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livro mude ou morra
Renato Mendes e Roni Cunha, autores do livro Mude ou Morra.| Foto: Divulgação.

Numa sociedade que gira cada vez mais rápido, o mundo dos negócios também está acelerado e exige mudanças o tempo inteiro. O livro "Mude ou Morra" (editora Planeta), dos empresários Renato Mendes e Roni Cunha Bueno, é um alerta para que o empreendedor se reinvente o tempo todo, acompanhe a transformação digital, seja uma "versão beta" constante. De saída, o subtítulo - "tudo que você precisa saber para fazer crescer seu negócio e sua carreira na nova economia" – revela que a obra, finalista do prêmio Jabuti na categoria Economia Criativa, é um manual prático de sobrevivência nesses tempos turbulentos.

“Faça o melhor que você pode com o que você tem à disposição naquele momento. Por um simples motivo, o cenário perfeito não vai chegar nunca”, aconselha Mendes, 40, em entrevista à Gazeta do Povo. As advertências (essa e aquela que dá nome ao livro) são dadas com conhecimento de causa: os autores estão entre os responsáveis por ter transformado a Netshoes de loja física em uma das maiores empresas brasileiras de comércio online. Hoje, Mendes e Bueno são sócios da Orgânica, aceleradoras de startups e empresas tradicionais em busca de transformação digital.

Nessa entrevista, Renato explica como está mudando o mundo dos negócios. Confira.

Um dos erros que vocês apontam no livro é que geralmente o erro é encarado como fracasso e não como aprendizado. Por que é importante mudar essa mentalidade?

A tese do livro é que a gente vive um momento de transformação muito grande, da velha para nova economia. Quem lidera a nova economia são as startups. Tem um jeito startup de fazer as coisas que está se disseminando mais.

Um dos grandes desafios de mudança de mentalidade é entender que o erro faz parte de qualquer processo de inovação. O erro é o irmão gêmeo da inovação.

Na velha economia, o vencedor é quem tinha uma grande ideia. Na nova economia, o vencedor é quem apreende mais rápido. Numa startup estamos o tempo todo fazendo testes. O índice de aproveitamento de um teste é de 20 a 30%. A cada cem coisas que experimento, 70 a 80 não vão dar certo.

Outro alerta é sobre a importância de contratar pessoas que tenham os mesmos valores da empresa, já que é ilusão achar que o empresário vai conseguir transmitir seus ideais aos funcionários. O que um empreendedor pode fazer para ter uma equipe afinada?

Tem que acertar na hora de escolher, tem que colocar para dentro pessoas que têm alinhamento com seus valores. As empresas tendem só a fazer um filtro técnico de entrada. Além do filtro técnico tem que ter um olhar de fit [adaptação] cultural. Não foi a gente que inventou, mas vimos o que as empresas do Vale [do Silício] faziam.

Eu pessoalmente vivi essa experiência quando sai da Netshoes. Disputei uma vaga para trabalhar no Facebook e fiz duas entrevistas na minha área e nove entrevistas em áreas correlatas e não entendia porque eu estava falando com aquela turma toda. Aí que fui entendendo que estavam medindo o meu fit cultural.

As startups ensinam que você tem que ser cuidadoso e lento para contratar e rápido para demitir. A gente normalmente faz o contrário: bota para dentro qualquer pessoa e na hora de demitir, a gente pensa, não sabe, fica com pena, tem que dar outra chance. Tem que inverter isso.

Vocês apontam também que empresas com um propósito claro têm maior sucesso na nova economia.

O que escuto muito é que essa coisa de propósito é conversa furada. O que as startups têm nos ensinado é que o propósito é uma ferramenta super interessante para recrutar talentos e gerar mais vendas.

O propósito é um diferencial competitivo quando bem usado. A nova geração compra produtos de empresas alinhadas a seus valores. Por exemplo: “Não compro daquela empresa porque não respeita o meio ambiente”.

Outra dica é sempre ser uma "versão beta", ou seja inacabada, em transformação. O historiador Yuval Noah Harari diz que uma das habilidades do futuro é a necessidade de sermos flexíveis. Como você enxerga o futuro do trabalho assalariado?

Muito difícil fazer uma previsão, mas temos algumas pistas. A vida de um assalariado em alguns anos vai ser muito diferente. O principal, que vai impactar muito, é o trabalho remoto. Não faz o menor sentido uma pessoa ficar horas no trânsito para chegar no escritório. Cada vez mais teremos pessoas trabalhando de casa.

Isso será vantajoso para os dois lados. Vai melhorar a qualidade de vida, vai aumentar a produtividade, vai transformar as horas perdidas no trânsito em horas de hobby ou com a família.

Recentemente, a Microsoft Japão reduziu a semana de trabalho para quatro dias. A produtividade aumentou e os funcionários ficaram mais felizes. Trabalharemos menos no futuro?

Gostaria que fosse, mas não sou tão otimista nesse sentido. Desde a revolução industrial, a gente vem dizendo que o uso de tecnologia vai fazer com que as pessoas trabalhem menos, mas temos visto exatamente o contrário. As pessoas têm trabalhado cada vez mais.

O que pode mudar agora é que a Inteligência Artificial vai matar uma série de tarefas operacionais repetitivas. Eu não tenho essa certeza de que vamos trabalhar menos porque todos os indícios têm mostrado o contrário. A gente não se desconecta e isso inclusive é um grande risco à saúde dos trabalhadores e dos empreendedores.

Você se preocupa com o avanço da Inteligência Artificial?

Tenho uma grande inquietação sobre o avanço da IA. Tem uma população com baixíssima escolaridade que faz trabalho manual. O que essas pessoas vão fazer daqui a 20 ou 30 anos?

A gente tem que encontrar uma saída para um grupo representativo da população que corre o risco de ficar ocioso. Tem que treinar essas pessoas porque no modelo tradicional não vão servir mais.

No livro, vocês frisam que o foco faz toda a diferença para um negócio dar certo, mas os empreendedores não o levam tão a sério. Em que sentido?

Todo mundo tem um negócio que quer montar e a gente é bombardeado de ótimas ideias o tempo inteiro. Agora não conheço ninguém que construiu algo relevante sem ter muito foco e olhar para uma coisa só por um determinado período de tempo, pelo menos no começo.

A provocação é: a nova economia vai abrir muitas oportunidades. A gente tem que tomar cuidado em não sofrer com a síndrome das oportunidades. O tempo todo você está fazendo alguma coisa e olhando ao lado para ver se tem uma coisa melhor.

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