A crise econômica já altera a rotina da maior parte das famílias brasileiras. O impacto no cotidiano é maior do que o sentido na turbulência financeira global de 2009. Agora, mais da metade da população (57%) já mudou hábitos de consumo para se proteger do cenário, que deteriora-se a cada dia. E quase a metade dos brasileiros (48%) já faz bicos ou até tem um segundo emprego para complementar a renda. Para ajustar o orçamento, há quem trocou de moradia ou tirou os filhos da escola particular, de acordo com um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado nesta quarta-feira.
Segundo a entidade, na crise internacional, apenas 30% das pessoas ajustaram hábitos de consumo. Atualmente, além de o percentual ser quase o dobro, outros 21% dos entrevistados disseram que querem mudar a rotina para gastar menos. As mulheres alteraram mais seus hábitos de consumo (61%) do que os homens (53%).
De acordo com a pesquisa da CNI, 90% das pessoas passaram a pesquisar mais os preços, 77% mudaram os locais de consumo, 72% trocaram produtos por similares mais baratos, 63% adiaram grandes compras e 74% reduziram as despesas da casa.
Para manter o padrão de vida, a saída é buscar trabalho extra: coisa que agora ocorre com mais frequência. Quase metade da população procura aumentar a renda de alguma forma, enquanto em setembro de 2013, o percentual era de 25%. Entre as famílias mais pobres, com renda até um salário mínimo, um segundo trabalho é realidade para 58%. Já para as que ganham mais que cinco salários, o índice é de 36%.
Em 40% das casas, pessoas que não trabalhavam procuraram ocupação para ajudar a família. E 24% das pessoas voltaram a estudar para driblar o desemprego.
Para 86% dos mais de 2 mil entrevistados em 141 municípios, o Brasil vive uma crise econômica e 66% consideram a situação ruim ou péssima. Mais da metade das pessoas (59%) tem consciência que perdeu poder de compra nos últimos 12 meses. E para reduzir custos, os brasileiros chegaram até a mudar de residência (16%) e trocar os filhos de escola privada para escola pública nos últimos 12 meses (13%).
O pessimismo em relação à situação econômica do país aumenta porque o desemprego atinge conhecidos e, principalmente, parentes.Dos entrevistados, 44% disseram que alguém da família foi demitido nos últimos 12 meses. E 76% estão preocupados ou muito preocupados em ficar sem emprego ou ter que fechar o negócio.
Ao todo, 37% afirmaram que se endividaram para pagar despesas pessoais e 48% consideram difícil ou muito difícil pagar seus empréstimos e financiamentos com sua renda atual.
“Mais da metade (53%) se endividou sem planejamento. Do total, 60% disseram ter passado por dificuldade para pagar as contas ou compras a crédito. A dificuldade para pagar aluguel ou prestação da casa própria, por exemplo, passou de 19%, em 2012, para 29%, em 2015. Um em cada cinco venderam bens para pagar dívidas”, diz o comunicado da CNI.
Para o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, a crise de 2008/2009 afetou particularmente a indústria, mas o consumo ainda estava em crescimento e ajudou na recuperação.
“Já a crise atual atinge toda a economia e vem afetando o emprego e a renda da população bem mais significativamente. Tanto o investimento como o consumo das famílias estão diminuindo. Além disso, a crise política, que não existia na crise anterior, tem aumentado a incerteza com relação à recuperação”, disse o economista em comunicado divulgado pela entidade.
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