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Bloco de concreto reciclado fabricado pela empresa Soliforte é resultado de uma parceria com a UFPR, que pesquisou e desenvolveu o produto | Brunno Covello / Gazeta do Povo
Bloco de concreto reciclado fabricado pela empresa Soliforte é resultado de uma parceria com a UFPR, que pesquisou e desenvolveu o produto| Foto: Brunno Covello / Gazeta do Povo

Gargalos

Marco legal também trouxe burocracias desnecessárias

A burocracia imposta pelo marco legal que regulamenta o relacionamento entre universidades e empresas é uma das barreiras para alavancar a inovação. "As regras pressupõem a desconfiança entre pesquisador e empresário, o que torna o processo lento. A produção intelectual precisa ser protegida, mas há entraves que poderiam ser simplificados. Afinal, todos devem buscar os melhores resultados", aponta Felipe Cassapo, gerente do C2I.

Patentes

Além dos processos licitatórios exigidos para a transferência de tecnologia, há a demora na concessão de patentes, que protegem a produção intelectual e são garantias tanto para o mercado como para o pesquisador. A lei permite que as transferências sejam feitas a partir do pedido da patente, o que diminui o prazo para produção da inovação. "Apenas mil empresas foram beneficiadas pela Lei da Inovação em 2013. É muito pouco perto do potencial e da necessidade de investimento na área", avalia.

Parceria cria bloco de concreto reciclado

Blocos de material reciclável, um kit para casa popular de resíduos e mais qualidade para o concreto estrutural. Em três projetos realizados em parceria com pesquisadores da UFPR, a empresa Soliforte, de Eduardo Sell Dyminski, conseguiu alavancar o desenvolvimento de novos produtos.

Criada em 2006 para reciclar resíduos da construção civil, a Soliforte apostou em um nicho com apelo ambiental inédito na época. Mas o processo de reutilização de areia é trabalhoso e com baixo valor agregado, mesmo com o ganho ecológico embutido na produção. A extração da areia virgem causa muitos danos ao ambiente e custa pelo menos 30% mais do que a reciclada para o consumidor final.

Para desenvolver um produto inovador, Dyminski estabeleceu parceria com professores da UFPR para a criação de blocos de concreto reciclado. "Vendemos um milhão de blocos de concreto, dobrando o faturamento da empresa", explica Dyminski. Viabilizado por um edital da Finep, a agência de inovação do governo federal, o investimento de R$ 996 mil garantiu o desenvolvimento do novo produto.

"Sem as parcerias, teria que terceirizar tanto a pesquisa como a produção para prestadores de serviço e não conseguiria aplicar recursos próprios. Além do conhecimento, os pesquisadores ajudam na elaboração dos documentos exigidos para a análise e a contrapartida da empresa gira em torno de 20% do montante total", explica.

Casa popular

Em 2013, a Soliforte aprovou uma nova pesquisa, desta vez para construir uma casa popular feita de resíduos sólidos. A tecnologia de construção a seco está em fase de testes de desempenho e o primeiro protótipo deve ficar pronto em janeiro. O respaldo tecnológico, novamente, é dado pela UFPR, que também está envolvida no terceiro edital pleiteado pela Soliforte, para aprimoramento da produção de blocos de concreto reciclado. "Temos de melhorar o processo produtivo do bloco, para ter melhor resultado na aplicação do concreto estrutural", explica.

Estímulo

Em outra ponta do fomento à inovação, existe o estímulo ao empreendedorismo entre os próprios pesquisadores. Hoje, 25% dos mestres e doutores no Brasil estão envolvidos em atividades empresariais. Na Coreia e no Japão, esse número chega a 75%. Recentemente, a Agência da Inovação da UFPR promoveu uma capacitação com o apoio da Endeavor para 2 mil estudantes da instituição, de todas as áreas.

Produção científica parada na bancada da academia não gera competitividade para o país. Criada em 2004 para estimular a transformação do conhecimento em geração de renda e riqueza, e aproximar pesquisadores do setor produtivo, a Lei de Inovação teve avanços importantes para abrir caminhos, mas não conseguiu derrubar todas as barreiras para estimular a prática. Um dos indicadores desse desenvolvimento lento é o desempenho irregular do país no Índice Global de Inovação (GII, na sigla em inglês).

