• Carregando...
“Capa” de Second Hand Memories, um dos sucessos da literatura via celular | Reprodução
“Capa” de Second Hand Memories, um dos sucessos da literatura via celular| Foto: Reprodução

Um ensaio publicado no jornal norte-americano The New York Times analisa uma nova mania no Japão, os romances para celular. Mas não é sobre isso que trata o texto "A tecnologia está em­­burrecendo o japonês?". Se­­gundo Emily Parker, a autora do texto, esses romances são escritos diretamente nos celulares, e também são lidos neles. Com linguagem ágil, as matizes e su­­tilezas do japonês estariam vi­­rando coisa de antigamente.

Para os contrários à mudança, a dominância do inglês – aliada à internet – não está sen­­do levada a sério. Afinal, a simplificação do japonês teria co­­meçado após a Segunda Guerra, o que na época criou uma lacuna entre as gerações que presenciaram essa alteração. O premiado escritor Haruki Muraka­mi (autor de, entre outros, "Dan­­ce Dance Dance", publicado no Brasil pela Estação Liberdade), autor de vários best-sellers, afirma: "Se a língua quer mudar, deixe-a mudar. Toda língua é viva como um ser vivo, como você ou eu. E, se está vivo, mudará. Ninguém pode parar isso". E acrescenta: "As mudanças são para melhor ou para pior – e ninguém pode dizer se é melhor ou pior".

A mudança mais intensa na língua se deu mesmo via celular, onde autores, em sua maioria jovens mulheres, escrevem romances formados por sentenças curtas, geralmente histórias de amor. Alguns estão disponíveis em sites gratuitos e são publicados em capítulos, como os folhetins de antigamente.

O auge do fenômeno foi em 2007, quando cinco dos dez best-sellers japoneses eram desta natureza. Apesar do sucesso, autores como Murakami dizem não ter interesse nessa literatura.

Outros argumentam que há espaço para leitores que se sentem confortáveis com a linguagem simples e também para os que não se satisfazem com simplicidade. Exemplo dessa diversidade do mercado é o lançamento do mais novo livro de Mu­­rakami no Japão (1Q84 - I), que em cerca de um mês vendeu um milhão de exemplares impressos.

Apesar da polêmica, de acordo com o ensaio, os ja­­poneses estão lendo mais. E escrevendo mais também. Para um professor universitário consultado, "o tempo das cartas voltou". Ele hoje recebe mais mensagens de alunos do que há 20 anos. As pessoas também estão usando mais o kanji. Em vez de decorar os ideogramas, hoje dá para digitar as palavras foneticamente e uma lista de caracteres aparece em pop-up, aí é só escolher a opção desejada.

Parker diz que "o japonês pode se tornar menos intimidador, encorajando muitas pessoas a desfrutar do prazer da leitura e da escrita". E fi­­naliza: "A tecnologia fará o Japão perder sua reputação de língua singularmente difícil? Possivelmente. Mas isso pode ser bom. O Japão, uma sociedade em envelhecimento, pode enfrentar um afluxo de imigração num futuro não muito distante. Uma linguagem mais acessível pode agilizar o processo de internacionalização do país".

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]