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Painel da BM&F: para enfrentar a crise, Banco Central deve baixar mais os juros, reduzindo o retorno da renda fixa. | MauricioLima/ AFP
Painel da BM&F: para enfrentar a crise, Banco Central deve baixar mais os juros, reduzindo o retorno da renda fixa.| Foto: MauricioLima/ AFP

Governo pode reduzir ganhos da poupança

Para evitar que haja uma migração em massa dos fundos de renda fixa para a caderneta de poupança, Gustav Gorski, da corretora Geração Futuro, acredita que o governo lançará mão de um instrumento já usado em situações semelhantes, quando o juro básico foi bastante reduzido no país: a mudança na Taxa Referencial (TR), que serve para remunerar a poupança. Hoje, o rendimento da caderneta é fixado em 6% ao ano mais a TR, com o desconto de um redutor. Com mudanças na TR e no redutor, o governo pode fazer com que a atratividade da poupança acompanhe a perda de atratividade da renda fixa.

"Se os juros vierem a 10% ou abaixo de 10%, vai ter de haver uma política de modificação da remuneração da poupança, e a taxa fixa de 6% ao ano talvez tenha que ser revista. Isso não é para privilegiar a renda fixa. Acontece que o recurso para a poupança tem um fim, e o recurso da renda fixa tem outro. Não se trata de beneficiar um ou outro, e sim de você ter duas coisas com fins diferentes e bem equilibradas", avalia Gorski.

Para Gustavo Deodato, da Petra Corretora, este tipo de situação ocorre por pressão de grandes bancos. "Como grande parte dos recursos do governo com a emissão de títulos é captada no mercado bancário, o governo é dependente dos bancos. Então eles têm condição de se unir pra fazer pressão. É difícil dizer que isso vá ocorrer novamente, mas existe esse risco." (FL)

  • Retorno líquido de alguns fundos de renda, conforme a Selic

A possibilidade de que a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, caia para cerca de 10% ao ano até dezembro deve tirar a atratividade de parte dos fundos de renda fixa. E o retorno da caderneta de poupança, a mais popular modalidade de investimento do país, deve então ser superior ao desses fundos. Isso, na verdade, já vem ocorrendo mesmo com o juro brasileiro entre os maiores do mundo, uma vez que a taxa cobrada pelos bancos para administrar os fundos de renda fixa reduz sensivelmente os ganhos do investidor. Se a Selic cair para baixo dos atuais 12,75% ao ano, obter um bom rendimento na renda fixa ficará ainda mais difícil.

Nas contas da corretora Geração Futuro, com os juros no atual patamar, a renda fixa já é menos interessante que a poupança quando a administração do fundo é superior a 3% – o que leva o retorno da renda fixa para 7,3%, abaixo, portanto, dos 7,4% pagos pela poupança nos últimos 12 meses. E tende a ficar ainda mais abaixo conforme caia também a Selic (veja exemplos no gráfico).

"Se o juro estiver a 12,5% e o banco cobra 4% de administração, significa que você está pagando em taxa um terço da sua rentabilidade. Se a taxa de juros for menor, estiver a 10%, e o banco continuar cobrando 4%, você está pagando 40% para este seu ‘sócio’ administrar seu dinheiro", diz Gustavo Deodato, diretor comercial da Petra Corretora, de Curitiba.

Há quem acredite que a taxa vá para menos de 10% até o fim de 2009 – na média, o mercado ainda prevê 10,5% em dezembro. Reduzir os juros é hoje um dos principais instrumentos do Banco Central para reduzir os efeitos da crise sobre o Brasil. A Selic serve de parâmetro para os empréstimos no mercado. Quanto menor a taxa, menos se cobra dos tomadores de empréstimo. Crédito mais barato, por sua vez, tem efeito positivo sobre o consumo – e por consequência sobre a produção das indústrias e o emprego.

"Acho que no Brasil as pessoas estão acostumadas a ter um rendimento muito grande na renda fixa, de até 17% ao ano. Mas isso não se sustenta. A renda fixa vai ter, nos próximos anos, um rendimento até 50% menor do que o que está ocorrendo hoje", opina Gustav Gorski, economista-chefe da corretora Geração Futuro.

Gustavo Deodato, da Petra, lembra que, além de a taxa de administração ser muito alta em alguns casos – principalmente para o pequeno investidor –, o investimento em renda fixa também é prejudicado pelo chamado "come-cotas": uma cobrança adiantada de Imposto de Renda pelo governo, mesmo que o investidor não faça saque ou movimentação com o dinheiro aplicado. Se o governo cobra 15% de IR sobre R$ 100, por exemplo, o rendimento do investidor vai ocorrer sobre R$ 85, e não mais sobre os R$ 100.

Se não é possível evitar a cobrança de IR, pelo menos a taxa de administração deve ser negociada. "O poupador tem de chegar com essa continha para o gerente e avisar: ou eu ganho uma taxa de administração menor, ou eu coloco o dinheiro na poupança. E não precisa necessariamente colocar na poupança, existem vários outros tipos de aplicação", sugere Gorski, da Geração Futuro.

Ele e Deodato, da Petra, avaliam que o investimento em Tesouro Direto pode ser uma opção interessante. O risco da aplicação é praticamente o mesmo dos CDBs, mas a taxa de administração é muito menor – está na casa de 0,5%, mais 0,4% de custódia. "Você está fazendo o mesmo investimento, com o mesmo risco soberano, e com a vantagem de poder fazer aportes pequenos, a partir de R$ 200, sem ter o impacto da taxa de administração cara", diz Gustavo Deodato.

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