Com a queda da taxa básica de juros (Selic), que contamina toda renda fixa, a tendência é de que mais gente procure o mercado de ações.| Foto: Rafael Matsunaga/Fotos Públicas

A euforia recente com a Bolsa de Valores, que voltou a subir no início deste mês após alguns tombos nas semanas anteriores, tem atraído a atenção de muitos brasileiros que ainda não se aventuram no terreno do mercado de capitais. Apenas neste ano, o índice Ibovespa, que é a média das ações mais negociadas na bolsa, subiu quase 27% – um salto e tanto comparado com a poupança e outras opções de renda fixa, como CDBs e fundos, cujas valorizações, em geral, dificilmente passaram dos 7% no mesmo período.

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E, com a queda da taxa básica de juros (Selic), que contamina toda renda fixa, a tendência é de que mais gente procure o mercado de ações.

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“Apesar da alta recente, para entrar nesse mundo, é preciso estar consciente que existem altos riscos e também buscar sempre conhecimento sobre a economia e as empresas com ações negociadas na bolsa”, alerta Reinaldo Domingos, educador financeiro do canal Dinheiro à Vista, no YouTube.

Crescimento abrupto, mas queda também

Assim como sobe abruptamente, a bolsa também pode desabar - e, para isso, basta um agravamento na crise política, dados ruins sobre a economia e uma inversão de expectativa quanto ao lucro de grandes empresas. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2008, quando a Bolsa engrenou uma sequência de altas e, dois anos depois, com o agravamento da crise econômica, desabou até os patamares de 2016, ano em que voltou a subir.

Mas quem está ciente dos riscos e decide negociar na bolsa também pode encontrar boas possibilidades de lucro. Ações de grandes empresas, como Vale, Petrobras, Itaú e Ambev, tendem a se valorizar no longo prazo, conforme analistas financeiros, trazendo chance de ganho para os investidores. Economistas sugerem aos novatos aplicarem não mais do que 15% ou 20% das suas poupanças na Bolsa, deixando o restante em opções mais seguras.

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Para começar a investir, deve-se procurar uma corretora ou um banco de investimentos (os grandes bancos brasileiros têm um “braço” de corretora que ajuda o cliente a investir) cadastrados na B3 (novo nome da Bovespa), informação simples de encontrar no site da Bolsa.

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Depois de fazer o cadastro e abrir uma conta na corretora, o investidor poderá começar a pegar uma parte de seu dinheiro e comprar e vender ações. O investidor pode fazer isso a partir de seu próprio computador ou investindo por intermédio de um fundo, administrado por gestores especializados em mercado de capitais - essa alternativa costuma ser mais segura para quem não domina informações sobre investimentos.

Consultores financeiros apontam que a ideia de lucro fácil e rápido, como muitos podem estar cultivando neste momento, costuma ser ilusão. Isso porque quem desfruta dos “saltos” na bolsa é justamente quem já estava nela anteriormente, passou por momentos de vacas magras e, agora, começa a ver suas ações subirem. Quem começar a aplicar agora não tem garantia alguma de que a alta continuará.

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“É necessário ter em mente que o mercado de ações é lucrativo, porém, é preciso ter paciência, estar preparado para as oscilações que sempre ocorrem no mercado e saber a hora certa de vender e comprar as ações”, afirma o consultor financeiro André Bona.

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Um guia para começar investir na bolsa

O que são ações

Ações correspondem a uma pequena fatia de uma empresa que tenha capital aberto. Quem tem muitas ações pode até participar do conselho da empresa e opinar nas decisões. As maiores companhias brasileiras, como Petrobras, Vale, Itaú, Ambev e Gerdau, têm ações disponíveis para negociar. O valor muda conforme a oferta e a procura por esses títulos – se uma empresa desperta muito interesse, as ações sobem e vice-versa. É possível vendê-las quando quiser pela B3 (antiga Bovespa) – desde que haja quem queira comprar, é claro –,com os preços de mercado daquele momento.

Para que servem

O objetivo de quem aplica em ações é sempre vender o título por um valor mais alto do que comprou, embolsando o lucro (o famoso chavão “entrar na baixa e sair na alta”). Além de vender e até alugar, quem tem posse desses papéis tem direito a receber uma fatia dos lucros da companhia proporcional à sua participação. Entre os tipos de ações, há as preferenciais (PN), com as quais o investidor tem preferência no pagamento da parcela do lucro, e as ordinárias (ON), que dão direito de voto ao acionista, mas têm menor peso na hora da distribuição dos lucros.

