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Dominique Strauss-Kahn mandou ontem um recado explícito às nações emergentes: apliquem parte de seu dinheiro no FMI e peçam ajuda quando necessário | BulentKilic/AFP
Dominique Strauss-Kahn mandou ontem um recado explícito às nações emergentes: apliquem parte de seu dinheiro no FMI e peçam ajuda quando necessário| Foto: BulentKilic/AFP

Juros Mantega volta a criticar analistas

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que "alguns analistas" estão examinando a questão fiscal de "forma equivocada, com intenções espúrias, querendo elevar a taxa de juros quando isso não é necessário". Mantega se referia às críticas de que a política fiscal do governo estaria criando riscos inflacionários. Segundo relato da Folha de S Paulo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, teria dito ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que pode ser necessário elevar os juros antes do início do ano que vem. "Nossa política fiscal não causa inflação nem no presente, nem no futuro", rebateu Mantega, que está em Istambul para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse cenário, é provável que o presidente Lula tenha de arbitrar a nova crise entre a Fazenda e o BC para uniformizar o discurso

  • Estudantes turcos fazem protesto anti-FMI: Istambul é sede da reunião anual do Fundo, que passa por renovação

Istambul - A Turquia poderá ser o berço de um novo Fundo Monetário Internacional (FMI), segundo o seu diretor-gerente, Dominique Strauss-Kahn. A reunião anual, desta vez programada para Istambul, deve consagrar uma atividade mais voltada para a promoção do equilíbrio global, um objetivo fixado pelo Grupo dos 20 (G-20), em Pittsburgh, no fim de setembro.

Para cumprir esse novo papel, a equipe do Fundo começa mandando um recado aos emergentes: em vez de acumular grandes volumes de dólares, confiem no FMI e procurem ajuda em caso de problemas. O governo chinês é obviamente o principal destinatário da mensagem A China tem reservas equivalentes a cerca de US$ 2 trilhões e vem acumulando, ano após ano, um superávit enorme no comércio com os Estados Unidos e com a maior parte dos países desenvolvidos.

BC internacional

Mas a recomendação vale também para outros emergentes da Ásia e da América Latina, incluído o Brasil, hoje com cerca de US$ 220 bilhões em caixa. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarou-se disposto a apoiar a ideia se algumas condições forem observadas. O FMI terá de ser de fato uma espécie de banco central internacional, com recursos facilmente acessíveis, sem complicações burocráticas e sem negociação de condições para atender aos sócios em caso de necessidade.

Seria preciso estabelecer previamente a qualificação dos países autorizados a obter esse tipo de financiamento. A instituição dispõe das informações coletadas por seus técnicos, periodicamente, nas visitas aos países membros. A resposta de Mantega é essencialmente correta. Sem essas condições, não vale a pena o governo brasileiro renunciar à acumulação de reservas.

O volume de moeda estrangeira em poder dos bancos centrais foi um importante fator de segurança para o Brasil e para outros países sul-americanos durante a crise. Esse fato foi reconhecido pelo FMI e mencionado no Panorama Econômico Mundial de outubro, divulgado por seu Departamento de Pesquisa Econômica na quinta-feira.

Além disso, comentando a acumulação de reservas pelos países da Ásia, dirigentes da instituição mencionaram explicitamente a preocupação com segurança, na região, depois da crise de 1997. Quando se leva em conta apenas a teoria dos livros e se deixam de lado os fatos do mundo imperfeito, é mais fácil aceitar a proposta do FMI. Acumular reservas envolve custos. E não há por que juntar um monte de moedas fortes, a começar pelo dólar, quando se pode recorrer a um fundo financeiro comum, orientado para funcionar como emprestador de última instância bem provido de recursos.

Um pequeno déficit na conta corrente do balanço de pagamentos também pode ser vantajoso para um pais em desenvolvimento. O financiamento recebido como contrapartida reforça a poupança disponível para investimento produtivo. Com isso o crescimento econômico se acelera. Na prática, esse esquema tem funcionado em muitas ocasiões e o Brasil dele se beneficiou em alguns períodos. Mas ninguém pode apontar com segurança o limite aceitável para o déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. Também não é fácil impedir a ampliação desse déficit em certas circunstâncias.

Mais flexível

O recurso ao FMI nem sempre tem proporcionado soluções confortáveis, embora acabe sendo inevitável na maior parte dos casos. Mas o Fundo já começou a mudar. México, Polônia e Colômbia estrearam a linha de financiamento flexível criada recentemente e reservada a países com reputação de seriedade fiscal (o Brasil adquiriu essa imagem há poucos anos). O acesso é fácil e os governos não têm a obrigação de cumprir metas negociadas. Também houve mudanças na administração de outras linhas de crédito. Ainda é necessário negociar e os governos se comprometem a atingir certas metas.

Mas os programas e critérios são mais flexíveis e mais adaptáveis às condições de cada país. Os 15 programas postos em prática desde outubro do ano passado para alguns emergentes têm essas características e, na maior parte, parecem ter produzido resultados apreciáveis. Mas a transformação apenas começou e, por enquanto, melhor é confiar em um bom volume de reservas.

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