Depois de passar por uma reestruturação que incluiu a criação de uma nova holding e a transferência de ativos entre empresas do grupo, a paranaense Leão Júnior está pronta para decidir seu futuro. Ao longo da semana, fortaleceram-se os boatos de que a companhia, fabricante de chás com a marca Matte Leão, seria alvo de aquisição. Ontem o jornal econômico paulista Valor noticiou que Leão Júnior e o fabricante de refrigerantes Coca-Cola entrariam na segunda-feira com o registro da oferta de compra no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão de defesa da concorrência ligado ao Ministério da Fazenda. Mesmo sem a aprovação do Cade, a negociação pode ser concluída desde que as empresas esperem pelo julgamento antes de fundirem as operações. Leão e Coca não se pronunciaram a respeito.
Líder no mercado brasileiro de chás secos (em saquinhos ou a granel) e também no de chá pronto para beber, a Leão Júnior publicou seu balanço na quinta-feira. Os resultados mostram uma empresa enxuta, com faturamento em alta (R$ 158,9 milhões em 2006, 18% mais do que no ano anterior), endividamento quase inexistente e um lucro de R$ 25,3 milhões 125% acima do registrado em 2005. Com base nessas informações financeiras, observadores do mercado situam o preço que a Coca-Cola teria de desembolsar para ficar com a empresa em algo pouco acima dos R$ 200 milhões, podendo chegar a R$ 250 milhões.
A data-chave para a mudança deve ser a próxima quarta-feira, dia 28. A Leão Júnior convocou para esse dia duas assembléias de acionistas. Entre outros assuntos, a empresa vai discutir a modificação de dois trechos do seu estatuto social, incluindo mudanças na composição dos conselhos de sócios e de administração. Atualmente os dois órgãos são constituídos apenas por acionistas, todos da família fundadora.
Já houve outros "surtos" de boatos sobre a venda da Leão Júnior. Em 2006, citava-se a indiana Tata Tea, segunda no mercado global de chás, como uma potencial compradora. Desta vez, no entanto, os movimentos feitos pela própria Leão indicam que ela está propensa a aceitar uma oferta. Em outubro passado, a empresa fez uma reestruturação societária que segregou as atividades ligadas a bebidas de outras. Pela operação, investimentos da família Leão em florestas, agropecuária e mineração foram repassados a uma outra empresa, a Serra da Graciosa Participações.
Uma outra holding, a Maria Clara Participações, ficou com outros ativos, classificados como "não operacionais". Entre as propriedades da Leão que passaram para a Serra da Graciosa está uma fazenda, um imóvel no Rio de Janeiro e terrenos em conjuntos residenciais de Matinhos, no litoral paranaense. Ao todo, os imóveis nessa situação representam um capital de R$ 6,4 milhões. Quem vier a comprar a Leão Júnior, portanto, pode ficar apenas com as empresas de bebidas, sem se preocupar com herdar um patrimônio desinteressante.
As mudanças na Leão estão sendo percebidas pelos seus clientes. A empresa prorrogou dias atrás um contrato de fornecimento para uma grande rede de supermercados, que a procurava para negociar preços. "O diretor deles disse que estavam em reestruturação e que só poderia entrar em negociação depois de um mês ou um mês e meio", conta o executivo.
Com 106 anos a completar no próximo 9 de maio, a Leão Júnior é uma das empresas mais antigas em atividade no Paraná. Ao longo dos anos 90, profissionalizou a gestão e conseguiu afastar a família do dia-a-dia da empresa. Atualmente o quadro de acionistas da Leão Júnior inclui 24 pessoas, da quarta e quinta geração da família, e representantes do espólio de mais dois outros acionistas.
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