Como investir

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O primeiro passo é criar um cadastro em uma corretora de valores ou banco de investimento. Por meio desse cadastro, o investidor negocia as ações, seja por conta própria pela internet (em sistemas chamados Home Broker), seja pelos fundos de ações oferecidos pela corretora. A forma mais indicada para começar são justamente os fundos ou clubes de investimentos, que facilitam bastante a vida do investidor, já que é um especialista que escolherá quais ações comprar e vender. Mas, nesses casos, é cobrada uma taxa de administração anual, que costuma variar de 0,5% a 3% do valor aplicado. Confira as corretoras e os bancos cadastrados na Bolsa em bit.ly/bolsacorretoras.

Quais as vantagens

Uma vantagem é a chance de conseguir rendimentos mais altos do que a renda fixa (títulos do tesouro, CDBs, fundos, poupança etc.). Também há um papel cidadão importante: o de direcionar dinheiro para empresas brasileiras que poderão usá-lo para financiar, investir, crescer e gerar emprego.

E os riscos?

Se permite um rendimento maior, a renda variável também deixa o investidor mais sujeito a perdas, especialmente caso precise vender as ações em momento de baixa. Portanto, é preciso ter consciência de que o mercado financeiro pode mudar a qualquer momento. O principal risco é de as ações caírem após serem compradas, e o investidor precisar vendê-las para usar o dinheiro para alguma eventualidade. Há também o risco de liquidez: de precisar vender e não haver interessados em comprar, então, ter de baixar tanto o preço que a perda será muito expressiva.

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Como montar uma boa “carteira”

Economistas sugerem reunir ações de empresas de diferentes segmentos, para evitar que uma crise em determinado setor arruíne toda a aplicação. E, dentro dos setores, procurar empresas com melhores estratégias e fundamentos de gestão para crescer e lucrar no longo prazo. Algumas que têm se destacado são Usiminas, Eletrobras e Estácio: apenas em agosto, valorizaram-se 33,27%, 30,52% e 26,52%, respectivamente. Embora indique rentabilidade passada, essa alta não garante rentabilidade futura – regra básica das ações.

Quais os custos?

Há custos de corretagem para cada operação realizada, que variam de corretora para corretora, taxa de custódia e taxa de emolumentos. Além disso, há incidência de Imposto de Renda (IR): uma pequena parte (0,005%) é retida na fonte e o restante (14,995%), sobre os ganhos líquidos na venda ou liquidação da ação, que deve ser recolhido mensalmente pelo investidor. Quem vende até R$ 20 mil por mês no mercado à vista está isento do IR. Os fundos cobrem Taxa de Administração.

Para quem é indicado?

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As ações são interessantes para quem tem bom conhecimento sobre economia,ou seja, acompanha agências de notícias especializadas e relatórios sobre a economia, os preços das commodities e o mundo corporativo.Indica-se para quem busca rendimento no longo prazo (a partir de 10 anos), um período em que a chance das ações valorizarem é mais alta em razão da perspectiva de crescimento da economia e das empresas negociadas.Há quem aplique buscando lucro rápido, mas os riscos também crescem.

É preciso ser rico para aplicar na bolsa?

Não, pois é possível usar quantias bem pequenas comprando apenas uma ação. Porém, não é muito aconselhável investir pouco, principalmente por causa das taxas que costumam ser cobradas por bancos e corretoras. Uma opção para diluir os custos é investir em ações por meio dos fundos de investimentos. Nesses espaços, as taxas são divididas entre todos os participantes.

A hora é agora?

Se você está pensando em investir na Bolsa porque acompanha a recente euforia, saiba que muita gente tem os mesmos planos. Analistas financeiros alertam que este é um movimento esperado, e o risco mais comum é o de “chegar no fim de festa”, ou seja, começar a investir justamente quando a Bolsa já subiu o que tinha de subir e, dali por diante, se estabiliza ou cai. Nesse tipo de caso, o erro seguinte é o investidor se assustar e sair na baixa, perdendo parte do que aplicou. Portanto, entrar na Bolsa não deve ser uma forma de surfar na moda, mas sim uma aplicação que vise ao longo prazo.

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