Crises políticas não são caminhos certos para o abismo econômico. Quando existe uma combinação de fundamentos bem estruturados e de certa previsibilidade nas decisões no universo financeiro, é possível que um país isole problemas institucionais de outras atividades. Isso ocorreu em diversas nações parlamentaristas da Europa. Um caso clássico é a Itália do fim dos anos 60 e início da década de 70. Entre 1966 e 1974, os italianos viram 11 gabinetes serem empossados . No mesmo período, a economia cresceu acima de 5% ao ano.
Na quela época, o mundo capitalista vivia os últimos momentos do boom de crescimento ocorrido após a Segunda Guerra Mundial. O Brasil tem uma vantagem parecida. O ritmo, claro, não é o mesmo, mas a expansão de países como Estados Unidos, China, Coréia e de alguns vizinhos da América Latina não é desprezível. Esse fato faz com que as previsões sobre as contas externas brasileiras sejam otimistas.
"Na última crise, em 2002, o déficit externo era alto. Neste ano a situação se inverteu. Está sobrando dólar no mercado", analisa Fernando Sampaio, sócio-diretor da LCA Consultores. Há outros fatores que deixam o mercado cambial frio: o comprometimento do governo com a atual política econômica, que desemboca em juros altos, e o atual perfil da dívida, com parcela menor corrigida pelo dólar.
A sensação no mercado financeiro é que ainda não ficou clara a rota que será tomada pelo Brasil se a de crescimento com crise política leve, ou de retração econômica com o governo paralisado por denúncias. As duas vertentes influenciarão as apostas para as eleições de 2006. "Quem trabalha no mercado financeiro tenta antecipar as coisas", diz Cláudio Monteiro, da Fator. É nessa hora que o nervosismo pode tomar conta do mundo das finanças.
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