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Inclusão esbarra na falta de conhecimento da lei, falta de estrutura das empresas e no preconceito de quem oferta as vagas | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Inclusão esbarra na falta de conhecimento da lei, falta de estrutura das empresas e no preconceito de quem oferta as vagas| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

No país do pleno emprego, cerca de um terço dos municípios não têm nenhum deficiente empregado no mercado formal. Apesar da lei de cotas nas empresas privadas e da reserva de vagas em concursos no serviço público, chega a 1.751 (31,5%) o número de municípios onde os deficientes estão, na prática, excluídos do emprego de qualidade. A conclusão faz parte do Sistema de Indicadores Municipais de Trabalho Decente, ampla base de dados reunida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que leva em conta a Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2012.

E não é por falta de procura. Nesses municípios, havia à época 61,5 mil pessoas com deficiência severa que estavam à procura de emprego. Em 72% dessas cidades, a administração pública respondia por mais da metade do emprego formal como principal empregadora. Não chegava a 1% a parcela de pessoas com deficiência ocupadas no total do mercado formal.

O desconhecimento ainda é o pior problema dos empregadores, atesta quem tenta facilitar a relação entre empresas e trabalhadores com necessidades especiais. Segundo Teresa Costa D'Amaral, superintendente do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), para muitas empresas o trabalhador com necessidades especiais ainda não é visto por seu potencial, e sim como um fardo.

"Algumas empresas chegam até nós e dizem não entender por que não conseguem contratar pessoas com deficiência. Acham que será muito custoso fazer as adaptações e não querem gastar com softwares ou rampas", afirma Teresa.

Perfil

O perfil mais procurado pelas empresas privadas entre as pessoas com deficiência é o de pessoal com nível médio, conhecimento em informática e perfil administrativo. Segundo Teresa, a preferência é por limitações que sejam pouco visíveis e impliquem pouca ou nenhuma alteração no ambiente de trabalho. Das 232 vagas oferecidas pelas empresas privadas intermediadas pelo IBDD no ano passado, 77% eram para auxiliar ou assistente administrativo, com exigência de ensino médio e informática. Apenas duas pessoas surdas e uma cega foram contratadas, e somente 2,5% das vagas eram destinadas a pessoas com nível superior completo ou incompleto.

"Isso acaba significando que muitos profissionais com ensino superior aceitam trabalhar em cargos cuja exigência é de nível médio apenas, exercendo funções que muitas vezes estão aquém do seu potencial, por falta de oportunidade melhor. São advogados ou jornalistas formados, que dificilmente conseguem atuar em sua área", explica Teresa, do IBDD.

A exclusão de pessoas com deficiência começa cedo. Entre as crianças de 6 a 14 anos com deficiência motora severa (que não conseguem andar ou subir degraus), a proporção das que não frequentavam escola chegava a 31,4% em 2010. Dez anos antes, era ainda maior: 56,1%, segundo dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, em 2014.

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