Em março, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou um limite de uso do rotativo: 30 dias. As novas regras entraram em vigor em abril.| Foto: Daniel CastellanoGazeta do Povo

Após seis meses das mudanças no rotativo do cartão de crédito e as sucessivas quedas na taxa básica de juros, a Selic, o brasileiro que precisou recorrer a esse dispositivo nos últimos tempos não desembolsou nem metade do que costumava desembolsar antes das novas regras.

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Levantamento feito pelo aplicativo de controle financeiro GuiaBolso mostra que com as novas regras o peso dos juros ficou 41% menor do que era antes.

Entre abril e setembro deste ano (com as mudanças no cartão), o valor pago em juros pelos 524 mil usuários da plataforma foi de R$ 30,38 por mês. Em comparação, no período imediatamente anterior às mudanças, entre outubro de 2016 e março de 2017, os consumidores gastaram R$ 51,67 em juros em média. 

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O rotativo é acionado quando o cliente paga qualquer valor entre o mínimo da fatura e o total. Em março, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou um limite de uso do rotativo: 30 dias. As novas regras entraram em vigor em abril.

Funciona assim: passados os 30 dias, o débito migra, automaticamente, para o crédito parcelado, e o cliente é obrigado a parcelar a dívida. O crédito parcelado também tem juros altos, mas bem menores do que o do rotativo, de 397,4% ao ano, segundo o Banco Central. O rotativo continua a mais cara linha de crédito. 

Selic ajudou, mas pode ajudar muito mais

A Selic, taxa básica de juros da economia e referência para investimentos e os juros do crédito, caiu 4,75 pontos porcentuais de janeiro a setembro deste ano. Essa queda poderia ter ajudado os juros a caírem mais, sobretudo após as mudanças, explica Mauricio Godoi, especialista em crédito e professor da Saint Paul Escola de Negócios.

Na prática, se a Selic saiu dos 14,25% ao ano, no ano passado, e tem previsão de chegar a 7% ao ano no fim de 2017, o custo do dinheiro entre os bancos cairá pela metade, mas a mesma proporção não está sendo repassada para os clientes. “Os juros dos investimentos vão caindo consideravelmente mas os juros do cartão não acompanham”, critica Godoi. 

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Ele explica que o descompasso ocorre principalmente por causa do risco de inadimplência, que na modalidade está em 39,2%, de acordo com o Banco Central. Por isso, mesmo com as novas regras do cartão de crédito, as condições para quem recorre a esse tipo de dívida continuam difíceis. 

O valor mensal pago no parcelado do cartão, modalidade para onde vai consumidor que fica por mais de 30 dias no rotativo, aumentou 3%, segundo o estudo do GuiaBolso. 

Antes das novas regras, os usuários gastavam, em média, R$ 388,42 mensais para pagar as dívidas do cartão de crédito. Com as mudanças, esse valor subiu para R$ 400,02.

“Se tiver com o nome limpo, é melhor recorrer ao crédito consignado ou ao crédito pessoal, que é ainda mais barato”, aconselha Godoi. 

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Novas regras também causaram migração para crédito mais barato

O gerente de Inteligência de Negócios, Thiago Meira Kaippert seguiu o recomendado pelo especialista. Em maio, quando voltou da lua de mel, ele tinha na mesma fatura as parcelas do casamento ocorrido em setembro do ano passado, os gastos da viagem e o investimento em uma pós-graduação. Para não cair na ciranda dos juros do rotativo e do parcelado, Kaippert resolveu partir logo para uma dívida mais barata, e contratou um empréstimo pessoal. 

Ao comparar taxas, ele e o marido, Leonardo Kaippert, chegaram a encontrar uma diferença de 50% entre as taxas oferecidas no mercado e a que eles contrataram na plataforma de crédito online Just. 

Passado o sufoco, ele ensina: “O maior problema foi parcelar a perder de vista. Melhor tentar pagar em menos vezes para as contas não caírem no cartão todas de uma vez”, diz.

Bruno Poljkan, diretor da startup de crédito Just, aconselha a contratar um empréstimo que não comprometa mais do que 20% da sua renda. Ele conta que mesmo com as novas regras, os empréstimos feitos para quitar dívidas mais caras representam 70% dos contratos.