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 | Marcelo Camargo/Agência Brasil/
| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/

No fim da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) ontem, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, surpreendeu os presentes. Disse que talvez não estivesse no próximo encontro do colegiado, agradeceu pelo trabalho realizado ao longo de 2015 e desejou boas festas. O gesto foi visto com um sinal claro de que Levy deixará o cargo em breve. Em entrevista, o ministro não quis comentar o que falou no CMN e lembrou que qualquer palavra proferida naquele ambiente é confidencial. Perguntado se está de saída, Levy não negou, mas disse que “a extensão de sua permanência depende da sinalização de reformas”. Incomodado com a avaliação de parte do próprio governo de que só se preocupa com o ajuste fiscal ele disse que é uma “ideia peregrina” achar que ele não se preocupa com o crescimento.

O senhor fez um discurso de despedida hoje na reunião do Conselho Monetário Nacional?

Eu não posso comentar isso. Usando as palavras do ex-ministro (da Fazenda) Pedro Malan, tudo o que é dito na sala do Conselho Monetário, nessa sala permanece. Tudo que ali se discute está configurado como informação confidencial. Espero que todos os que estavam lá saibam disso, pois essa regra é lembrada em todas as reuniões. Tudo o que é dito lá, inclusive de cunho pessoal, é informação privilegiada.

Mas houve um aumento dos rumores de que o senhor teria acertado sua saída depois que o governo encaminhou ao Congresso uma proposta da reduzir a meta fiscal de 2016...

Olha só, o que me irrita é uma fixação que existe no governo com a agenda fiscal. Eu passei o ano fazendo reformas. Fiz a reforma do ICMS, que quase foi votada. Apresentei a reforma do PIS/Cofins, fiz uma reforma de investimentos do setor de seguros. O que eu nunca entendi é por que o governo só fala de fiscal.

Uma ala do governo acredita que o senhor tem uma agenda excessivamente voltada para o ajuste fiscal. O senhor acha isso injusto?

Na verdade, a minha agenda nunca foi apenas fiscal. Muitas outras coisas foram feitas. É claro que cortar investimentos é ruim, mas fazer investimentos sem ter recursos para isso também é. Temos R$ 24 bilhões atrasados a pagar ao BNDES (decorrência das pedaladas fiscais). Temos que pagar isso. Você vai continuar a se endividar? É assim que vamos tirar a economia do buraco?

Qual é a reforma mais urgente?

Estamos trabalhando uma reforma de instrumentos financeiros que vão melhorar a eficiência da política monetária. Acaba com mais uma desoneração que não serviu para nada (de Imposto de Renda para letras de crédito). Esperamos que a tramitação avance semana que vem.

Já perdemos o grau de investimento da Standard & Poor’s e da Fitch. O da Moody´s também está perdido?

Não acho que esteja perdido. Mas a manutenção desse grau de investimento depende das nossas decisões, de votarmos o que temos que votar.

Quanto tempo o senhor ainda vai permanecer no governo? O senhor acertou sua saída com a presidente?

Veja só. Há tempos que eu estou falando em reformas. O ano fiscal, o ano legislativo, acabou, está certo? Evidentemente, uma extensão da minha permanência depende da sinalização de reformas, ou sinalização da intenção de reformas. Isso é muito importante. A ideia de que eu não estou preocupado com a situação da economia é uma ideia, para mim, peregrina. Falo constantemente da situação da economia com a presidente. A política não pode ser unidimensional, tem de ter reformas, tem de ter o espaço de poder cuidar da economia. A economia tem mostrado muita resiliência, mas não se pode esticar demais.

Se o governo reforçar a sinalização de reformas, o senhor pode ficar?

Perfeitamente. Mas, evidentemente, o ano legislativo acabou, então vamos ver.

Como o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff entra nessa equação?

A principal consequência do processo de impeachment ainda tem mais relevância, a gente tem que sinalizar o futuro. Não adianta discutir o passado, até porque a gente tem que continuar. As reformas que a gente já fez vão ter cada vez mais efeito. É curioso que você liberou os preços, a inflação foi mais alta, mas a credibilidade do Banco Central só aumentou. As mudanças que a gente fez são sólidas e vão continuar a ter consequências. Tem que continuar fazendo mudanças.

O que se esperar a partir de agora?

Obviamente, este ano o funcionamento da economia foi muito em função da situação política. Com muita delicadeza, isso começou a se apontar a partir de maio e junho. Entre o primeiro e o segundo contingenciamento, começou a apontar algo diferente na economia, algo mais no ar do que os aviões de carreira. Mas é preciso dizer que o Brasil é maior que qualquer desavença, que qualquer discussão. Vencida a incerteza política e certa ambiguidade da política econômica, a resposta do Brasil será rápida.

Qual é a perspectiva para investimentos em 2016?

A questão do grau de investimento só torna mais importante a iniciativa que a gente fez do novo marco da infraestrutura que cria o ambiente pós Lava-Jato, de mais previsibilidade. Dá mais abertura às empresas, editais mais transparentes. Cria novo ambiente de investimentos. É a resposta para o downgrade. É assim que eu reajo. Temos que sair em defesa do Brasil.

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