INFOGRÁFICO: Veja o Índice Global de Inovação

Na 7ª edição do GII, o Brasil melhorou três posições em relação a 2013, chegando a 61º lugar no ranking mundial. Entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), porém, foi o que menos cresceu. A Rússia ganhou 13 lugares (49ª), a China, seis (29ª) e a África do Sul, cinco, chegando a 53ª posição. O pior desempenho foi o da Índia, que caiu dez postos e ficou na 76ª colocação do ranking mundial. Burocracia e dificuldade de acesso ao mercado são as principais barreiras.

Com a legislação específica, a relação entre universidade e mercado é reconhecida, estimulada e regulamentada, orientando as condições em que a produção e transferência de tecnologia para as empresas, em forma de produtos inovadores, devem ser feitas. Isso é importante para fomentar a economia, gerando negócios e empregos de alto valor agregado, ao transformar conhecimento em competitividade e lucro para as empresas. "É o motor que impulsiona o desenvolvimento do país. A inovação produzida de forma sistêmica contribui para o equilíbrio social", opina o gerente do Centro Internacional de Inovação do Senai (C2I), Felipe Cassapo.

O desafio da Lei da Inovação é equilibrar a produção científica brasileira, quase que totalmente desenvolvida na academia, com a geração de tecnologia e desenvolvimento de novos produtos na atividade empresarial. Para isso foram criadas as agências de inovação e Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs), ligados às universidades públicas e particulares, que fazem a ponte entre os dois universos.

Agência da UFPR

A Agência de Inovação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) está em atividade desde 2008, mas foi nos últimos três anos que conseguiu atingir melhores resultados ao estabelecer contratos com o mercado. Hoje, a agência tem 35 projetos de transferência de tecnologia em andamento. "Procuramos fazer a prospecção de negócios que possam ser atendidos pela bancada de pesquisadores da UFPR, uma das mais qualificadas do país", diz o diretor executivo Emerson Carneiro Camargo.

As agências e NITs também recebem as demandas dos empresários, que podem buscar a pesquisa e desenvolvimento nas universidades. Mas precisam estar ciente dos investimentos exigidos na parceria. "É comum o empresário buscar pelo produto pronto, mas ele precisa ser desenvolvido em conjunto ou receber aportes para os ajustes necessários. A produção em escala é de responsabilidade da empresa", observa Camargo. A aplicação pode ser feita com recursos próprios. O mais comum, no entanto, é que o empresário busque financiamento nas agências de fomento. E todo o trâmite é de responsabilidade da empresa, o que pode ser mais um fator de atraso na produção inovadora.

Paraná

Capacitação dos Núcleos de Tecnologia deve fomentar negócios

No Paraná, a Lei Estadual de Inovação, regulamentada no ano passado, deve fomentar a atuação dos Núcleos de Inovação Tecnológicos (NITs) e as agências de instituições públicas e particulares do estado. A lei prevê a aplicação de 2% do orçamento do estado em inovação, sendo que 10% desse valor serão recursos de subvenção econômica, a Conta Paraná Inovação. A previsão é que esse montante seja de R$ 11 milhões em 2015.

Além de concentrar o encaminhamento de patentes e intermediar os contratos de transferência de tecnologia, esses organismos também trabalham na prospecção de negócios, buscando empresários interessados na pesquisa desenvolvida na academia, e vice-versa.

Na opinião de especialistas, para ganhar agilidade nas negociações, os NITs precisam de instrumentos e mecanismos próprios de gestão. "Devem ser dotados de assessoria jurídica especializada, possuir gestão econômica dos recursos, principalmente para dar agilidade nos processos de proteção intelectual, na transferência de tecnologia e na extensão tecnológica inovadora. Os NITs devem receber maiores incentivos para a formação, mas principalmente para retenção dos talentos", opina o professor doutor Camilo Freddy Mendoza Morejon, coordenador-geral do NIT da Unioeste. Entre 2004 e 2014, a Unioeste gerou 65 produtos tecnológicos, sendo 25 patentes e 13 transferências de tecnologia, entre outros.

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