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Custo do dinheiro: mercado financeiro trabalha com cenário de queda na taxa Selic a partir de agosto| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A divulgação do IPCA de junho, com deflação de 0,08% e alta de 3,16% nos últimos 12 meses, mostrou que os preços dos serviços ainda estão pressionados.

“Este resultado pode estar indicando que o mercado de trabalho está muito apertado, gerando reajustes de salários não compatíveis com a meta para a inflação”, diz o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.

Mesmo assim, a sinalização do mercado financeiro é para o início do corte da taxa básica de juros, a Selic, em agosto. A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central está programada para os dias 1° e 2. A expectativa é de uma redução gradual, de 0,25 ponto percentual, levando a taxa para 13,5% ao ano. E para dezembro, a projeção no boletim Focus, do BC, é de 12%.

Apesar de a maioria do mercado estimar um cenário de corte já no próximo mês, há analistas trabalhando com a possibilidade de isso ocorrer só em setembro.

A equipe da Daycoval Asset avalia que o processo de desinflação está em curso, principalmente devido aos itens mais voláteis. Para ela, contudo, o desafio que permanece é o de uma “desinflação mais consistente e robusta no núcleo de serviços”.

A economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronesi, aponta que uma série de fatores contribui para esse cenário de queda nos juros:

  • O arcabouço fiscal foi apresentado e está em tramitação;
  • O Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve a meta de inflação em 3% para os próximos anos;
  • As projeções para a inflação estão em queda.

Mesmo a tendência de alta na inflação acumulada nos próximos 12 meses não preocupa analistas. "O aumento previsto decorre de um efeito estatístico (motivado por três deflações seguidas entre julho e setembro do ano passado); há o repasse do índice de preços ao produtor e da queda dos combustíveis", afirma Veronesi.

O ponto médio (mediana) das expectativas para a inflação em 2023 no boletim Focus está em queda há oito semanas. Nas últimas quatro, passou de 5,42% para 4,95%. Mas há casas de análise trabalhando com cenários melhores, como 4,7%.

Cenário parecido vivem as expectativas de inflação para os próximos anos. Há quatro anos, o mercado financeiro sinalizava para uma inflação de 4,04% em 2024. Agora, 3,92%. A de 2025 caiu de 3,9% para 3,6%. E a 2025, de 3,88% para 3,5%.

Apesar desse cenário mais positivo, analistas apontam que cinco fatores dificultam uma queda mais forte dos juros nos próximos meses:

  • Resiliência da atividade econômica;
  • Pouca ociosidade no mercado de trabalho;
  • Manutenção da inflação em patamar elevado;
  • Perspectivas de os países desenvolvidos continuarem a subir os juros;
  • Desafio fiscal significativo.

Resiliência da atividade econômica

A atividade econômica vem mostrando bastante resiliência. Depois de um crescimento do PIB de 1,9% no primeiro trimestre e de 3,3% nos 12 meses encerrados em março, a expectativa é de que a economia desacelere e encerre o ano com uma expansão superior a 2%.

Um dos fatores que favorecem esse comportamento mais resiliente da economia é a confiança dos consumidores, que está no maior nível desde fevereiro de 2019, aponta a Fundação Getulio Vargas (FGV). Isto contribui para uma desaceleração mais tímida da economia.

“O consumo deve continuar sustentado pelo crescimento da renda, em meio ao mercado de trabalho resiliente e estímulos fiscais”, apontam os economistas do Itaú.

O Bradesco avalia que, além de estimular o consumo, a massa salarial real também ajudará a reduzir o endividamento. Em maio, a inadimplência das pessoas físicas correspondia a 4,25% da carteira de empréstimos, apontam dados do BC. É o maior patamar desde maio desde 2016.

Pouca ociosidade no mercado de trabalho

Dados mais recentes sinalizam para um mercado de trabalho mais aquecido nos próximos meses, destacam os analistas do Itaú.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego caiu de 8,8%, no trimestre móvel encerrado em março, para 8,3%, nos três meses finalizados em maio. A expectativa do banco é de que o ano encerre com uma taxa de 8%.

Esse cenário faz com que as perspectivas para o consumo continuem melhores do que o inicialmente esperado. “As maiores transferências de renda do governo e o recuo da inflação devem contribuir para a sustentação do consumo no curto prazo”, cita o economista Rodolfo Margato, da XP.

