• Carregando...
Ronald Martin Dauscha, diretor executivo do C2i: inovação é gerar nota fiscal para a indústria | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Ronald Martin Dauscha, diretor executivo do C2i: inovação é gerar nota fiscal para a indústria| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

Investimento na área de pesquisa ainda é restrito

Três mitos espantam a criação de um setor de Pesquisa e Desenvolvimento em uma empresa: preço alto, difícil desenvolvimento e prazo de retorno muito longo. Essa visão se fortalece à medida em que o empreendedor pensa em inovação apenas como o desenvolvimento de um novo produto a partir do zero. "A inovação também pode ocorrer em cima de um produto que já existe. Você pode criar uma nova forma de vendê-lo, ou uma maneira diferente de se relacionar com o cliente", explica Ronald Martin Dauscha, diretor executivo do Centro Internacional de Inovação (C2i) da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

Nesse conceito ampliado, a inovação aberta desponta como a melhor solução para empresas que não dispõem de grandes verbas para P&D. No modelo aberto, as ideias podem vir de todos os setores da organização, inclusive os externos. "Até clientes podem entrar em contato para oferecer sugestões", lembra Dauscha.

A abertura ocorre nas duas vias. Mesmo que as propostas desenvolvidas não venham a se transformar em produtos ou soluções, a patente pode ser vendida para outra companhia. Dauscha lembra o exemplo da Xerox, que desenvolveu o mouse de computador. Sem função para fotocopiadoras, o projeto foi repassado para os fabricantes de PCs. "As empresas que nascem agora já iniciam sabendo que é essencial inovar. Em uma economia aberta, isso é fundamental para manter a competitividade", afirma.

  • Aula no Laboratório de Criatividade: ensinando a inovar com custo reduzido

Em uma quarta-feira à tarde, duas dezenas de profissionais curitibanos tentam desenvolver uma nova aplicação para o lápis. Acomodados em uma sala ampla, que muda de cor a cada tantos segundos, os alunos trocam ideias sobre as possibilidades do objeto. Ao final do tempo de realização da tarefa, medido pela duração do álbum Sgt. Peppers, dos Beatles, uma das equipes desenvolve uma balsa em miniatura, lembrando o meio de fuga de um náufrago.

A atividade acima faz parte de um dos primeiros cursos ministrados no recém-inaugurado Laboratório de Criatividade, desenvolvido pelo Centro Internacional de Inovação (C2i) da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), em parceria com Sesi, Senai e IEL. Disponível para empresários, estudantes e afiliados do sistema Fiep e centros de pesquisa do Paraná, o espaço foi criado com o objetivo de estimular empreendedores e colaboradores a desenvolver processos e produtos inovadores, que gerem receita e aumentem a competitividade das empresas paranaenses.

Humberto Massareto, consultor da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) – instituição parceira do C2i –, veio a Curitiba para ministrar o curso. "Partimos do princípio de que todos são criativos, e queremos relembrar a pessoa de que ela é capaz de fazer, construir algo", explica. "Nunca trabalhei em um espaço tão adequado quanto este. Tudo aqui é adequado para ‘limpar’ o ambiente corporativo e fazer surgir o talento que costuma ficar escondido no dia a dia de trabalho".

Joanita Plombom, supervisora de RH da Herbarium, era uma das pessoas presentes no curso, junto com outros seis funcionários da mesma companhia. "A empresa tem a intenção de desenvolver produtos a partir da visão que a inovação é a grande tendência atual. Acredito que o curso é uma oportunidade de iniciar a capacitação para esse processo", afirma.

Estímulo

A criação do Laboratório de Criatividade é a iniciativa mais recente do Centro Internacional de Inovação. Criado há dois anos, o organismo da Fiep é dedicado integralmente ao fomento da inovação para as indústrias. "Para nós, a inovação é qualquer processo ou produto que gere nota fiscal para a indústria", define Ronald Martin Dauscha, que desde o início de 2009 ocupa a função de diretor executivo do C2i.

Com uma equipe fixa de 30 pessoas, além de colaboradores diretos e indiretos, o C2i adota como estratégia ser um concentrador e dissipador de ideias em inovação. Neste ano, o órgão está completando o primeiro ciclo de serviços, com 20 empresas em fase final de implantação. Ao longo dos dois anos de operação, o C2i soma 300 empresas mapeadas.

Além de cursos, workshops e palestras, o centro oferece análise de mercado e consultoria para as micro, pequenas e médias indústrias. "Não damos uma consultoria estratégica clássica, como a realizada por empresas do mercado. Trabalhamos de uma forma mais dinâmica, usando os recursos e conhecimentos que as empresas já possuem ou podem adquirir rapidamente", explica Dauscha.

Outros programas também focam necessidades específicas dentro de um contexto inovador, como sustentabilidade e internacionalização. A plataforma Plenus, voltada a inovações em eficiência energética, objetiva fortalecer parcerias entre universidades e empresas para o desenvolvimento dessas tecnologias. O Global Access Program, desenvolvido em parceria com estudantes de MBA da Universidade da Califórnia (EUA), auxilia companhias a desenvolver uma estratégia de atuação para entrar em novos mercados.

Rede

Para permitir a troca de informações entre os agentes inovadores, foi desenvolvida a Rede de Inovação, um portal que usa características de mídias sociais para facilitar a interação entre os usuários, chegando também aonde a Fiep não possui uma unidade física.

Para Dauscha, o profissional brasileiro tem dentro de si a semente da criatividade e da inovação, faltando apenas um estímulo ao risco. "O Brasil ainda tem uma cultura muito conservadora. Historicamente, não faz muito tempo que saímos de um cenário marcado por crises e choques constantes. Vemos um aumento contínuo no interesse por inovação, mas ainda há um grande caminho pela frente", avalia.

Segundo estimativas do governo federal, o Brasil tem hoje R$ 18 bilhões anuais em incentivo para projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Essas verbas são disponibilizadas principalmente pela Lei do Bem, que prevê incentivos fiscais a empresas que desenvolverem inovações tecnológicas, e pela Lei da Informática, que concede incentivos fiscais para empresas produtoras de alguns hardwares e que investem em P&D.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]