Empresários dizem que demanda se acomodou
Para o empresário Fernando Capoani, proprietário das lojas Capoani, a fatia do mercado de luxo que mais sofreu o impacto da crise econômica foi justamente a dos produtos mais "acessíveis". "As pessoas não deixaram de investir nos ternos mais caros, por exemplo. Estão apostando em qualidade, com a garantia de que vão usar mais e por mais tempo."
Capoani diz que o resultado do último Natal foi bastante impactado pela crise financeira com uma queda de cerca de 15% no faturamento em relação a dezembro do ano anterior , mas garante que a curva já retomou o rumo de crescimento. "O reflexo foi muito forte principalmente nas camadas mais altas, com maior nível de informação. Com receio, o consumidor preferiu não gastar", diz. "Mas em fevereiro e março a grande maioria percebeu que o salário não foi afetado e aí sobrou dinheiro na conta e as pessoas voltaram a consumir."
Carros
O diretor de marketing e qualidade da rede de concessionárias de veículos Euro Import, Pedro Prosdócimo Neto, diz que a turbulência na economia mundial fez com que o mercado se acomodasse. "A pseudo-crise trouxe uma certa acomodação. Mas chamo de pseudo porque, até agora, não entramos em crise. O negócio continua girando satisfatoriamente."
A turbulência não mudou os planos do grupo, que revende as marcas BMW, Volvo e Land Rover. Em dezembro foi concluída uma nova área de funilaria e pintura da concessionária BMW, que recebeu investimentos de cerca de R$ 1,5 milhão. E nesta semana começa a funcionar a nova aposta da rede: uma concessionária da marca inglesa Mini (da BMW). O investimento total no projeto, diz Prosdócimo, foi de cerca de R$ 1,8 milhão. O modelo Mini mais barato chegará ao mercado brasileiro por R$ 99 mil e, segundo a montadora, é o primeiro carro pequeno de luxo do mercado. (CS)
Nem mesmo o mercado de luxo que caminhava a passos largos tem passado ileso à crise global. Dos carros mais caros aos pequenos acessórios, o setor como um todo já começa a sentir os efeitos da turbulência econômica, e deve ver seu ritmo de crescimento ser freado ao longo deste ano. Um movimento mundial, que também será sentido no Brasil com a diferença que aqui ele tende a conter também uma dose de oportunidade.
"Mesmo se a crise não envolver efetivamente problemas no poder de compra, envolve desconforto emocional. E esse segmento está muito relacionado a decisões emocionais de consumo", diz o consultor Carlos Ferreirinha, especialista no mercado de luxo. "No Brasil, não será um ano de desespero. Mas não existe como passar incólume."
Ao longo dos últimos anos, o setor vinha crescendo, em média, 17% ao ano no país, segundo o levantamento do programa Gestão em Luxo da Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap). Antes do início da crise, a expectativa para 2008 era um incremento de até 22% os números da Faap ainda não foram anunciados, mas se espera algo em torno de 13%. "Para 2009, crescer entre 6% e 8% será um absoluto sucesso. É metade do ano passado, mas é preciso pensar que é um crescimento muito acima do PIB brasileiro", diz o consultor.
Mundo
Para o mercado mundial de bens de luxo, a consultoria Bain&Company estima um ano de recessão em seu estudo Luxury Goods Worldwide Market Share, divulgado no fim do ano passado. Se confirmado o declínio de 7% previsto para as vendas, será a primeira recessão do segmento em seis anos. As previsões do banco JP Morgan e da consultoria Eurostaf apontam para a mesma direção: uma retração de 4%.
Nos dois casos, a perspectiva de queda é atribuída principalmente à diminuição da demanda nos países mais ricos. Os chamados mercados "maduros" representam 80% das vendas mundiais de artigos de luxo, segundo o estudo da Bain&Company a Europa sozinha responde por 38% do mercado. E mesmo que haja algum crescimento nos países emergentes, teme-se que ele não seja suficiente para compensar estas perdas e manter o nível positivo.
Posição estratégia
No mundo todo e o Brasil não é exceção , foram os grandes centros que começaram a sentir primeiro os impactos das turbulências internacionais. Internamente, diz Ferreirinha, é no eixo Rio-São Paulo que o mercado já sente a freada.
E aí é que pode surgir a oportunidade. "Com os grandes centros se fragilizando, o Brasil passa a ser uma alternativa, uma estratégia importante", diz. "O raciocínio é o mesmo internamente. As marcas já entenderam que há um outro país a explorar, além das fronteiras de São Paulo, e que não é possível depender exclusivamente de um grande mercado."
Na mesma linha, o estudo da Bain&Company estima que Brasil, Rússia, China e Índia, como mercados emergentes, terão os maiores aumentos nos negócios relacionados ao consumo de luxo nos próximos cinco anos.
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