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Luiz Felipe Pinheiro pesquisa para escolher a melhor aplicação, de olho na aposentadoria | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Luiz Felipe Pinheiro pesquisa para escolher a melhor aplicação, de olho na aposentadoria| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo
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Aprendendo a poupar

Brunno Covello/Gazeta do Povo

Assim como a grande maioria dos brasileiros, o personal trainer Alexsander Augusto de Mello (foto), 27 anos, nunca recebeu educação financeira nem estímulo para guardar dinheiro. "Mas eu via meu pai poupando e queria copiá-lo. Só que demorei a adquirir o hábito. É algo que a gente só faz depois que perde um pouco da ignorância", conta. Ele começou a guardar dinheiro em 2013, quando poupou o equivalente a 40% de sua renda anual. Neste ano, guardou quase isso. A meta para 2015 é um pouco mais suave: algo entre 20% e 25%. "Quero poupar, mas também não quero deixar de viver", explica Mello, que investe seu dinheiro em ações e títulos do Tesouro. A meta do personal trainer é ter uma vida tranquila. "Não quero depender de juros de banco, ter que pegar dinheiro emprestado. Ter dinheiro suficiente na aposentadoria será uma consequência, não preciso nem ficar pensando nela."

Futuro

Só 12% dos poupadores pensam na aposentadoria

O futuro distante não está no horizonte de grande parte dos paranaenses que costumam poupar. Segundo o levantamento da Paraná Pesquisas, apenas 12% dos poupadores estão guardando dinheiro com vistas à aposentadoria. O objetivo mais comum, citado por 40,3%, é usar as economias para comprar algo no futuro. Cerca de 27% disseram que ainda não têm planos.

Questionados sobre como esperam compor a renda na aposentadoria, 43,6% dos jovens e adultos afirmam contar com a Previdência Social, um sistema com déficit anual de R$ 50 bilhões e cujos benefícios ficam proporcionalmente mais baixos a cada ano. O teto das aposentadorias e pensões do INSS, que há dez anos equivalia a dez salários mínimos, baixou para seis. Algumas projeções indicam que, em pouco mais de 20 anos, o maior benefício será de três salários mínimos – o equivalente, hoje, a menos de R$ 2,2 mil.

41,4% dos paranaenses têm algum tipo de dívida, segundo a Paraná Pesquisas. Destes, 40% estão pagando prestação do carro ou da casa. O segundo item mais citado é o cartão de crédito (32,7%), que cobra juros de 246% ao ano, em média – o que significa que, em 12 meses, uma dívida de R$ 1 mil se transforma em R$ 3.460.

Pouco mais da metade dos paranaenses tem o costume de guardar uma parte de sua renda e, entre os que economizam, a grande maioria aplica o dinheiro na caderneta de poupança, opção de investimento mais conservadora do mercado. Além disso, poucos estão pensando na aposentadoria – mesmo quem poupa pensa em gastar suas aplicações no curto ou médio prazo.

INFOGRÁFICO: Levantamento mostra que cerca de 40% dos paranaenses têm algum tipo de dívida

As constatações são de um levantamento encomendado pela Gazeta do Povo ao Instituto Paraná Pesquisas, que ouviu 1.530 pessoas em 62 municípios do estado entre o fim de novembro e o início de dezembro.

Conforme a pesquisa, 55,8% dos paranaenses com mais de 16 anos conseguem poupar dinheiro. Destes, 72,4% disseram aplicar suas economias na caderneta, 12,9% afirmaram investir em imóveis e 5,3%, em fundos de investimento. As demais alternativas de investimento foram citadas por 3% ou menos dos entrevistados.

"O porcentual dos que aplicam em poupança é muito alto, talvez porque ainda exista a percepção de que ela é a única modalidade segura, o que não é verdade", diz Mehanna Mehanna, sócio da Toro Investimentos. "A preferência por imóveis é outro reflexo do conservadorismo das pessoas. O que é curioso, porque imóvel não tem liquidez [não permite o "resgate" imediato do dinheiro] e, a rigor, é uma aplicação de renda variável."

Informação

O fato de muita gente não conseguir poupar dinheiro – caso de 43,9% dos paranaenses, segundo a Paraná Pesquisas – e de tantos poupadores preferirem opções de baixo rendimento é sintoma de falta de informação e educação financeira, dizem especialistas. Três quartos dos entrevistados não souberam responder, nem aproximadamente, qual o nível da taxa básica de juros (Selic), referência para boa parte dos financiamentos e aplicações. E dois de cada três desconhecem a rentabilidade da poupança.

"As novas gerações tendem a mudar um pouco esse quadro. Hoje mesmo atendi dois jovens, estagiários, que nos procuraram para investir em títulos públicos, do Tesouro Direto", disse Mehanna na tarde em que conversou com a Gazeta do Povo.

Formado em Administração, Luis Felipe dos Santos Pinheiro, 23 anos, faz parte da minoria que busca informação. Começou a poupar ainda na adolescência, para comprar o primeiro carro, o que conseguiu aos 18 anos. O objetivo, hoje, é de prazo mais longo: "Quero me aposentar o mais cedo possível e viver de renda", diz.

Pinheiro aplicava na caderneta até que, há dois anos, começou a pesquisar outras opções. Passou a investir em títulos do Tesouro, ações e até debêntures (títulos de dívida privados). Ele costuma guardar 30% da renda quando está trabalhando. Hoje, desempregado, vai estudando. Adepto da análise técnica, que orienta aplicações na bolsa conforme o comportamento dos gráficos, Pinheiro está aprendendo a fazer análise fundamentalista, que tem como base a situação da empresa e do mercado em que atua.

Dicas

O advogado e estudante de Medicina Lucas Khun, 29 anos, diz que a renda fixa é ótima opção em país com juros tão altos quanto o Brasil, mas que no futuro isso pode mudar. Para ele, lugar de jovem é na Bolsa: é lá que estão quase 50% de suas aplicações. A principal dica que ele dá a futuros investidores é fugir dos bancos: "Tem que procurar gente especializada, casas independentes. Gerente de banco tem metas a bater, e oferece investimentos bons para o banco, mas não necessariamente para o cliente".

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