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A Quilt, uma startup baseada em Los Angeles e fundada por Ashley Sumner e Gianna Wurzl, é diferente. As participantes, que são cerca de mil, trabalham nas casas umas das outras . | EMILY BERL/NYT
A Quilt, uma startup baseada em Los Angeles e fundada por Ashley Sumner e Gianna Wurzl, é diferente. As participantes, que são cerca de mil, trabalham nas casas umas das outras .| Foto: EMILY BERL/NYT

A maioria das mulheres assalariadas passa por alguma versão dessa rotina pré-expediente: planejar a roupa adequada (não muito chamativa, não muito sem graça), adicionar uma peça mais quente para se proteger de elementos do escritório (ar-condicionado central, um olhar de soslaio), talvez se blindar contra o “mansplaining” (ou pior).

“Às vezes só quero usar uma calça de moletom. Sim, pode ficar chocada”, disse Zipporah Burman, 27 anos, designer gráfica em Los Angeles.

O desejo de conforto, tanto físico quanto mental, tem feito surgir mais espaços de trabalho exclusivamente femininos – alguns altamente divulgados, como o Wing, e com grandes índices de associação.

A Quilt, uma startup baseada em Los Angeles e fundada por Ashley Sumner e Gianna Wurzl, é diferente. As participantes, que são cerca de mil, trabalham nas casas umas das outras em sessões de quatro horas e, em vez de salários anuais, recebem por sessão, geralmente ao redor US$ 20, dos quais 80% vão para a anfitriã (parte desse dinheiro pode ser gasto com lanches e bebidas).

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Ela tem a opção de pesquisar quem virá à sua casa antes de abrir a porta, mas Sumner disse que, até agora, todas optaram por confirmar as inscritas sem saber quem são. Convidadas e anfitriãs podem relatar a experiência, mas os comentários permanecem internos.

A empresa também organiza conversas de uma hora durante o café da manhã e sessões mais longas de “aprendizado”, à noite ou nos fins de semana, durante as quais mulheres especialistas em várias áreas expõem seus conhecimentos, quer seja levantar capital de investimento ou ler cartas de tarô, em suas próprias casas ou nas de amigas.

Como funciona

Como no Airbnb, as anfitriãs em potencial listam os espaços disponíveis no site da Quilt – unidades na Carolina do Sul, no Peru, em Toronto, em Barcelona e em Portland, Oregon, estão esperando aprovação – e especificam quantas pessoas podem acomodar. Elas também mencionam a eventual presença de animais de estimação ou de homens com quem dividem a casa, embora maridos e namorados muitas vezes saiam, ou se escondam, quando as quilters chegam, disseram as fundadoras.

Elas acreditam que as mulheres têm maior propensão a desenvolver conexões profissionais duradouras em uma casa particular em vez de um clube, um bar ou um espaço de trabalho maior.

“Não queremos um espaço feminista, kitsch, retrô, de revolta. Para nós, o lance não é o que é legal, não é o que está na moda. Tem a ver com mulheres que trabalham em seus próprios projetos, quer seja uma empresária, uma consultora ou uma escritora”, disse Sumner, 29 anos.

Wurzl, 32 anos, disse: “Os homens vão aos jogos de hóquei, jogam golfe, sei lá. Agora estamos fazendo outras coisas”.

Afinidades

As duas mulheres se conheceram há dois anos, quando Sumner supervisionava as associações da NeueHouse, um clube de coworking para homens e mulheres em Hollywood e Nova York, e Wurzl trabalhava para a One Roof, um local de encontro para mulheres com filiais em Venice, Califórnia, e Melbourne, na Austrália. Elas descobriram coisas em comum, como o ódio ao coentro, e em pouco tempo começaram a imaginar se, juntas, poderiam reunir mulheres criativas sem se comprometer com o setor imobiliário.

“Há uma oportunidade de descentralizar esse modelo onde há demanda e você corre o risco de criar algo legal”, disse Sumner.

