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Nicholas Negroponte, do MIT: máquinas estão presentes em 31 países | Divulgação/MIT
Nicholas Negroponte, do MIT: máquinas estão presentes em 31 países| Foto: Divulgação/MIT
  • O XO-1: a partir de abril, em versão dual-boot

Não é muito difícil pensar em ideias grandiosas que poderiam mudar o mundo, mas poucas pessoas têm a ousadia de colocá-las em prática – e o sucesso chega para um número menor ainda.

O arquiteto, professor e cientista americano Nicholas Negroponte fez do projeto One Laptop Per Child (Um Laptop por Criança, ou OLPC) a sua tentativa. Ele, que é fundador e presidente emérito do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, acredita estar na estreita faixa dos bem-sucedidos. Suas máquinas estão em uso em 31 países, em 19 idiomas diferentes. Há ainda 250 mil prestes a ser entregues e outros 380 mil em vias de produção. "Somando todos, temos cerca de 1,2 milhão de laptops. É menos do que eu esperava, mas não deixa de ser gratificante", diz.

Negroponte esperava vender milhares de computadores aos líderes mundiais, obtendo um enorme volume de produção para garantir baixíssimo custo. Os grandes contratos, todavia, não se materializaram. Quando a produção do laptop XO foi iniciada, no final de 2007, o preço unitário era de "salgados"US$ 188 – caro demais para quem vendia o conceito do "notebook de US$ 100".

O projeto recebeu vários golpes. Pessoas-chave como a diretora de tecnologia do OLPC, Mary Lou Jepsen, e o gerente de software, Walter Bender, o deixaram para tocar iniciativas próprias na mesma área. Hoje, o projeto OLPC funciona com apenas 32 pessoas, metade da equipe original, e mesmo esses aceitaram uma redução de salários para manter o emprego.

Windows para as massas

A situação pode melhorar quando o começar a produzir aparelhos com o Microsoft Windows XP, o que deve ocorrer em abril. A medida vem irritando alguns apoiadores do projeto na comunidade open-source, mas Negroponte vê a manobra como a remoção do último obstáculo enfrentado pelo laptop: muitos países não comprariam laptops sem o programa da Microsoft.

Ele acredita que a medida abrirá portas em países onde os gestores da área de educação forem usuários de Windows. "Esse tipo de usuário pode crer que um software baseado em Linux é algo tão fora da realidade que poderia comprometer o futuro das crianças", opina. "Eles perdem o argumento se o equipamento pode rodar os dois."

O executivo está entusiasmado com a versão dual-boot. "Não consigo imaginar alguém dizendo ‘não, eu não quero o laptop que rode as duas plataformas’, o que me leva a crer que o dual-boot vai ser o padrão." A novidade, claro, não sai de graça. Há uma sobretaxa de US$ 3 para cada criança para que a máquina tenha Windows, mas isso deve ser formalizado num acordo entre o Estado que adquire o notebook e a Microsoft. Até agora, ninguém aderiu ao sistema.

Vindo de um grupo que começou 100% independente e rodando apenas programas abertos, o dual-boot pode ser visto como um retrocesso, mas Negroponte não vê assim. "Só os fundamentalistas do Linux acham isso", diz. "Eles estão sendo tolos, não conseguem perceber que esta é a melhor forma de colocar a plataforma num uso mais amplo." Para ele, o próprio Linux é o pior inimigo dos fundamentalistas. "Um software muito ramificado, com muitas distribuições diferentes e complexo demais para a maioria das pessoas. Se eu fosse Bill Gates, não conseguiria fazer um plano melhor."

Nova meta: US$ 75

Os planos de Negroponte não se esgotaram com o XO-1. O novo projeto consiste de um dispositivo de 75 dólares, o XO-2, com tela dual-screen que pode ser segurado como um livro. O usuário também poderá virar uma das telas e utilizá-la como teclado. "A primeira geração do projeto é um laptop que pode ser utilizado como livro. A segunda será um livro que pode ser um laptop", define.

O desenvolvimento da nova máquina será diferente. A ideia é fazer dele um produto de hardware com código aberto. "O XO-1 foi desenvolvido como se fôssemos a Apple", diz Negroponte, referindo-se à estratégia da empresa de Steve Jobs, de manter sistemas proprietários e não licenciar a produção de seu hardware. "O XO-2 será desenvolvido como se fôssemos o Google."

Na visão de Negroponte, o XO-2 precisa ser copiado por outras empresas. E ele tem seus atrativos: o professor acredita que ele tem a aparência de um produto que os consumidores ocidentais comprariam para ler e-books, por exemplo. Grandes empresas de computadores poderiam produzi-lo sem pagar royalties à OLPC. "Não vejo por que um projeto que teve como início o propósito de ajudar crianças nos países em desenvolvimento não poderia também acabar ajudando crianças em países desenvolvidos", observa.

O XO-2 resultou do aprendizado com os resultados obtidos com o XO-1. Negroponte disse que acreditava que os e-books eram o argumento mais fraco para o OLPC. "Acabei descobrindo que, para a maioria das pessoas, os livros falavam mais alto. Um vilarejo pode, de uma hora para outra, ter 10 mil livros, o que representa mais do que teria uma biblioteca escolar comum."

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