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O Brasil já está saindo da crise global, mas o ano não será "fantástico" para os resultados do Itaú Unibanco devido ao baque já sofrido pela economia, avalia o presidente-executivo da instituição, Roberto Setubal.

A crise de crédito provocou o aumento da inadimplência na carteira do banco - formado em novembro pela união entre Itaú e Unibanco - para 5,6 por cento no primeiro trimestre e a estimativa é de que chegue a 6,9 por cento até o terceiro trimestre --nível descrito como "administrável" pelo executivo.

"É evidente que este não será um ano fantástico em termos de resultado", disse Setubal ao participar do Reuters Latin American Investment Summit, acrescentando que a inadimplência aumentou porque os financiamentos concedidos antes da piora da crise previam um cenário diferente de emprego e renda.

Ele acrescentou que, no segundo trimestre, a demanda por crédito já está se recuperando por questões sazonais e pela percepção de melhora da economia.

"Esperamos crescimento, especialmente nas operações com pessoa física e de pequena e média empresa", disse.

Com a inadimplência maior, Setubal acredita que a queda do spread bancário --diferença entre a taxa de captação de um banco e a que cobra dos clientes-- será lenta.

Ele disse também que o Itaú Unibanco prefere esperar baixar a poeira deixada pela crise no sistema financeiro de diversos países antes de negociar aquisições no exterior. "Eu não faria aquisição de banco que esteja em dificuldades. Teria mais dificuldade de fazer uma avaliação (de preço)."

Ao mesmo tempo, o executivo reiterou o interesse do grupo em se expandir em diversos países da América Latina, com ênfase em Chile, México, Peru e Colômbia, mas negou que haja negociações em andamento.

Depois de ter se tornado acionista majoritário na Redecard ao comprar uma fatia que pertencia ao Citigroup, o Itaú Unibanco vai esperar mudanças regulatórias do Banco Central para a indústria de cartões de crédito antes de definir eventuais parcerias na empresa. "O BC quer mudar a regulamentação. Vamos esperar o BC para ter uma visão mais clara", disse.

O executivo afirmou ainda que a unificação de marcas Itaú e Unibanco dentro do conglomerado ainda está sendo discutida, mas que nas agências a tendência é que prevaleça a primeira, por haver "um consenso de que a marca Itaú é muito forte".

BRASIL SE RECUPERA

Para Setubal, a recuperação do Brasil antecede a das grandes economias mundiais, que ainda deve levar de três a quatro anos para retomar o desempenho visto antes da turbulência.

Ele estima que o país vai crescer em torno de 3 por cento em 2010, depois de ficar entre estabilidade e queda de 1,0 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

"Sem dúvida que (o país) sai mais rápido da crise. E, por sair mais rápido, sai mais forte. Nos próximos anos, o Brasil terá crescimento acima da média mundial", disse.

"Mas a crise é longa. Para PIBs do mundo, considerando EUA, Europa e Japão, voltarem ao nível de antes da crise é coisa de três ou quatro anos."

Mesmo com a visão otimista, Setubal disse que "não deixa de ser surpresa" o Ibovespa ter voltado aos níveis atuais, acima de 50 mil pontos.

"As ações estão subindo não porque o investidor acha que o lucro das empresas vai aumentar. Mas há dois motivos: a sensação de desastre total está sendo descartada e, com juros baixos (no mundo), o investidor fica sem alternativa."

Setubal acredita que o dólar "pode perfeitamente flutuar" entre 2,00 e 2,20 reais, desde que não apareçam novos desdobramentos da crise externa. Ele também acha possível que a Selic caia abaixo de 9 por cento ao ano ainda em 2009. Atualmente, a taxa básica está em 10,25 por cento.

POUPANÇA

Na visão de Setubal, a trajetória de queda do juro depende de alterações na poupança. Ele defende mais à frente uma liberação ampla de sua remuneração.

"Os EUA passaram por isso. O que eles fizeram foi simplesmente liberar a taxa de juro da caderneta de poupança. Qualquer um paga o que quer pagar", disse.

"Mas talvez a gente ainda não esteja pronto para isso. A longo prazo este é o melhor modelo, ter o mercado totalmente liberado. O governo não se mete mais nisso."

Antes disso, Setubal acha que uma opção seria tributar parte das aplicações em poupança. "Se for feito a partir de 20 mil reais, mais ou menos 95 por cento dos poupadores nem serão afetados."

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