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 | Eitan Abramovich/AFP
| Foto: Eitan Abramovich/AFP

É com uma mistura de otimismo e cautela que Christoph Riess, um alemão de 54 anos, fala sobre o futuro dos jornais e do jornalismo, atividades que o roubaram do caminho que ele havia traçado com as graduações em Engenharia e Admi­nistração de Empresas. Como CEO da Associação Mun­­dial de Jornais e de Empresas de Mídia (WAN-Ifra), Riess está cada vez mais mergulhado em questões que dizem respeito à indústria da notícia, seja a produção de conteúdos, sejam os novos modelos de negócio. Riess, que no início do mês foi o anfitrião do 63.º Congresso Mundial de Jornais, em Viena, esteve na semana passada no Brasil. Antes de visitar algumas redações, concedeu esta entrevista em São Paulo, falando em português fluente.

Em 2007, Philip Meyer ousou perguntar se os jornais iriam desaparecer, questão que está longe de ser esgotada. Qual é o fator chave para a sobrevivência de um veículo?

Os jornais têm futuro, sim. Quem se prepara bem tem um ótimo futuro. As chaves são o cuidado com conteúdo e marca. Temos uma explosão de informações inexatas e não confiáveis. Então, o jornalismo está em alta porque é cada vez mais importante verificar, apurar e distribuir.

Mas isso tem sido realmente valorizado pela audiência?

Tomemos o caso Kadafi. So­­braram por aí notícias inexatas. No mesmo momento era possível encontrar notícias de que ele estava ferido, morto, vivo e até lutando para retomar o poder. Em quem confiar? Obviamente, em quem tem larga experiência em apurar bem.

Se a ameaça não está na credibilidade, suponho que o senhor associe ao modelo de negócio a fragilidade maior da mídia. Os jornais não teriam levado tempo demais para reagir às ameaças?

Não. Os jornais não foram surpreendidos de todo. A vida era mais fácil, e não era preciso grande esforço tempos atrás, mas mais recentemente os jornais reagiram com inovação. Só o que assusta, especialmente no Brasil, é que não aproveitem melhor os novos negócios digitais.

Estamos falando de cauda longa?

Isso. E não me refiro só ao conteúdo, mas a outros negócios. Explorar bem o conteúdo, que precisa ser valioso, é fundamental. Mas o negócio tradicional passa a ser uma pequena parte.

Essa perspectiva vale também para o impresso?

Sem dúvida. No fim dos anos 1990 diziam que não haveria papel após 2000. E os impressos estão aí, pulsantes. A vantagem é que no impresso o leitor vai da política ao esporte em poucas páginas. Na web a tendência é de mergulhar em temas isolados.

E os tablets?

Para os jornais, eles resgatam o fator conforto, perdido para quem migrou do impresso para o digital. Também chegam com a vantagem de ter, de saída, a cultura do pagamento. Paga-se por serviços telefônicos. Por similaridade, paga-se também pelos serviços no tablet.

No Fórum de Editores associado ao 63.º Congresso Mundial de Jornais, o consagrado consultor Mario Gar­cía afirmou que tablet e im­­pres­­so são "irmã e ir­­mão". O senhor concorda?

São mesmo próximas. O fator conforto, por exemplo, está presente em ambas. O jornal é lido confortavelmente na poltrona e até na cama. Com o tablet, isso também é possível. Faço, no entanto, outra analogia. Vejo o tablet como um canivete suíço, algo que oferece muitas possibilidades, mas que será usado em situações específicas. Ele será usado à noite, para ler uma versão atualizada do jornal. Imagino que o leitor mais ávido consumirá a informação no impresso pela manhã, na web ao longo do dia e no tablet à noite.

Então, todas as plataformas têm espaço?

Sim, na multiplicidade. O fato é que nunca tivemos tantos leitores. Por outro lado, não podemos negar que há uma crise do ponto de vista econômico. Como agir? Apostar na fidelidade, trabalhar bem o fator tempo, entender que a leitura é dinâmica na web, admite um pouco mais de tempo no tablet e ainda mais profundidade na versão impressa. Além disso, precisamos nos dar conta de que agora vivemos algo que as emissoras de tevê já enfrentavam: o leitor pode pular de uma marca à outra com facilidade. Mas, tanto na tevê como nos jornais, o que conta mesmo é a qualidade. O desafio que exige dos jornais maior esforço neste momento é manter o leitor vinculado à marca.

E com que meios?

Podemos incrementar a fidelidade indo além do conteúdo, com eventos esportivos, musicais e outros serviços relacionados ao conteúdo. Além disso, os jornais regionais têm a vantagem de oferecer algo muito próximo do seu leitor, inimitável.

E quanto à formação de leitores?

É fundamental. O que se viu no Congresso Mundial de Jornais mostra que podemos atrair leitores com bons programas, inclusive na área da educação, como o premiado Ler e Pensar, da Gazeta do Povo. Na publicidade, está claro o alto poder de convencimento das crianças sobre os pais. Com as mídias também pode ser assim, desde que não esqueçamos de que é ainda mais difícil fidelizar o jovem leitor. É preciso pensar nas múltiplas entradas e, sobretudo, ser referência.

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