Recentemente, Burman, a designer gráfica, estava em um apartamento no centro de Los Angeles com outras 11 mulheres, todas com seus laptops, algumas tomando o “chá cerebral”, infusão que leva ginkgo biloba.

Puno Lauren Puno, 33 anos, fundadora do mercado on-line I Love Creatives, era a anfitriã da sessão, sua primeira, e Sumner e Wurzl tinha chegado para se certificar de que as coisas estavam correndo bem.

Na cabeceira da mesa, Wurzl pediu que todas se apresentassem descrevendo um risco profissional pelo qual haviam passado recentemente.

“Acabei de sair do meu emprego”, disse Chloe Drimal, 26 anos, recebendo aplausos.

“Estou procurando uma vaga na indústria da maconha, que está repleta de riscos”, disse Puno.

Sumner pediu que o grupo pegasse Post-its e escrevesse “perguntas” e “tarefas”: posições que procuravam no mercado, feedback sobre um produto ou serviço, e coisas que queriam que fossem feitas durante a sessão.

“Se o projeto é de 10 minutos ou de 3 horas, você vai lá, apresenta e espera pela reação, e todas vão comemorar com você. É uma ótima maneira de ter um retorno”, disse Wurzl.

As duas desenvolveram essa estratégia depois de entrevistar dezenas de quilters em potencial. “Elas se preocupavam com a ideia de falar muito e trabalhar pouco”, disse Sumner.

Depois de alguns minutos de silêncio em que Puno contemplou tocar a música tema de “Jeopardy”, todas colaram suas notas na parede e as leram em voz alta. As tarefas variavam das fáceis até as sem fim, às vezes no mesmo Post-it (”escrever lista de tarefas, começar a riscar itens da lista de tarefas”). Elas se espalharam por todo o apartamento e o ambiente foi tomado pelo som da conversa educada e dos laptops.

“Eu costumava ir ao WeWork, e nunca conversava com ninguém. Além das bebidas grátis, que são contadas, não havia muitos benefícios reais”, disse Brianna Duran, 31, que trabalha em marketing.

Algumas horas depois que a sessão de trabalho terminou, Sumner e Wurzl seguiram para o centro de Los Angeles, para a casa da Christina Topacio, 30 anos, fundadora da Track, que ajuda mulheres que queiram iniciar uma empresa.

Sumner e Topacio destacavam os pontos importantes de uma sessão sobre investimento e vulnerabilidade, e não havia assentos suficientes para todas as quilters e a vasta rede de mulheres criativas trazidas por Topacio. Na porta, uma funcionária da Quilt instruía quem chegava sobre o cão animado que não parava de latir, além de descrever o estado atual de cada uma em um crachá: “surtando”, “feliz,” “otimista”, “inspirada”.

Kristel David, fundadora do site feminino Wife Complex, disse: “Adoro qualquer coisa que envolva mulheres reunidas”. Seu crachá: “ansiosa”.

Depois que todas as presentes respiraram fundo três vezes, Sumner e Topacio discutiram como aprender a ser líder, como pedir financiamento e como equilibrar o estoicismo corporativo e a emoção desenfreada. Sumner perguntou quantas pessoas tinham chorado naquela semana; todo mundo levantou a mão. “Ontem à noite, comi um monte de balas e pensei, ‘Oh meu Deus, não posso ser técnica de saúde!’”, disse uma mulher em um suéter cinza grosso.

Como Wurzl fez de manhã, Sumner convidou as participantes a descrever um risco profissional. Kathleen Mahoney, 57 anos, falou de quando deixou sua cidade natal e seu namorado, 29 anos atrás, saindo pelos EUA e começando um festival de música. “Eu não tinha a mínima ideia do que era um plano de negócios”, disse.

Agora que é investidora imobiliária, está considerando abrir um centro comunitário em Los Angeles, o que a fez testar o Quilt. “Tem essa vibração meio hippie, meio de raiz, que me lembra da minha infância. Não via isso há anos. Há algo realmente orgânico e natural que acontece às mulheres quando se reúnem em casa.”

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