Pressão
Commodities subiram 29% em 12 meses
O Banco Central divulgou ontem um levantamento inédito sobre a velocidade do repasse de aumentos das commodities para a inflação ao consumidor. No estudo, o BC também apresenta o novo Índice de Commodities Brasil (IC-Br), que mede a variação de preços dessas mercadorias no país. Segundo o BC, o índice avançou 1,5% em novembro e 14,7% em três meses. No acumulado de 12 meses, a alta chega a 29,2%.
O encarecimento das matérias-primas no mercado internacional, em especial as agrícolas, é uma das principais fontes de pressão sobre a inflação brasileira. Ontem, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, rechaçou a análise de que os alimentos são os vilões da inflação, afirmando que eles mais beneficiaram do que prejudicaram a evolução dos preços ao longo dos anos. Tal argumento é válido para o período 1995-2007, mas não funciona para os três últimos anos, marcados por dois choques de commodities agrícolas (em 2008 e neste ano).
Velocidade
Em seu estudo, o Banco Central concluiu que o impacto dos aumentos de commodities no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ocorre já no primeiro mês, com pico no segundo. "Os exercícios indicam que o repasse de um choque no IC-Br para o IPCA inicia-se logo no primeiro mês em que os preços médios da cesta se elevam, atinge o pico no mês seguinte, e torna-se praticamente nulo a partir do quinto mês", cita o documento.
Brasília - O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, afirmou ontem que a diferença entre as projeções para a inflação e a meta fixada pelo governo "sugere a necessidade de implementação, no curto prazo, de ajuste na taxa básica de juros". Em outras palavras, ele defendeu um aumento da Selic que está em 10,75% ao ano desde julho já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em janeiro. Esse movimento teria por objetivo conter o descompasso entre o ritmo de expansão da oferta e demanda, "bem como de reforçar a ancoragem das expectativas de inflação". A mensagem do diretor é igual à transmitida pelo relatório trimestral de inflação do BC, publicado ontem.
Araújo destacou que o desvio das projeções em relação à meta ocorre mesmo com a incorporação dos depósitos compulsórios e a expectativa de ajuste fiscal em 2011. O diretor citou que os principais riscos para a inflação vêm, no lado externo, dos preços das commodities, e, do lado interno, do descompasso entre oferta e demanda, da baixa ociosidade da indústria e do aumento recente nos preços do atacado.
Questionado sobre por que razão o relatório de inflação subiu tão fortemente o tom sobre o cenário inflacionário, Araújo disse que a ata da última reunião do Copom, publicada na semana passada, já chamava atenção para os riscos que se apresentavam para a economia. Além disso, ele salientou que a adoção de medidas macroprudenciais como o aperto do crédito, adotado pelo BC no início do mês também indicava uma maior preocupação da instituição.
Araújo afirmou que em grande parte dos países o principal problema econômico passa a ser "essencialmente a inflação". "Há algumas exceções, a mais notável são os EUA, que foram fortemente atingidos pela crise. Mas, na maioria dos países, a preocupação fica sendo a inflação", disse, ao apresentar um quadro com a inflação em 14 economias. "Em 9 dessas economias, a taxa de inflação em 2010 é maior que a de 2009."
Ele chama atenção para o fato de que os aumentos de preços têm sido influenciados diretamente pelas commodities, em especial as agrícolas. "As commodities agrícolas registraram aumento substancial de 28,6% em 2010 até novembro e acumulam alta de 33,2% em 12 meses", cita.
Repercussão
Para o estrategista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, o relatório de inflação deixa claro que o BC está empenhado em trazer a inflação de volta ao centro da meta de 4,5% ao ano e sugere que o BC elevará a taxa básica de juros já no próximo mês.
"Mesmo com as incertezas sobre o cenário externo e mantendo as hipóteses fiscais, eles [diretores do BC] sugerem uma complementaridade do processo de aperto [do crédito] com a taxa de juros, e no curto prazo. Para mim, quando diz no curto prazo, obviamente, o BC está falando de janeiro", disse Padovani. "Isso mostra que eles estão comprometidos com meta e isso, para mim, é o mais importante. Teremos um novo governo, mas o regime de política monetária permanece exatamente o mesmo e isso é o melhor sinal possível."
Com a sinalização do BC, Padovani, que chegou a trabalhar recentemente com um cenário de estabilidade para a Selic em 10,75% ao longo de 2011, já passou a projetar um aumento de 1,5 ponto porcentual, que levaria a Selic a 12,25% ao ano.
Aumento da demanda é o maior em dez anos
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, chamou atenção para o fato de que a demanda interna deve terminar o ano de 2010 com crescimento de 10%, a maior taxa anual de expansão desde 2000, quando tem início a série histórica revisada.
Segundo ele, o consumo tem crescido diretamente alinhado com a expansão do crédito. "Acreditamos que o consumo vai continuar encontrando apoio na expansão do crédito em 2011, embora em ritmo mais moderado que o visto em 2010."
Alinhado com a maior demanda, o diretor notou aumento do investimento realizado na economia. "A recuperação das taxas de crescimento da formação bruta de capital fixo [investimentos] foi impressionante no passado recente. Por trás dessa recuperação do investimento, temos a confiança do empresário industrial alta", disse.
No entanto, alertou o diretor do BC, a ociosidade da indústria está muito estreita, o que pode gerar pressões inflacionárias. "Logo após a intensificação da crise em setembro de 2008, houve um recuo substancial no uso da capacidade instalada. Agora, o nível tem se mostrado relativamente estável, mas bastante elevado."
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