Manutenção da inflação em patamar superior à meta

A inflação ainda é fonte de preocupação para os economistas. Apesar de a acumulada em 12 meses estar no menor nível da série histórica, a tendência para os próximos meses é de alta, devido a um efeito estatístico.

A projeção de mercado, de acordo com o relatório Focus, sinaliza para uma inflação de 4,95% neste ano, além do teto da meta de inflação estipulada pelo BC, que é de 4,75%.

O Bradesco projeta uma inflação de 4,8% para este ano, um ponto percentual a menos do que em 2022. “A inflação no atacado segue surpreendendo para baixo, contribuindo para uma menor pressão dos preços ao consumidor, em especial dos bens industriais”, citam os economistas do banco.

O Itaú, que espera uma inflação de 5,1% para este ano, enxerga riscos baixistas para a sua previsão: a possibilidade de um corte adicional nos preços da gasolina para compensar totalmente a alta dos impostos na bomba e o câmbio atingindo patamares mais valorizados, o que pode intensificar o processo de desinflação.

Uma pressão de alta vem do El Niño, o fenômeno climático que resulta no aquecimento anormal e persistente das águas do Oceano Pacífico, principalmente em áreas próximas à Linha do Equador. Isso tende a afetar significativamente o volume de chuvas no Sul do país, o que pode manter pressionados os preços dos produtos in natura e cereais.

Perspectivas de os países desenvolvidos continuarem a subir juros

A expectativa de analistas é de que o ritmo de valorização do real frente ao dólar, que já atinge 10% no ano, segundo dados do BC, perca força ao longo do segundo semestre estimulado pela provável retomada na alta de juros nos Estados Unidos, ainda em julho.

Com a redução dos juros no Brasil, diminuiria a diferença entre as taxas praticadas aqui e na maior economia global, o que contribuiria para tornar os ativos brasileiros menos atrativos.

O Bradesco aponta que a atividade econômica na maior economia global segue forte, o mercado de trabalho aquecido e o consumo financiado pelo excesso de poupança. O banco, inclusive, reviu para cima a projeção de crescimento dos EUA para este ano de 1% para 1,6%. “A última revisão do PIB dos EUA do primeiro trimestre surpreendeu positivamente, elevando o ritmo de crescimento anualizado para 2%.”

Na Europa, o forte ritmo do mercado de trabalho vem contribuindo na elevação dos juros. Na última decisão, no mês passado, o Banco Central Europeu elevou a taxa em 0,25%, para 4%. Mas, as condições e a demanda por crédito têm recuado, a atividade industrial vem perdendo ritmo aos poucos e a confiança empresarial tem declinado de forma significativa. “Esperamos que o ciclo se encerre com a alta de juros em julho”, destaca a equipe de análise do Bradesco.

Desafio fiscal significativo afeta juros

O Itaú aponta que o arcabouço fiscal e as medidas complementares de recomposição das receitas reduzem riscos extremos, mas ainda há desafios significativos de implementação à frente.

“Os ganhos de credibilidade e consolidação da regra podem ser incrementados por uma reforma tributária que gere ganhos de produtividade e melhore o crescimento de longo prazo da economia”, apontam analistas do banco.

A instituição financeira projeta uma redução no déficit público. A expectativa para este ano é de 1% do PIB e de 0,8% para 2024. Mas o resultado de 2023 pode ser melhor do que o esperado, a depender do sucesso da agenda de receitas extraordinárias vindas da negociação de débitos tributários.

Para o ano que vem, o Itaú trabalha com a hipótese de aprovação e implementação de medidas de aumento da receita. Entre elas estão o pacote envolvendo a redução de desonerações e de brechas legais para iniciativas de planejamento tributário, e da aprovação da tributação de lucros e dividendos. “Há elevada incerteza sobre o sucesso dessas iniciativas diante da necessidade de tramitação no Congresso, eventual judicialização e mudança de comportamento dos contribuintes.

A XP Investimentos, entretanto, enxerga riscos inflacionários de médio prazo, motivados pela tendência maior de gastos públicos. “Mesmo com mudanças no arcabouço, a tendência de crescimento de despesas nos próximos anos continua”, aponta.

Alexandre Maluf, economista da corretora, aponta que o viés expansionista da política fiscal pode atrapalhar a convergência completa da inflação à meta proposta de 3% em 2024.

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