Governo diz que "problemas já estão sendo superados"
O Ministério da Fazenda afirmou ontem, por meio de comunicado, que os problemas que levaram a Moodys a colocar a nota de risco do Brasil em perspectiva negativa "estão sendo superados" no segundo semestre. Segundo o ministério, a decisão "reflete fatores conjunturais" que afetaram o crescimento da economia do país no primeiro semestre.
O comunicado atribui à demora na recuperação internacional, à falta de chuvas desse ano e a menor quantidade de dias úteis (em função da Copa do Mundo) como motivos de um crescimento "menor do que o esperado". Segundo a nota do ministério, o Brasil é uma economia "sólida" e já iniciou, neste segundo semestre, "uma trajetória de gradual recuperação que terá continuidade ao longo do ano que vem".
A presidente Dilma Rousseff não quis comentar a decisão da Moodys, mas afirmou que o país "tem todas as condições para se desenvolver e não é instável macroeconomicamente". Questionada por três vezes sobre a agência, ela não quis se posicionar.
Folhapress
A agência de classificação de risco americana Moody's anunciou ontem que colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa. Antes, a perspectiva era estável. Atualmente, o país tem grau de investimento nota dada a países considerados seguros de se investir na agência, com a nota Baa2. Abaixo dessa nota, ainda há um nível antes do chamado grau especulativo.
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Na Moody's, uma nota em perspectiva negativa significa que o país pode ser rebaixado em um prazo de 12 a 18 meses. Em abril deste ano, porém, a agência havia informado que uma revisão da nota da dívida do país era "pouco provável".
Segundo a Moody's, "a mudança reflete o risco crescente de que a manutenção de baixo crescimento e a piora nas métricas sobre a dívida do país indicam redução na capacidade de pagamento do Brasil, o que desencadearia queda na classificação de crédito". Para a Moody's, o "desafio fiscal" que a situação econômica impõe "impede melhora nos indicadores da dívida".
Entre os principais motivadores da mudança, segundo a agência, está a "redução contínua da crescimento econômico do Brasil, que dá poucos sinais de voltar a seu potencial no curto prazo".
Ao mesmo tempo, a Moody's manteve a classificação de risco dos títulos soberanos brasileiros em Baa2, por causa da "resiliência do país a choques financeiros externos" e da pouca exposição das finanças do país a mudanças globais do apetite por risco.
Para analistas do mercado financeiro, os problemas com a política fiscal e a inflação em alta pesaram na decisão da agência. "Nos últimos quatro anos, todas as variáveis acompanhadas pela agência, como a dívida líquida, a inflação e o crescimento, pioraram muito. O governo também é muito criticado pela chamada 'contabilidade criativa', que mascara as contas públicas e representa risco significativo para a dúvida pública. Olhando tudo isso, o cenário é muito ruim", avaliou Rogério Freitas, sócio da Teórica Investimentos, uma gestora de recursos.
Outro gestor, que preferiu não ser identificado, disse que o principal motivo para a deterioração da situação fiscal do Brasil foi o fato de o governo atual "ter abandonado o tripé", em referência à combinação de meta de inflação, câmbio flutuante e poupança para pagar juros da dívida. "O governo tem que voltar a mirar uma inflação de 4,5%, não de 6,5%, no teto da meta, como tem feito", criticou.
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