Tem sido possível financiar 100% de projetos de infraestrutura sem nenhum centavo do BNDES.| Foto: Bigstock

Depois de anos dependendo quase que exclusivamente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as empresas começam a buscar novas alternativas para financiar seus projetos de infraestrutura, sem subsídio estatal. Com a queda da taxa de juros, a inflação controlada e a nova política do banco de fomento, as captações no mercado de capitais têm conseguido competir em igualdade com as modalidades públicas, algo inimaginável há dois anos.

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Nesse ambiente, já tem sido possível financiar 100% de projetos de infraestrutura sem nenhum centavo do BNDES. No mês passado, por exemplo, o fundo de investimento Pátria levantou R$ 1 bilhão no mercado para bancar as obras de uma concessão rodoviária arrematada em 2017. A Alupar, empresa de energia elétrica, analisa algumas modalidades de captação privada para financiar projetos de transmissão, que vão somar investimentos de R$ 5 bilhões em quatro anos e meio.

Esse movimento tem ocorrido tanto pela queda da taxa Selic, hoje em 6,75% ao ano, como pela adoção da Taxa de Longo Prazo (TLP), que substituiu a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) nos contratos do BNDES. Sem o subsídio do Tesouro Nacional, que perdurou durante décadas nos juros cobrados pelo banco estatal, a taxa hoje está em torno 7,3% — o que dá competitividade nas demais modalidades do mercado. Na outra ponta, estão investidores de títulos públicos que antes eram remunerados a 14% ao ano e agora precisam buscar alternativas para melhorar a rentabilidade de suas aplicações.

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“De um lado temos fundos e investidores institucionais querendo tomar crédito de longo prazo. Do outro, uma indústria de capitais com uma dinâmica melhor”, afirma o diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), José Eduardo Laloni. Nesse ambiente, as debêntures viraram uma das grandes apostas das empresas para levantar recursos.

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Esses papéis já começaram a atrair investidor estrangeiro e devem ganhar atenção dos fundos de pensão, que têm mais de R$ 1 trilhão em títulos públicos, para cumprir as metas atuariais, diz o presidente do Banco Fator, Gabriel Galípolo. No primeiro trimestre deste ano, houve um aumento de 75% no volume de debêntures emitidas no País. O setor de infraestrutura foi responsável 45% das emissões.

“A queda dos juros abre espaço para uma série de ferramentas, que estamos estudando para financiar os projetos dos próximos cinco anos”, diz o diretor financeiro da Alupar, Marcelo Costa. “O importante é que agora não há uma solução única. Podemos ter uma parte de capital e outra de financiamento.”
Além das debêntures, bonds (títulos no exterior) e empréstimos de órgãos multilaterais, como Banco Mundial, e agências de crédito à exportação (Ecas) devem ganhar espaço no mercado, afirma Edson Ogawa, responsável pela área de project finance do Santander. Segundo ele, até 2017, 80% dos volumes financiados em infraestrutura eram do BNDES, que assumia o risco da operação.

Os bancos comerciais atuavam como repassadores do banco de fomento e financiadores dos chamados “pontes” — empréstimo de médio e curto prazo que cobre o período até a concessão do crédito de longo prazo. A expectativa é que o apetite por essa modalidade aumente daqui para frente, prevê o responsável pela área de project finance do Itaú BBA, Marcelo Girão. Ele vê o banco mais ativo nos últimos meses, sobretudo em energia elétrica. “Embora não seja papel dos bancos ser financiador de projetos de longo prazo, as instituições privadas estão assumindo o risco de capital na estruturação de debêntures de infraestrutura”, disse.

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Outra forma de os bancos atuarem será como investidor, comprando debêntures. “As perspectivas para o ano de 2018 são de maior participação dos bancos privados em projetos de infraestrutura, diante de um estoque de projetos de geração e transmissão de energia e novos projetos de logística (aeroportos, rodovias e mobilidade urbana) que foram licitados em 2017-2018 e que demandarão soluções de financiamento de curto e longo prazos”, afirma Rui Gomes da Silva Junior, responsável pela área de project finance do banco de investimento do Bradesco, o Bradesco BBI.

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Juliane Yung, responsável por “corporate banking” no Banco MUFG Brasil (antigo Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ) afirma que o espaço deixado pelo BNDES é uma questão aberta. O MUGF analisa a possibilidade de trabalhar no país  com “project bonds”, espécie de título de crédito para grandes obras de infraestrutura com vencimento entre 20 e 30 anos.

Os executivos, porém, fazem questão de destacar que o BNDES continuará sendo uma das principais fontes de financiamento do país. Só que agora terá companhia de peso em prazos e custos. A diretora do banco de fomento Marilene Ramos concorda: “Continuaremos sendo o principal financiador de infraestrutura, mas não seremos os únicos”. Segundo ela, além de financiador, o banco também incentiva múltiplos instrumentos para financiar o mercado.

A instituição criou um fundo de investimento que vai comprar debêntures de energia renovável. A captação foi de R$ 500 milhões, sendo que o banco se compromete a adquirir 50% das cotas do fundo. Outros fundos estão nos planos do banco.

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Publicado por Vida Financeira e Emprego em Segunda, 30 de abril de 2018