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"O amor é a gasolina da vida: custa caro, acaba rápido e pode ser substituído pelo álcool." A frase do blogueiro Paulo Velho ganhou o mundo, mas seu nome não foi citado em lugar nenhum. Escrita num tweet pela primeira vez em 2010, a piada ganhou novos donos, foi parar em um programa de rádio, virou comunidade no Orkut e até frase do personagem de Charlie Sheen na série Two and a Half Men, através de um aplicativo no Facebook.

"Foi um misto de surpresa com orgulho", conta Paulo Velho. "Primeiro o orgulho de descobrir que alguém realmente lia o que eu escrevia. Depois a surpresa de descobrir que alguém ainda se atrevia a repetir as minhas piadas. É muita coragem."

Piada tem dono? Na internet, fica ainda mais difícil reconhecer a autoria. Os blogueiros reclamam que a prática mais comum é a de assumir para si a autoria e omitir o crédito de quem teve a ideia original. É o famoso ato de "kibar", prática que já entrou até no dicionário informal.

"A ideia não é protegida pelo direito autoral. Ele protege a forma de expressão", diz Sérgio Branco, da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. "E o problema é que a piada está muito em cima da ideia", diz. Mas há uma ética própria no humor. "Se eu for a um show de um humorista, ouço as piadas e me aproprio delas, isso é contestável. Mas e se são associadas com o senso comum? Para valer, o direito autoral tem de ser original."

O paradoxo da piada é que, na internet, uma frase vira piada. Uma montagem vira piada. A facilidade de compartilhar esse tipo de conteúdo faz com que muitas pessoas coloquem marcas d’água em imagens, numa tentativa de prender a autoria de uma piada. O problema é que muitas vezes as imagens nem são exatamente dos blogs em questão.

"Na internet, as pessoas deturpam a autoria", diz o professor. É o mesmo que acontece com os textos atribuídos à Clarice Lispector: uma "violação de direito autoral ao contrário". "O reaproveitamento de piadas sempre foi comum, e só agora tem essa discussão de autoria na internet."

Um dos sites de humor mais conhecidos no mundo é especialista nisso. O 9gag é um repositório de imagens que são compartilhadas incessantemente na web. Quem ganha o crédito é o site, que coloca nelas a sua marca d’agua. Em entrevista recente à reportagem, Ray Chan, dono do site, saiu pela tangente: disse que o 9gag é uma plataforma para compartilhar coisas divertidas. "A marca d’água é uma forma de rastrear o post até o site, onde há o link para a fonte original", disse. "Recebemos e-mails de criadores de conteúdo nos agradecendo por dar mais audiência aos sites deles", disse Chan, que participa do Festival YouPix nesta semana em São Paulo.

No Brasil, o responsável indireto pela expressão "kibar" foi Antonio Tabet, o criador do site de humor Kibe Loco, que não respondeu ao pedido de entrevista. Frequentemente criticado por não dar crédito nem links, ele ganhou vários inimigos e inspirou em 2007 a criação do manifesto ‘Usura Não’, capitaneado pelo blog de humor Treta.

"Tem muita gente ainda presa a ideais obsoletos. Não entendem que você pode dizer que a sua brilhante obra prima é derivada de uma ideia do ‘Blog do Fulano’. Ninguém vai achar ruim se você for sincero. Qualquer forma de referenciar a origem do conteúdo somente tem a agregar valor ao post e ao blog que o publicou", diz Ivo Neumann, responsável pelo Treta.

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