior que o PIB do Paraguai – nas áreas de construção, química e petroquímica. Na quarta-feira passada, o executivo esteve em Curitiba, falando a estudantes e professores no Centro Universitário Positivo (UnicenP). Pouco antes de sua palestra, intitulada "Construindo um Brasil melhor", Odebrecht concedeu a seguinte entrevista à Gazeta do Povo:

Onde estão as maiores oportunidades de atuação no exterior para empresas brasileiras: nas economias desenvolvidas ou nos mercados emergentes?

Em termos de dimensão de oportunidades, nos países em desenvolvimento, sem dúvida. Mas elas também existem nas nações desenvolvidas, com a diferença de que nesse caso, para poder empreender, as empresas daqui precisam enfrentar uma concorrência muito forte das companhias do Hemisfério Norte.

Os países da América Latina representam um bom ambiente de negócios para o Brasil?

Com certeza. O Brasil tem mercado e esses países têm muitas riquezas naturais. O governo brasileiro deveria ter priorizado essa questão lá atrás, poderia ter firmado mais contratos de importação e exportação e estabelecido mais parcerias com as nações latino-americanas há 25 anos. Faltou a visão de defender interesses maiores, de promover o desenvolvimento do Brasil e de melhorar as relações bilaterais.

Qual sua opinião sobre a atuação do governo federal e do Itamaraty na crise entre a Petro-brás e a Bolívia?

É reflexo de uma posição que o Brasil sempre teve: de não se antecipar aos fatos. Os governantes brasileiros sempre se preocuparam demais com seus mandatos e com o período eleitoral. A preocupação com a reeleição é maior do que com a forma de contribuir para as gerações futuras. É uma deformação que existe na política brasileira.

O senhor recomendaria um investimento na Bolívia?

Estamos estudando um investimento na área da petroquímica na Bolívia. Sendo objetivo: não tenho receio de investir em nenhum país da América Latina. O que está faltando é a capacidade do Estado brasileiro de associar o tamanho e a importância de seu mercado consumidor com ações em benefício de seu setor produtivo. Por exemplo, a importação de gás natural da Bolívia poderia ter sido vinculada, como parte de seu pagamento, à exportação de produtos e serviços brasileiros. Os países vizinhos querem nosso mercado para poder se desenvolver e crescer, mas o Brasil não criou, no caso do gás, uma interdependência com a Bolívia.

O setor privado tem conseguido suprir os baixos investimentos do Estado em infra-estrutura?

Não, até porque não há uma regulamentação 100% concluída sobre o investimento privado em grandes empreendimentos. Temos a lei das Parcerias Público-Privadas (PPPs), mas até agora, no último ano do governo Lula, não aconteceu nenhuma parceria desse tipo com o governo federal.

De acordo com o IBGE, o Paraná apresentou em março o pior desempenho industrial do país. Isso aconteceu pelo fato de a indústria no estado estar intimamente associada ao agronegócio e às exportações, prejudicadas pelo câmbio...

Vou falar sob uma ótica generalista, que não se aplica somente ao Paraná. Nenhuma região deve estar focada somente em um negócio. Mais do que nunca, as "vocações primeiras" devem ser aproveitadas – ao lado da exploração e prospecção de outras vocações. Assim haverá uma divisão de riscos.

Como as denúncias de corrupção afetam a economia?

A sociedade está percebendo que a economia, cada vez mais, independe do processo político. O crescimento do PIB nos últimos anos, mesmo que pequeno, ocorreu apesar do Estado – e não por causa do Estado. O empresário deve buscar as equações de crescimento sem depender do governo. Claro que as condições macroeconômicas inibem, mas há espaço para a criatividade do setor empresarial.

Mesmo com os juros altos e a pesada carga tributária?

É óbvio que eles precisam ser ajustados, mas juros e impostos são efeitos. As causas é que precisam ser enfrentadas por meio de uma reforma do Estado – de sua dimensão e de seu papel. Ainda não conseguimos, infelizmente, superar o Estado-empresário. Avançamos muito, mas ainda não deixamos completamente para trás o "capitalismo de Estado", sistema que chegou a controlar – direta ou indiretamente – mais de 70% da economia nacional. Até os problemas políticos que atravessamos hoje são conseqüências de resquícios da atuação do Estado em áreas onde ele não deveria mais estar presente. Claro que existem dificuldades políticas para que uma profunda reforma de Estado ocorra, por isso a sociedade tem um papel importante nessas exigências.

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